Fuga Alucinante

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Jamais imaginou que o dia, outrora maravilhoso, fosse mudar da água para o vinho. Queria ele balançar, saborear e bebericá-lo, mas, além de estar muito cedo, era capaz de não prestar atenção no que ocorria seis mesas à frente. Era o único que ficara também, todos os outros clientes do hotel haviam fugido.

Ninguém era tão imbecil de ignorar as ordens de cinco homens fortemente armados. Exceto ele.

Alguns diriam que ele era adepto do estoicismo, do autocontrole frente a situações de risco ou perigo. Mas na verdade era simplesmente algo intrínseco às pessoas: medo.

Havia muitos sinais. As pernas bambas que o impediram de se levantar e correr em direção à porta, a inércia das mãos repousadas sobre o tecido das mesas, ocultando o quanto elas tremiam, ou, para o próprio pavor, a curiosidade de saber sobre o que estava acontecendo.

E o que acontecia? Os homens, uma equipe que se parecia muito com os fuzileiros navais que via nas séries americanas, apontavam seus rifles pesados para uma mulher. Não qualquer mulher.

Jacqueline Andrade, ou quando estava em missões, Jane Smith.

Uma agente especial de uma divisão secreta da Interpol para crimes extraordinários, ela era seu contato e a sua segurança. Uma distração para as ordens ferrenhas do irmão, que servia como uma sombra para todas as suas escolhas desde a infância.

Notou como os olhos escuros e lindos da mulher, que lhe enfeitiçou desde o primeiro dia, passeavam pelo recinto. Não estavam nervosos ou desesperados. Ela parecia analisar fielmente cada um daqueles homens robustos de origens variadas. Por um momento, o olhar dela se cruzou com o dele. Mas ele não duvidava de que a atenção de Jacqueline estava no líder da equipe armada que invadiu o restaurante do hotel.

De cabelos castanhos, cujas pontas onduladas só realçavam a simetria do rosto, ela era sensual. Possuía seios fartos, uma cintura fina e não era tão intimidante pelos traços suaves. Se não tivesse certeza do que acontecia, acharia que ela era atriz ou modelo.

Quando a encontrou, ela usava um penteado mais escuro e liso. Talvez mudasse de aparência de acordo com a missão.

Não queria nem pensar o que ela faria se tivesse que entrar em um cassino. Pois não tinha nenhuma dúvida de que enfeitiçaria todos os homens e talvez até algumas mulheres. Sua Jacque era bela e mortal. Ainda mais com as leggings realçando as pernas e glúteos.

Engoliu em seco, tanto pela beleza ao seu lado, quanto pelo engatilhar de um rifle à frente.

— Uau! Nunca disseram que você é bonita. — Um dos homens, próximo ao balcão de bebidas onde um atendente oferecia os melhores drinques, pegou um dos copos da mesa. — Se não tivéssemos em missão, eu lhe pagaria uma bebida.

— E eu, com toda a minha educação, mandaria você para o inferno. — A voz dela era doce, porém decidida. — Agora, rapazes, que recepção é essa para uma dama gentil?

— Gentil... — O líder cuspiu em escárnio. — Uma pessoa que mata soldados para conseguir informações está longe de ser gentil.

Interessante aquela sequência de eventos...

— Uma mulher precisa usar todas as armas que tem para se defender. — Ela deu de ombros. — Ou vai me dizer que vocês, mercenários, não matam e degolam mulheres e crianças para conseguir o que querem?

Ela trincou os dentes e levou sorrateiramente a mão para uma pasta de couro batida. O líder do séquito, um homem alto, musculoso e que estava no ápice da forma física, percebeu o movimento e colocou o cano do fuzil sobre a maleta. Jacqueline recuou.

PT-BR | O Cetro MalditoWhere stories live. Discover now