Capítulo Dois

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Mais um para vocês conhecerem mais sobre o nosso Matt :)

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"Cada livro, cada tomo que está vendo aqui, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma daqueles que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém desliza os olhos por suas páginas, seu espírito cresce e se fortalece."

Não precisei passar da 100° página para chegar à conclusão que Zafón, o escritor de "O jogo do Anjo", era um gênio. Havia suspense, drama, terror, comédia e me deixava intrigado a cada página que virava. O cara tinha uma narrativa incrível!

Terminei o livro domingo à noite. Na minha cabeça martelava o fim que não podia ser, de fato, o fim. Muitas perguntas rondavam minha mente, procurando suas respostas. Havia lido atentamente do início ao fim, mas era como se faltasse uma parte para que eu montasse o quebra-cabeça que Zafón havia construído no livro.

Ao terminá-lo, por volta das dez, coloquei-o na mesa de cabeceira. Iria procurar pela garota da biblioteca no dia seguinte, no anseio de que ela me respondesse as perguntas que me assombravam.

Estava bastante perturbado quando dormi. Sonhei com o personagem principal, David Martín. Eu andava pela sua casa, tranquilamente pelo segundo andar, quando escutei um barulho muito alto no andar inferior e desci correndo para ver o que era.

Eu o vi parado no meio da sala, olhando para uma figura em chamas que caminhava em sua direção. Um homem. David estava assustado, sujo de sangue e poeira. Saiu correndo porta afora, enquanto o homem em chamas se tacava de um lado para o outro, batendo nos poucos móveis e tacando fogo em tudo.

Ele me notou em pé no fim da escada e a subiu atrás me mim, colocando-a em chamas.

Escondi-me em um dos quartos e tranquei a porta. Ela foi arremessada no chão quando o homem se tacou em cima dela. Ele veio atrás de mim. Estava lento, e agonizava pela dor que sentia. Aproveitando que ele era devagar, driblei-o e sai.

A casa estava em chamas. Não havia saída. Eu não tinha muitas opções, e escolhi a que me pareceu melhor. Eu não queria morrer queimado, então pulei a janela, caindo num espinheiro. Senti que perfuravam o meu peito. Teriam acertado meus pulmões ou coração.

O homem em chamas pulou pela janela, caindo logo ao meu lado e levantando o rosto para me encarar. Completamente deformado, me arrepiando. Não saia som algum de seus lábios, mas eu sabia o que ele dizia.

Ajude-me. Ajude...

Cheguei à conclusão de que não havia dormido direito quando me encarei no espelho do banheiro, prestes a escovar os dentes. Ignorei as marcas embaixo dos meus olhos e esfreguei a escova na boca. Já estava atrasado e não tinha tempo a perder.

Rapidamente troquei de roupa e peguei minha mochila. Desci as escadas e encontrei meu pai na cozinha, tomando café. Ele havia posto a mesa, e o cheiro de café se alastrava por todo o cômodo. Eu me sentei em uma das cadeiras e enchi uma caneca do líquido escuro para mim. Eu iria precisar.

— Passou a noite acordado? — Ele perguntou, franzindo as sobrancelhas para mim e ignorando a tevê ligada em que passava o jornal por alguns segundos. Seus cabelos grisalhos e olhos cansados refletiam o tempo que ele passava fora de casa, trabalhando.

— Só não dormi direito — murmurei em resposta. Ele deu de ombros. Tomei um gole do café e o gosto forte me despertou imediatamente, apesar de ainda não me dar qualquer animação para encarar o dia.

A refeição foi feita em silêncio, já que o jornal estava interessante aos olhos de meu pai, e eu estava refletindo sobre o livro.

Quando terminei de comer, me despedi e saí para a varanda da casa. Dona Gertrude estava sentada em uma cadeira, observando a rua com um dos seus cachorros deitado em seus pés. Encostei em um dos pilares da entrada, mas fiquei apenas alguns segundos parado ali até Raphael chegar.

A garota da Biblioteca [degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora