Capítulo Um - Meu nome é Dog

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Cinco Anos Antes

Você "acidentalmente" perde um pendrive no metrô e seu vírus ridículo vai parar no Congresso Nacional. Passando despercebido de computador para computador, ela, Dixie Flatline navega. Com os olhos verdes danificados por pixels, unhas azuis curtas que atacam um teclado sem vê-lo, ela gasta outra noite em claro. Dorme durante o dia e reina durante a noite. Vigia cada pasta e cada terminal de computador com o cuidado de passar também pelas pastas dos pornôs. Você se engasgaria com o número de deputados e senadores que gostam de ver meninas bem novinhas sem roupa.

Computadores vasculhados, tomou o sistema de segurança. Deu um gole em sua Coca-Cola e quase se engasgou. No meio da Plenária um senador assiste, sem medo de ser flagrado, a um vídeo brutal de espancamento.

Examinou o histórico de seu navegador de internet, e lá estava um endereço da livestream. Câmera vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, ligada a uma internet violenta que transmite em Full-HD. O espancamento era ao vivo. Um quarto de princesa, rosa e renda, de estilo vitoriano, e uma jaula no meio do quarto.

Ali. Quantos anos tinha essa moça? Os cabelos tão compridos como se nunca os tivesse cortado.

Para quem cai na estrada aos treze para escapar, a moça da livestream era um conflito pessoal, coisa que fala consigo, lá dentro onde Dixie Flatline tem nome de mulher.

Não costuma se compadecer com as coisas que encontra nos computadores dos outros. Não se envolve quando seus amigos de internet se queimam entre si, não os salva quando vão para a cadeia.

Mas ver uma moça, mulher já, presa e apanhando como um cachorro...

A princípio, achou que fosse encenação, mas não entendia como a transmissão ao vivo se encaixava na história.

Conectada vinte e quatro horas com a cena do cárcere, entendeu que a única visita era o mesmo homem velho que lhe aplicava as surras, chegava com água e comida em potes de sorvete e se divertia, rindo, ao vê-la comer e beber como um cachorro.

As conexões da transmissão ao vivo aumentaram numa quinta-feira, todas sempre muito obscuras, com desvios em Hong Kong e nas Ilhas Maldivas, quando ela saía do quarto e ia a um segundo cômodo televisionado, um porão de teto baixo e uma goteira que não cessa: Quatro, cinco, seis homens e ela ali. Nua?

E sem qualquer arma para se defender.

A primeira vez no mês que Dixie Flatline viu o porquê das transmissões, teve de buscar um balde. A mesma mulher que apanhava calada dentro do quarto, fora dele, era uma máquina de matar. Quantas mais vítimas, mais sangue. Era essa a diversão. Boa parte da plenária, entre discussões sérias sobre acesso à educação e saneamento básico, paravam seus discursos para apostar dinheiro numa rinha de galo humana.

E depois, a vítima, cansada das batalhas, parcialmente viva e completamente suja, ela voltava para seu quarto, desviava da jaula onde era seu real dormitório, e então se deitava na cama, nunca pronta para a segunda parte de seu trabalho forçado.

Trabalho que Dixie Flatline fugiu para nunca mais ter que fazer.

Das vezes que a vítima saía do quarto, nunca soube para onde ia. Cruzou informações com jornais e as datas para tentar descobrir. Nas quartas, ela abandonava o que provavelmente chamava de lar e voltava, horas depois, direto para a gaiola sem nunca se deitar na cama.

Dixie delimitou o alvo pelo inimigo. Da primeira vez que a observou sair do cativeiro, o jornal televisivo anunciou a morte de um político de oposição horas depois.

Esperou pela segunda coincidência e então observou quais partidos perdiam seus políticos importantes, quais personalidades influentes desapareciam sem dar maiores notícias e em quais situações. Supunha que, além de galo de briga e escrava sexual, ela ainda fizesse alguns trabalhos sujos fora do cativeiro, assassinando quem fosse perigoso para o partido. Tinha um escândalo estourando no Congresso, muita gente envolvida e a mídia tradicional não falava noutra coisa.

Inimigo Público - Qvia Nominor LeoWhere stories live. Discover now