O grito gutural de Clark ainda ecoava nos pensamentos de Bruce como um fantasma, numa sede insaciável de fazê-lo sucumbir à culpa e ao remorso eventualmente. O aperto que acometeu-lhe o peito naquele exato momento parecia nunca ter ido embora, mesmo depois de tanto tempo. Era apenas mais um lembrete inevitável de quão suas atitudes estúpidas contribuíram ativamente à corrente de eventos que levou à morte do Superman.
Um barulho distinto o despertou dos devaneios novamente, mas não era Alfred. Dessa vez eram passos singelos vagando pela caverna, o som dos saltos finos batendo contra o chão metálico. Ele assistiu em silêncio à amazona aproximar-se lentamente, cruzando os braços ao parar a uma distância saudável entre dois colegas. Eles não eram amigos, afinal. Bruce Wayne não tinha amigos — muito menos o Batman.
— Bruce. — Diana o ofereceu um sorriso amigável, quase que materno. Mas tão logo seus olhos contentes estudaram a figura do morcego, eles se tornaram preocupados. Dando um passo à frente, ela emendou: — Aconteceu alguma coisa? Você está péssimo.
— É bom ver você também, Diana. — ele abriu um sorriso falso, incapaz de controlar o sarcasmo como um mecanismo de defesa. Ela não levou a provocação em conta, contudo, o encarando ainda à espera de uma resposta. Um silêncio perturbador pairou entre os dois até que Bruce deu-se por vencido, suspirando. Ele desviou o olhar quando disse, num murmúrio quase que inaudível: — Eu estou bem. Não há com o que se preocupar.
— Não é o que parece. — insistiu, juntando as sobrancelhas ao constatar do que de fato se tratava a postura cabisbaixa de Wayne. — Bruce, ainda está se culpando por...
— Se você vai dizer que a morte dele não foi culpa minha, sinto informar que Alfred já ocupou esse posto por hoje.
— Bruce... — ela o lançou um olhar piedoso. — Você não pode continuar assim. Deveria estar em Gotham sendo o herói que você sempre foi. O herói que Clark gostaria de ver se estivesse entre nós.
— Ele não exatamente aprovava meus métodos. — Bruce riu sem humor. — Mas não é como se eu fosse voltar a agir daquela forma agora, de qualquer maneira. Eu estava cego pela raiva.
— Eu entendo, por isso mesmo deveria voltar a fazer seu trabalho. Gotham precisa de você...
— Por que você está aqui? — interrompeu a amazona de abrupto, franzindo o cenho. — Não quero soar mal educado, mas faz algum tempo desde que nos vimos. Por acaso veio apenas pra me prestar uma sessão grátis de terapia?
— Não só para isso. — ela o olhou divertida, então ficou séria de repente. — Não. Eu vim porque estou preocupada. Tenho motivo para acreditar que estamos à beira de uma invasão.
— Invasão?
— Sim. — Diana descruzou os braços e seus olhos inquietos vagaram por todo o cômodo, como se à procura das palavras certas. — Minha mãe mandou um sinal avisando que estamos em perigo. É uma longa história, mas por agora é importante que estejamos juntos para enfrentar o que vem por aí. — ela o lançou um olhar pontuado. — Todos nós.
Bruce não a respondeu de imediato, considerando as implicações de mais um conflito. Uma invasão, como aquela em que ele se tornou ciente da existência do Superman. Ele chacoalhou a cabeça levemente, tentando manter o foco na situação.
— O que mais você sabe sobre essa invasão?