Capítulo 1

491 31 7
                                    

Em um beach club de Ibiza, Cristina contemplava a imensidão do mar sob o céu aberto, onde o sol forte de verão reluzia. A brisa completava o cenário, bagunçando seus fios de cabelo recém-platinados que batiam na altura do queixo. Aquela sensação, a de se sentir livre e viva, era incrível.

— Continua nessa posição, Cris.

Antes que pudesse olhar para trás, Cristina ouviu um clique que explicou o que estava acontecendo por si só.

— Essa foto ficou incrível. — Carla se acomodou entre as almofadas, ao seu lado, olhando para a tela da câmera fotográfica. — Posso postar no meu Instagram profissional?

— Vou começar a cobrar pelos meus direitos de imagem.

— Sou sua fotógrafa particular e não cobro nada por isso. Você devia me agradecer.

— Também não precisa jogar na minha cara, né? — Cristina rebateu, fazendo-a rir.

Suas atenções foram desviadas para as duas mulheres que se aproximavam, cada uma com dois drinques de cores vibrantes em mãos.

— Arranjamos uma festa para ir mais tarde — Valeria disse, entregando o copo de conteúdo alaranjado para Cristina. — Um carinha que estava ali no bar pediu para tirar uma selfie comigo e já aproveitou para nos convidar.

— O combinado não era curtir as férias sem carinhas?

— Como se você não tivesse sido a primeira a quebrar a regra!

— E eu já expliquei que foi impossível resistir àquele sotaque. — Cristina bebericou o drinque, escondendo um sorriso que despontou em seu rosto ao se lembrar do dominicano que conhecera em uma boate, na primeira noite da viagem.

O assunto não demorou a mudar completamente, assim como sempre acontecia quando as quatro se juntavam. A calmaria e a beleza do lugar apenas favoreciam ainda mais o desenrolar descontraído da conversa.

Depois de um ano tão intenso, alguns dias tranquilos como aquele eram tudo o que Cristina estava precisando. Se sentia tão bem, distante do mundo real, que quase começava a pensar que não seria nenhum sacrifício abandonar suas jaquetas para vestir nada além de biquínis, e passar o resto de seus dias vagando pelas praias de Ibiza.

— Cris, acho que é o seu celular que está tocando — Valeria falou, indicando os aparelhos que estavam sobre uma mesinha, entre protetores solares, hidratantes e outros pertences delas.

Cristina pegou o celular que vibrava insistentemente, mostrando um número desconhecido na tela. Pensou em recusar a ligação, mas não resistiu à curiosidade. No último segundo, a direção em que seu dedo ia se alterou.

— Alô — falou ao levar o aparelho ao ouvido.

Cristina Gutiérrez? — disse uma voz masculina do outro lado da linha.

— Sim, sou eu.

Aqui quem fala é Jorge Garrido, vice-presidente do Comitê Técnico de Árbitros.

Imersas em um novo assunto que fora colocado para jogo, Valeria, Carla e Lara não perceberam quando os olhos de Cristina se arregalaram em surpresa.

— Só um minuto, por favor. — Ela se pôs de pé e se afastou para ter aquela conversa, que soava como importante, longe do falatório. — Pronto. Em que posso ajudá-lo, Sr. Garrido?

Jorge Garrido começou falando sobre as listas de árbitros e assistentes de cada divisão, que seriam publicadas no site do Comitê na tarde do dia seguinte. Apesar de estar em dia com os testes físicos e todas as suas outras obrigações como árbitra da segunda divisão, a primeira coisa que passou pela cabeça de Cristina foi que ele estava ligando para comunicar que ela seria rebaixada para a terceira. Foi por muito pouco que não se arrependeu de ter sido rigorosa ao ponto de acabar a temporada como a árbitra espanhola que mais mostrara cartões vermelhos.

Regra CincoWhere stories live. Discover now