Zodíaco - O Signo Perdido

UM

Lucca Ventura nasceu uma celebridade.

As suas desventuras em série começaram antes mesmo dela vir ao mundo, quando resolveu se aconchegar durante cerca de 12 meses no ventre da mãe, para então nascer como se nada tivesse acontecido – e, durante toda a gestação, a mídia sensacionalista montou acampamento na chácara da família Ventura, com medo de perderem o nascimento da "menina elefante", como ela foi carinhosamente apelidada.

Os médicos não tinham a menor ideia do porquê a garota se recusava a nascer, e Helena também se recusava a fazer uma cesariana. Primeiro um acontecimento local, o caso então foi parar em programas de grande vinculação nacional, e a Sra. Ventura não podia colocar o nariz para fora de casa sem receber um tsunami de gritos de "Helena, ela já nasceu?"

Finalmente, a bolsa da mulher estourou às duas da manhã do dia 21 de março de 2005, e a família correu para o hospital, deixando apenas o velho Tonico para trás. Ao chegarem, Helena suava inteira, e a pedra carmesim ao redor do pescoço brilhava como a própria superfície do Sol. A Sra. Ventura foi colocada em uma cadeira de rodas e, acompanhada do pai e do marido, foi para a sala de cirurgia.

O parto correu incrivelmente bem, e Helena quase não sentiu dores; às cinco e cinquenta e cinco da madrugada, nasceu a pequena Lucca Ventura, e, do outro lado do hospital, uma área inteira da enfermaria pegou fogo.

José Moreira guardou as manchetes dos jornais locais daquele fatídico dia. "Menina-elefante nasce e hospital pega fogo!" E os peritos não souberam dizer quando, onde, como e nem porque o fogo começou, transformando a vida da pequena bebê mais mística e misteriosa ainda. Apesar dos 12 meses na barriga da mãe, Lucca nasceu pequena e chorosa, mas os seus incríveis olhos castanho-avermelhados previam um futuro ardente.

Depois que a garota se provou saudável e a mídia encontrou outra história bizarra para contar, a vida da família Ventura voltou ao normal, no limite de como essa palavra conseguia se encaixar na vida de Lucca. Fernando Ventura foi transferido para São Paulo e a família vendeu a propriedade em Minas Gerais, mudando-se toda para um pequeno apartamento no centro da cidade e afastando todo e qualquer resquício da fama.

Porém, quanto mais Lucca crescia, mais a sua vida parecia ser um imenso ímã para a confusão. Em míseros 14 anos de vida, ela havia sido expulsa de 6 escolas diferentes e detida três vezes pela polícia. No começo, a garota-problema ainda tentava provar que nenhum daqueles fatos curiosos e perigosos que inexplicavelmente aconteciam com ela haviam de fato sido causados por ela, mas, depois de muitas segundas chances e novos acontecimentos irresponsáveis, os pais, familiares, amigos e professores passaram a não mais acreditar em sua palavra, a Lucca reivindicou para si a fama de rebelde e a incorporou a sua personalidade.

As coisas só pioraram quando o seu irmão nasceu, já que ele provou ser tudo aquilo que gostariam que Lucca fosse: melhores notas, melhor comportamento, melhores modos e, consequentemente, um significativo melhor tratamento; Lucca só tinha José Moreira como o seu fiel escudeiro... O avô acreditava nela e dizia que ela era especial. Para uma garota constantemente desacreditada, aquelas palavras eram incrivelmente reconfortantes, e o avô Zeca era o seu melhor amigo.

Lucca era uma adolescente em formação, o corpo mudando e os olhares que recebia também. Diferente dos pais e do irmão, morenos e de olhos bem azuis, ela havia nascido com os fios espessos e acobreados, além dos famosos olhos castanho-avermelhados. Ela não era tão alta quanto gostaria de ser, mas também não se enquadrava no time das baixinhas. Aliás, tirando a cor dos olhos, Lucca Ventura não poderia ser mais comum.

Apesar disso, tudo o que ela tinha de ordinário na aparência, compensava na personalidade. Lucca era uma garota intensa; gostava de tomar banhos escaldantes, mesmo no verão, e tinha sempre os pés e as mãos quentes. Na realidade, tudo em sua vida tinha de estar pegando fogo – comida, bebida, banho, quarto e atitudes. Com a boca rápida, ela tinha sempre uma resposta atravessada na ponta de língua e parecia estar constantemente envolvida em alguma peripécia fora da lei.