Capítulo 2

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Enquanto estiver lendo a cena da tempestade, sugiro ouvir o som do link: https://rainymood.com/ (:

Virei-me então para dar uma olhada no interior do casebre pela primeira vez, agora podendo entender melhor o propósito de ainda estar intacto. Apesar da aparência antiga, interiormente estava consideravelmente conservado. Havia uma mesa pequena e simples e duas cadeiras de madeira, uma prateleira vazia e uma estante pequena, além dos suportes para pendurar casacos. Modesto, mas surpreendentemente mais confortável do que imaginava.

— Nada mal — pude ouvi-lo dizer, também observando o interior. — E temos onde sentar, para conversar.

Ele sentou-se em uma das cadeiras e fez um gesto com o braço, numa espécie de convite para acompanhá-lo.

— Ah sim, se tivéssemos chá, seria perfeito — não pude evitar o sarcasmo, enquanto caminhava até a mesa e me acomodava na cadeira. — Uma típica e ordinária reunião britânica.

Meu comentário pareceu diverti-lo e não pude evitar o leve choque em vê-lo tão de perto pela primeira vez.

Que ele era lindíssimo era óbvio, podia se ver de longe, mas de perto o impacto era muito maior, principalmente pela intensidade que havia naqueles olhos e como eles pareciam de certa forma astutos. Era algo totalmente inesperado, para dizer o mínimo.

E que voz! Uma característica ainda mais marcante que qualquer outra, em uma pessoa. Com certeza, cabia muito bem para ele, um timbre forte e muito agradável. Agradável até demais.

— Posso começar perguntando o que fazia, quando foi interrompida pela chuva? — felizmente, consegui prestar atenção na pergunta e me fez voltar a atenção para o que estava fora de minha mente, no momento. Ele ainda sorria e mantinha a cabeça pendida levemente para um lado, como se realmente estivesse interessado.

— Você quer dizer, esse prenúncio de fim de mundo? — não pude evitar dizer, afinal fazia muito tempo que não via um temporal assim. — Eu estava apenas caminhando e conhecendo melhor o lugar, nada demais. E você?

— Eu pretendia sair para uma corrida, mas acho a paisagem tão pitoresca que acabei caminhando para apreciar melhor toda a vista — nós dois então olhamos para a chuva, que ainda caía impiedosa.

Ainda mal dava para se ver algo lá fora, além dos arredores do casebre, mas a enorme mancha verde que o horizonte se tornara no momento era um bom lembrete do que ele queria dizer.

— É realmente muito bonito, mesmo para quem já esteja acostumado com o campo — concordei. — Quase não me arrependo de ter tirado férias, por conta disso.

— Por que alguém se arrependeria de tirar férias? — ele questionou, voltando seu olhar para mim, parecendo genuinamente intrigado.

— Hmmm, workaholic? — levantei a mão, como se estivesse dizendo que estava presente no local, como às vezes respondemos a chamada de professores em aula. — Com certeza é a resposta óbvia.

— Realmente, não há muitas opções além dessa — seu corpo estava virado para a janela, então ele se voltou para a mesa e pousou os braços sobre ela, numa típica posição relaxada. — E o que você faz, para essa paisagem esplêndida quase perder?

— Fiz parecer que é algo importante como salvar ou mudar vidas, não é? — soltei uma leve risada, porque realmente era absurdo eu me arrepender de estar descansando. — Mas não, é só o costume de levar o trabalho muito a sério. Sério demais. Fico o dia inteiro em um escritório, trabalhando com gestão de projetos. E você?

Não pude evitar fazer essa piada. Se é que posso chamar de piada, né?

Ele levantou o olhar e sua expressão dizia que realmente considerou que eu talvez não o tivesse reconhecido, até que reparou em meu sorriso zombeteiro.

Coincidence [COMPLETO]Where stories live. Discover now