CAPITULO 1

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Eu odeio propaganda de margarina!

Aquela familia linda, magra e feliz tomando café da manhã, em um dia ensolarado me irrita.

Em primeiro lugar: Nem todo mundo acorda feliz.

Em segundo lugar: Ninguém consegue ser magro tomando aquele café da manhã, com um quilo de margarina no pão e todos aqueles itens de Buffet de hotel cinco estrelas.

Em terceiro lugar: Porque os dias tem que ser ensolarados? Em dias chuvosos não se come? Acho que deveria ser ao contrário, eu mesma como muito mais no frio e quando estou nervosa.

E em quarto e não menos importante: Nem todas as familias são compostas de um pai, uma mãe e um casal de filhos!

É como se fosse obrigatório, para ser feliz tem que ter esses quatro pré requisito, você não tem? Lamento querida, mas você não será feliz!

Ah faça me o favor!

É por isso que odeio comercial de margarina, ele retrata uma realidade que não existe!

Minha realidade é bem diferente, tenho um péssimo humor pela manhã, aquela estava ainda pior, estava chovendo toda a quota esperada para o mês de julho e minha mãe estava no telefone às oito da manhã. Com meu pai.

Eu juro que gostaria muito de não estar ouvindo a conversa deles, mas quando se mora em um apartamento de 90 metros quadrados apenas você e sua mãe é quase impossível não ouvir quando ela começa a discutir sua vida com seu pai como se você ainda fosse uma garotinha de dez anos.

- Bom dia mãe!

- Oi filha. Estou falando com seu pai. - ela colocou a mão no fone como se ele não tivesse escutando.

- Acho que o vizinho de baixo já sabe.

Mamãe me deu um olhar de recriminação e revirei os olhos imaturamente para ela.

- Seu pai está mandando um oi.

Juro que pensei em dizer o que eu tinha vontade, mas me limitei a um simples " diga que mandei oi".

Fui direto pra cozinha tomar meu café da manhã, sem pão com dose extra de colesterol, sem alegria matinal, sem dia ensolarado, sem familia feliz, apenas eu, meu pote da Minnie cheio de Sucrilhos com leite gelado e a maravilhosa programação da Disney Channel.

Aliás familia feliz era um insulto a minha pessoa, a minha familia se resumia a minha mãe e eu, duas vezes por mês uma ligação do meu pai e uma pensão que alimentaria um pequeno país da europa todo dia 5.

A pensão exagerada era uma maneira que meu pai encontrou de compensar a sua ausência na minha vida, como se dinheiro suprisse a falta que um pai faz na vida de uma garota. Nem toda a fortuna dele me faria esquecer o maldito dia em que ele e minha mãe me chamaram pra conversar.

Eu tinha acabado de chegar da escola, cansada, morrendo de fome e feliz porque tinha acabado de beijar o Felipinho, poxa vida era pra ser o dia mais feliz da minha vida, mas meus pais escolheram logo aquele dia para terem "a conversa".

Meu pai nunca almoçava em casa, mas naquele dia ele estava lá sentado no sofá encarando o tapete persa enquanto minha mãe caminhava de um lado para o outro tentando disfarçar seus olhos vermelhos. Como se fosse possível, assim que abri a porta da sala foram as primeiras coisas que vi, seus olhos e nariz vermelhos, em seguida a cara do meu pai quando me viu entrar.

Fiquei com medo, primeiro imaginei que minha avó tinha morrido, ela ja estava bem doente e vivia no hospital.

-Aconteceu alguma coisa com a vovó?

Antes dos 20 - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora