Capítulo 6

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— Eu quero a repetição desse lance.

A mando de Cristina, o operador de imagem imediatamente se pôs a gerar o melhor ângulo da disputa de bola entre o meio-campista do Barcelona e o lateral esquerdo do Zaragoza.

Com o consentimento do árbitro, o jogo continuou. Cristina revezava o olhar entre os dois monitores que estavam em sua frente atentamente. O de cima mostrava o Barcelona partindo para o ataque, se beneficiando de que a defesa do time visitante estava completamente aberta. Sem outra alternativa, o goleiro do Zaragoza tentou desarmar o adversário, mas acabou por derrubá-lo na grande área.

— Rojas, me escuta — Cristina falou ao apertar o botão que abria sua comunicação com o árbitro principal da partida. — Espera um pouco que estou verificando uma possível falta do Roca em cima do Benito.

Quando a repetição da jogada anterior apareceu no monitor de baixo, ela se concentrou em rever o contato entre os dois jogadores algumas vezes.

— Esquece. Ele já expulsou o goleiro — Marc Aguilera, que ocupava a cadeira de assistente de árbitro de vídeo à sua esquerda, avisou.

¡Joder! — Cristina xingou e voltou a pressionar o botão verde. — Rojas, sugiro que você reveja o lance anterior antes de autorizar a cobrança do pênalti.

— Não foi falta, Gutiérrez — Alberto Rojas respondeu, fazendo-a respirar fundo.

— Estou te avisando. É melhor rever o lance.

Ela cruzou os braços e se recostou na cadeira, enquanto assistia ao desenrolar da confusão pelo monitor superior.

Alberto se afastou dos jogadores e desenhou, no ar, o retângulo com que os árbitros anunciavam a revisão do lance no monitor localizado na beira do campo. Depois de uma análise rápida, sem se comunicar novamente com a sala da arbitragem de vídeo, ele assoprou o apito, apontando na direção em que Roca, ao disputar a bola com Benito, havia cometido a falta identificada por Cristina.

— Isso vai dar uma polêmica e tanto. — Marc riu levemente quando os jogadores do Barcelona, indignados com a revogação do pênalti favorável a eles e da expulsão do goleiro do Zaragoza, cercaram Alberto Rojas.

— Estou apenas fazendo meu trabalho — foi tudo o que Cristina disse antes de voltar sua atenção completamente para o reinício da partida.

Em poucos minutos, o confronto foi encerrado com um empate por um a um que colocava o Barcelona dois pontos atrás do Madrid, fazendo o time perder a liderança que vinha sendo compartilhada com o clube da capital espanhola desde a primeira rodada do campeonato.

Ao sair no corredor do Estádio de Les Corts, Cristina pôde ouvir a torcida se manifestando contra a arbitragem. Sentiu o olhar de Marc sobre si, mas não o retribuiu até os dois estarem a sós no vestiário.

— O Rojas ficou puto com a sua interferência, né? — Marc comentou aos sussurros, olhando na direção da porta. — Nem falou mais com a gente até o final do jogo.

— Eu já não tinha gostado da maneira como fui tratada na primeira vez que fui VAR dele. Se esperava que eu abaixasse a cabeça, sinto muito.

— Tenho que te parabenizar. Você é a primeira pessoa que vejo enfrentá-lo.

— Só por que é o árbitro mais antigo da primeira divisão? Eu respeito muito a experiência do Rojas, mas também tenho condição de tomar decisões importantes. Sou, inclusive, uma dos poucos árbitros FIFA desse país.

Marc abriu a boca para respondê-la, mas a fechou no mesmo instante em que a maçaneta da porta foi forçada.

— Você quer me foder, Gutiérrez? — Alberto Rojas ralhou ao adentrar o vestiário seguido pelos árbitros assistentes. — Era melhor ignorar aquela falta do que anular uma expulsão. Agora, vou ter que aturar todo mundo metendo o pau em mim.

Regra CincoWhere stories live. Discover now