O Cetro Maldito

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Enquanto Ignácio analisava o altar e as paredes do templo em busca de uma fechadura, Jane e Julian embrenharam-se em uma luta corporal insólita e ferrenha. Ele defendia todas as tentativas dela de golpes precisos enquanto ela não dava oportunidade para que ele a envolvesse em um abraço mortal.

O curto espaço também não auxiliava, mas eles conseguiram se desvencilhar um do outro. Ofegantes, o ar na tumba era um pouco rarefeito, o que representava mais um teste de vitalidade e resistência do que habilidade de combate.

— Você não vai conseguir se livrar tão fácil de mim, Jacqueline.

Se Jane se surpreendeu por Julian conhecer seu nome verdadeiro, ela não demonstrou. Julian guardou a pistola e a perscrutou. Ele sabia, ela teria a vantagem se ele sacasse a arma, era o tempo que ela precisava para atacá-lo.

— Nem sei por que tenta.

— Quem lhe contratou, Julian? — Ela se aproximou de Ignácio. — Impossível você, um descendente fiel de africanos, recuperar o cetro para neonazistas.

— Nunca disse que era para eles. — Julian sorriu de canto de boca, contornando o altar. — Eu disse apenas que estou recuperando para um empregador. Não especifiquei quem. Quem supôs foi você.

— Claro! Por que vou gentilmente acatar a ordem de homens fortemente armados quando eu... — Ignácio pigarreou ao mesmo tempo em que se ajoelhou diante de uma parede adornada com alguns desenhos. — Nós — ele meneou a cabeça para a parceira — a recuperamos de um criminoso.

— Vocês não sabem o que o cetro...

— Abra-te sésamo!

Ignácio interrompeu com um pulinho, assustando tanto Jane quanto Julian, que levaram as mãos aos coldres de suas armas. Jane, no entanto, escutou mecanismos se mexendo à medida uma porta se abria e areia era depositada em um canal no altar.

— A engenhosidade egípcia não para de me surpreender. — Ignácio retirou um lenço do bolso da bermuda, enrolou-o no nariz e pôs as duas mãos na borda do espaço recém-aberto. — Usaram areia para o mecanismo das portas.

Ele olhou para a imensidão escura e vazia do ambiente.

— Como assim? — Os nervos ainda estavam aguçados, mas Julian estava mais interessado no que Ignácio dizia do que brigar com Jane.

— Maias e Astecas, para as suas construções e armadilhas, utilizavam o poder das águas e do curso caudaloso dos rios. — Ele voltou e apoiou-se no altar. — Os egípcios tinham o Nilo, mas nas pirâmides era complicado. Então como fazer um mecanismo durar eternamente?

Apontou para a areia despejada no espaço destinado a ela.

— Areia? — Julian arregalou os olhos e agachou-se para observar o canal.

— Sim. — Ignácio apontou para uma pedra que ele retirou de uma balança. — No momento em que retirei a pedra, a areia que mantinha a porta fechada saiu do lugar e o resto é física.

— Sem corrosão? — Jane perguntou, não conseguia compreender como o compartimento ficou fechado por tanto tempo sem que ninguém tivesse descoberto como abrir.

— Se as pirâmides estão de pé até hoje... — Ele retirou o lenço do rosto. — Podemos explorar ou vão ficar fazendo perguntas?

Com Jane segurando a única lanterna à frente, eles desceram o corredor recém aberto. O chão arenoso era levemente inclinado e o corredor, longo, de modo que a luz da arma não chegava até o fim do túnel.

Jane teve que envolver a arma com as duas mãos para não escorregar. Em alguns momentos, ela desejou ter luvas para conter o suor frio e os arrepios que o eco dos ventos lhe dava. Os sobressaltos de Ignácio e as reclamações de Julian, à retaguarda, não passaram despercebidos.

PT-BR | O Cetro MalditoWhere stories live. Discover now