CAPÍTULO 1 - Encontro desastroso

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TYLER

O mundo acabou.

Ou pelo menos a maneira como ele era conhecido.

Não resta nada além de destroços daquilo que a humanidade havia se esforçado tanto para construir através dos séculos, escombros tomados pela natureza que já estava ali antes dela e sobreviveu apesar das investidas que tinha recebido por tanto tempo.

Foi em vão. O novo mundo cobria o antigo e a humanidade era só uma memória impressa em restos de seus passos destrutivos. Enquanto a única lembrança persistente que os humanos pisaram na terra, além de todo seu lixo, era a sua maior criação e ruína: as máquinas.

Como pôde uma espécie tão pequena e frágil sobreviver por tanto tempo?

A resposta que eles queriam que fosse verdade é que sua inteligência e tenacidade os garantiu tal façanha, mas o que o tempo comprovou, no entanto, foi que a humanidade se comporta como uma peste insistente. Capazes de destruir para não serem destruídos.

Tyler estava caçando naquele fim de tarde em meio aos escombros de RK-1923, um antigo (muito antigo) centro de descarte para entulhos da 4ª guerra. Mas não restava nada de útil naqueles escombros, tudo que poderia ser usado já tinha esfarelado pelo tempo ou sido saqueado no decorrer dos 150 anos passados de quando era ativo.

O lado bom do mundo ter acabado é que com ele a guerra também tinha.

Tyler chutou um pedaço de alumínio retorcido e o barulho estridente da peça quicando entre os escombros ecoou muito alto. Ele sorriu de canto, enfiando as mãos nos bolsos da calça larga enquanto continuava passeando calmamente, os ventos mudaram de direção e sentia-se mais perto da sua presa.

Uma cabeça com um enorme cabelo prateado o encarava de lado, no meio da passagem. Tyler suspirou e se agachou analisando-a. Os olhos estavam abertos e leitosos, e se não fosse a estrutura de cabeamentos exposta por dentro da coluna cervical, disfarçada em meio à camada de pele sintética, certamente pareceria uma cabeça humana.

Ele fechou os olhos leitosos e segurou a cabeça como um pote com a tampa emperrada, enfiando a mão na garganta dilacerada. Ele apertou os olhos e teve um arrepio quando tocou na massa viscosa que, como um cérebro, oferecia ambiente de sinapses sintéticas. Desceu um pouco mais, tateando por dentro da garganta até finalmente achar o que procurava.

— Ah, finalmente achei. — Ele falou em voz alta. Sua voz ecoou pelos escombros.

Ele abaixou os óculos goggles preso no alto da sua cabeça e automaticamente o visor começou a fazer as leituras da pequena peça que ele retirou de dentro do cadáver tecnológico.

— Freed, analise. — Tyler sussurrou.

Sim, senhor. — A voz robótica respondeu em seu ouvido. — Mas eu sugiro que o senhor se atente, seu alvo já percebeu a sua presença.

— Eu ia estranhar se não tivesse.

Tyler cobriu a própria cabeça com o tecido puído e cinza que trazia sobre seu ombro, assim sua cabeça se protegeria da fuligem que em breve se levantaria. Ele rodopiou a peça melada de um líquido viscoso em seus dedos e se livrou da cabeça no chão, atirando-a com violência na direção de uma pilha de garrafas de vidros.

Todas elas tombaram em um barulho impossível de ignorar.

— Strike. — Ele sussurrou.

Senhor, o dispositivo vocal é do modelo f20 da série 2806-96. Está em pleno funcionamento e pode ser vendido para a senhorita Áquia.

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⏰ Last updated: May 07, 2023 ⏰

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