Capítulo 1

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Tempo presente

Já fazia um bom tempo que estava parada ali, olhando para a água infiltrando-se lentamente e manchando o carpete que em algum momento, em seus primeiros momentos de inauguração e glória, deve ter sido na cor azul claro. Provavelmente pela ação do tempo, somado ao conjunto de ter recebido inúmeros visitantes descuidados, as fibras passaram a ter uma tonalidade mais próxima ao pastel, um azul bebê sem graça. Desde que cheguei, percebi que essa era uma consequência de uma tragédia anunciada, o que fazia me perguntar se, em nenhum momento de concepção de um conjunto de edifícios como esse, o responsável por criar aqueles cômodos não havia considerado o tempo instável de Yorkshire Dales.

Acreditar que os hóspedes não trariam seus calçados ensopados com a chuva, se não for uma completa burrice por parte do proprietário, ao menos era ingenuidade. Ah, que piada. E o que eu sabia do ramo de hotelaria, afinal de contas?

Levando-se em conta os últimos tempos, eu sabia de pouquíssima coisa, para falar a verdade. Quando decidi interromper o ciclo e relação nada saudável de Megan x Trabalho ou Trabalho x Megan (não importava qual dos dois era a ordem correta, mas era algo tão constante que explicava por si só a redundância), dando-me uma folga nesses últimos dias, como uma espécie de resolução de ano novo, me pareceu uma ideia tão boa que eu até nomeei a minha nova rotina de "casa, trabalho, Megan" para algo como "Megan, que se fodam todos".

Quando você está próximo de fazer trinta anos – o que dizem ser o ano da virada –, você começa a repensar toda a sua vida, ou pelo menos todos os seus propósitos e o que fez até então, que está de acordo com eles. Uma espinhosa e complexa experiência de reflexão, para descobrir que na verdade, muito pouco do que você tem feito tem a ver com os planos que traçou para si mesmo aos vinte, por exemplo.

Não que eu me lembre exatamente quais foram meus inocentes e utópicos sonhos da juventude, mas sei que era algo bem diferente da vida mergulhada em trabalho onde estava hoje. Muito dificilmente a Megan de vinte anos se envolveria tanto com os problemas do trabalho, pelo menos não ao ponto do que era considerado emocionante fosse algumas intrigas no escritório e ser apenas isso o que compunha o quadro de problemas da vida, o qual todo mundo tem.

Parece uma coisa tremendamente clichê para se dizer, mas é a verdade: o tempo realmente passa depressa. Tão rápido, que eu simplesmente não consigo explicar ou ao menos entender como isso, esta construção de pessoa que sou hoje – tão distante da Megan de vinte anos –, começou. Ou ao menos identificar, em qual ponto dessa curta linha do tempo, a Megan mais jovem parou de existir.

Talvez fosse mais difícil para pessoas como eu, que nunca tiveram planos tão concretos como casar e ter formado uma família até os trinta, ou já estar estabilizado no emprego e tendo uma boa casa e outras coisas nesse estilo. Entendia a importância de ter projetos a longo prazo tinha para a maioria das pessoas, mas isso nunca fez muita diferença para mim.

Quando parei o curso desenfreado de sempre estar correndo contra o tempo, para tentar recordar o que a Megan de dez anos atrás queria, foi que eu notei que eu simplesmente não me lembrava mais. Essa foi a minha chamada de despertar.

Estar perto de fazer trinta anos é uma coisa muito louca, porque é como deparar-se com uma encruzilhada:

Adeus, juventude. Olá, vida adulta.

É quando você finalmente assimila que não dá mais para fingir que ainda é um adolescente, alguém sem responsabilidades, onde a ideia de voltar correndo para debaixo dos braços da mãe é uma opção ainda aceitável, caso tudo dê errado. O sinal concreto de que todos estão envelhecendo e que a vida é algo extremamente efêmero.

Coincidence [COMPLETO]Where stories live. Discover now