Capítulo 1

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Glasgow, 2019

Olivia

O trabalho me transformou em uma mulher mais prática, independente e, arriscaria dizer, durona também. Em Toronto, vivia debruçada sobre meus casos, praticamente dia e noite. O universo da investigação era fascinante para mim, desde muito nova. Quando finalmente, consegui a posição que queria no trabalho, agarrei a oportunidade com unhas e dentes.

Não estava acreditando que teria um mês só para mim, depois de trabalhar cinco anos como investigadora, sem conseguir tirar férias. Quis usar esse tempo para fazer um tour etílico sozinha pela Europa, esperando que meu fígado aguentasse aquela aventura. Depois de duas semanas conhecendo algumas cidades na Itália e Alemanha, terminaria minha viagem passando por Escócia e Inglaterra.

Tinha me dado por satisfeita com as diferentes cervejas alemãs e vinhos italianos, quando por sugestão do recepcionista do hostel, considerei experimentar o tão falado uísque escocês. Gosto de experimentar comidas e bebidas dos lugares que visito e achei que valeria a pena a experiência, mesmo que eu não tivesse profundo entendimento no assunto.

Visitar museus e lugares históricos também estava nos meus planos e, ao longo da viagem, foram marcados na minha lista de lugares para conhecer.

Estar sozinha me dava praticidade de pular dentro de um jeans e ajeitar rapidamente o cabelo, sem ter que esperar por minhas amigas, o que acontecia em todas as nossas saídas de final de semana. Revirei minha mala bagunçada à procura de um cachecol quentinho e vesti a jaqueta, ficando pronta para curtir aquela noite fria na minha própria companhia.

Cheguei à destilaria em Glasgow um pouco mais cedo, na tentativa de conseguir vaga no único horário de degustação disponível. Alguns visitantes já estavam no balcão do bar iniciando suas atividades nas bebidas, antes mesmo da aula começar.

Um guia gentilmente me conduziu à última mesa vazia, que ficava localizada ao fundo. A área privada para demonstração que acontecia após o tour pela destilaria tinha mesas de cedro com o nome da companhia entalhado nas bordas e bancos compridos de madeira ao invés de cadeiras, para sentarmos em pares. Aguardei, enquanto observava os frequentadores do local. Casais, alguns turistas, grupos de amigos. Todos falantes e animados.

Passados alguns minutos, vi que ainda faltavam quinze minutos para começar e resolvi me distrair com o telefone.

Olivia:

Adivinha onde estou?

Sarah:

Em um show de go-go boys.

Olivia:

Não, boba. Em uma destilaria em Glasgow, para uma degustação de uísques.

Sarah:

Que maravilha! Não tem nenhum escocês interessante por aí?

Olivia:

Por enquanto, só as bebidas. Os caras aqui são casados ou cinquentões.

Sarah:

Entediante! Beba todos os copos e saia daí já.

Olivia:

Não posso sair virando os copos de uma vez. Me inscrevi em uma aula, que, aliás, já vai começar. Nos falamos depois.

Os participantes tomaram seus lugares e, assim que percebi o sommelier se posicionando no meio do salão para começar, guardei o telefone na bolsa.

Dois rapazes entraram pouco depois, constrangidos pelo atraso e pedindo desculpas. O moreno de estatura média sentou-se na mesa da frente com um estranho, e ao outro, alto e loiro, restou o único lugar disponível, que era ao meu lado.

Scotch on the rocksWhere stories live. Discover now