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Ele estava deitado, o peito para cima e os braços jogados sobre os lençóis escarlate. Seus olhos azuis se abriram preguiçosos e a semi-luz do nascer do sol o faz despertar por completo.

Havia um meio sorriso em seu rosto que desapareceu assim que o homem sentou-se e se deu conta da realidade.

Ele havia sonhado com ela novamente. O sonho mais lindo e doce que tivera em meses de noites atormentadas por pesadelos.

Porém ao olhar para o lado e perceber que a mulher que estava em sua cama não era quem ele desejava – e obviamente nunca seria –, foi como receber uma adaga enferrujada no meio do coração.

Doeu saber que não era ela ali, mas doía muito mais saber que ela nunca mais estaria ali.

Uma lágrima solitária escorreu por sua face e rapidamente ele a secou, antes que outras viessem mais e mais chegando ao ponto de se tornar incontrolável.

De repente a jovem ao lado começou a se mover, despertando de um sono aparentemente tranquilo. Virou-se, mostrando um rosto belo e delicado emoldurado por madeixas levemente desgrenhadas e castanhas.

Era linda, definitivamente. Mas ainda assim, não era ela.

– Bom dia – murmurou com uma voz sonolenta, seguida de um sorriso adorável.

O homem sorriu de leve e levantou-se sem responder. A moça observou seu corpo nu enquanto ele se deslocava do quarto até o banheiro, admirando-o.

Logo recordou-se da noite anterior, extremamente sensual e quente. Ela não conseguia se lembrar de quando um homem havia lhe dado tanto prazer antes em sua vida.

É um dom dos Venâncio – pensou.

Passou-se algum tempo e ela ouviu o som do chuveiro. No mesmo instante se levantou, também nua, e o seguiu.

Abriu a porta do box e ficou olhando para o homem ali parado, enquanto a água quente deslizava por seu corpo musculoso e atraente. Seus olhares se chocaram e o tensão sexual de repente tornou-se quase palpável.

O homem a puxou para dentro e a beijou furiosamente, um beijo ardente e "molhado". Por um momento ela achou que ele possuiria seu corpo novamente, bem ali, no calor da água quente que os regava; na verdade ela ansiava muito por aquilo.

No entanto ele não fez. Soltou-a e seus olhos se encontraram novamente, um verde suplicante com um azul dominador.

– Vista-se e desça ao salão. O café da manhã logo vai estar pronto – disse com uma voz firme e grave.

A moça pestanejou um pouco decepcionada e saiu do box, pegando uma toalha pendurada ao lado. Pouco antes de sair, ela se virou para ele novamente.

– Vai tomar café da manhã comigo dessa vez, Caleb? – murmurou com uma voz baixa e inocente.

– Não, Paola. Você precisa chegar mais cedo que eu hoje, para separar os currículos selecionados e deixar sobre minha mesa antes das nove. A entrevista é hoje.

Paola respirou fundo frustrada. Odiava a posição que trabalhava na empresa, gostaria muito de ser vice-presidente ou quem sabe... esposa do CEO, Caleb Venâncio.

Paola Venâncio.

Mas a cada dia que se passava Caleb fazia questão de deixar cada vez mais claro que a relação entre eles era meramente profissional, de vez enquando sexual, e que ela poderia esquecer a ideia de uma promoção no trabalho ou uma aliança de ouro no dedo anelar.

Todavia, Paola não era de desistir fácil, além do mais, tinha para si que Caleb possuía sim algum tipo de sentimento forte por ela. Mesmo dormindo com várias outras mulheres ele sempre acabava voltando para seus braços.

Caleb era rico, enlouquecedoramente bonito e extremamente bom de cama. Mas não era de se admirar, pois rolavam boatos – verdadeiros – de que os homens da família Venâncio tinham um talento único de proporcionar prazer.

Porém o que Paola não sabia era que o coração de Caleb estava fechado para relacionamentos sérios, talvez para sempre.

Como homem e ser humano, ele gostava de sexo e facilmente se deixava levar pelos desejos da carne. Ao menos passou a ser assim desde que ela se foi.

Antes ele só tinha olhos para uma mulher e quando tudo acabou tragicamente, foi como se o anjo da guarda que lhe impedia de perder contato com o céu soltou sua mão e ele caiu novamente em meio ao pecado.

Caleb se considera incapaz de ter os mesmos sentimentos por outra; ele não dá amor, apenas prazer, porque sabe que sua capacidade de amar foi tirada dele.

Ele não sabia mais o que era o amor e devido a isso de repente sentiu-se como um adolescente novamente, só que mais bonito, rico e maduro.

– Ok. Melhor eu ir logo – Paola falou.

– Certo. E espero muito que você e o restante do pessoal do RH tenham selecionado boas candidatas, porque da última vez foi patético. Não estou nem um pouco a fim de ter que solicitar uma nova seleção de candidatas, porque preciso de uma secretária competente com urgência.

Paola engoliu em seco. Lembrou-se que havia escolhido candidatas desinteressantes tanto profissionalmente quanto esteticamente. Não queria outra mulher – tão interessante quanto ela – próxima a seu pretendente.

Mas essa imprudência quase lhe custou seu emprego e ela repensou.

– Não se preocupe. Selecionei as melhores profissionais com excelentes referências, na verdade, acho que são os melhores candidatas que já recebemos.

Caleb semicerrou os olhos para a mulher, que estremeceu levemente intimidada.

– Tudo bem. Peça para o Henrique te levar, eu pego o outro carro depois. – Ele concluiu e virou-se para continuar seu banho.

Paola trincou os dentes de raiva. Não gostava nenhum pouco da frieza com qual ele a tratava. Entretanto preferiu não discutir e se retirou em silêncio.

Passados alguns minutos Caleb terminou seu banho, enrolou-se numa toalha e se dirigiu ao seu closet. Ao passar pelo quarto não havia mais nenhum sinal de Paola, a não ser pela cama bagunçada.

Um alívio. Ela havia se tornado muito pegajosa, Caleb só não a excluiu totalmente de sua vida por sua forma excepcional de trabalhar, tanto na empresa como na cama. Mas longe desses dois ambientes, Paola tornava-se insuportável.

Sim, Caleb estava enrolando a moça. Todavia ela era inteligente o bastante para perceber isso. Não pulou fora porque não quis.

Ou porque é impossível resistir ao charme dos Venâncio. – Ele pensou e soltou um risinho travesso enquanto olhava para si mesmo no espelho.

Em seguida secou-se e vestiu-se tranquilamente. As calças e os sapatos sociais eram de uma azul escuro quase preto, assim como terno que contrastava muito com a camisa de linho branca.

Caleb abriu a gaveta de gravatas e as observou. E somente observou, pois não queria usar nenhuma; não gostava de gravatas. Eram apertadas e caretas demais para o dia-a-dia e apesar de possuir várias, preferia deixá-las para ocasiões especiais.

Passados alguns rápidos minutos, o homem estava pronto para mais um dia de trabalho e bastante ansioso para saber se logo mais conheceria a candidata perfeita para ocupar o cargo de secretária pessoal do CEO da VNC Company.

É Sobre O Teu OlharWhere stories live. Discover now