Capítulo 12

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— Calado.

Ela rasga um pedaço de sua camisa xadrez. Está calma demais levando em consideração que eu estou prestes a desmaiar.

Ela limpa as minhas feridas com seu lenço, seu rosto delicado me impressiona, sua calmaria é diferente de qualquer uma que eu já vi. Ela enxuga cuidadosamente o sangue do meu corpo, absorvendo todo o líquido vermelho.

— Por que está tão preocupado? — ela fala para mim, com uma voz angelical. — Sangue é algo comum. Pense que esse momento não aconteceu, vai fazer bem para você.

Quanto mais ela fala, mais eu percebo que sua dicção é um pouco "tropeçada". Por algum motivo isso me acalma, ela olha para mim com um pequeno sorriso no rosto, é... confortável.

Observo cautelosamente os detalhes do seu corpo. Seu tronco e ombros são um pouco largos, suas coxas grossas, e a luz reflete nas suas curvas, deixando-as aparentes. Seu rosto é quase como angelical.

Acho que olhei para ela por tempo demais.

Desvio totalmente minha atenção dos machucados e somente presto atenção nela. Isso melhorou minha ansiedade, mesmo ela somente tendo limpado meu sangue.

— Teu sangue é um líquido exclusivamente do seu corpo, não tem por que ficar com medo dele. Sem ele, você não existe, não é?

— Verdade... é que eu não tenho boas lembranças com ele.

— Lembranças são coisas do passado. Pense no futuro.

Ela se levanta, olhando para os lados.

— Levante-se em silêncio, temos que trabalhar. Não toleram gente no corredor.

Tento me erguer, mas escorrego na parede. Antes de bater no chão, ela segura na minha mão, as quais, ao contrário das minhas, estão frias. Mais tranquilas, sem sangue percorrendo por elas loucamente. Ela me puxa para cima e coloca meu braço apoiado nos seus ombros, e é estranho, já que eu devo ser no mínimo 20cm mais alto que ela.

— Qual é seu número? — Ela pergunta.

— Acho que é 456, não lembro exatamente.

— Prazer, sou a Um. — Ela estende a mão para mim, eu a aperto de volta. É estranho ela não ter perguntado o meu nome primeiro.

Suas roupas são rasgadas e sujas, parece que "vive" aqui desde que tudo isto começou. Usa uma camisa xadrez vermelha rasgada, com uma gola aparentemente arrancada. Sua calça está quase apodrecendo, e seus cabelos andam tão desgrenhados que até parece que não toma banho faz seis meses.

Bom, já que ela está aqui, não duvido nada.

Após andarmos um pouco, Alan sai da porta, com o braço na costela. Suas sobrancelhas estão flexionadas e ele manca um pouco, mesmo assim, parece estar melhor do que eu.

— Pensava que ia doer mais — ele diz com um sorriso irônico no rosto. Cambaleia, mas consegue ficar em pé. — Quem é a garota?

— Me chamam de Um por aqui. — Ela fala com um sorriso sincero no rosto.

— Como você quer ser chamada? — Ele a pressiona. Eu já entendi o que acontece por aqui.

Lembro que eles chamam as pessoas pelo etiquetamento, ela deve ter se acostumado. Depois da pergunta, ela fica parada por um tempo pensando.

— Acho que pelo meu nome, Maya Summer.

Imediatamente lembro do nome da líder do local, será que ela trabalha para a Levihart? Não importa, não tenho nem condições para pensar direito agora.

— Você é irmã da Summer? — Ele fica com uma expressão confusa e desconfiada ao mesmo tempo. Logo após, ele levanta seus braços e flexiona os seus músculos, em posição de defesa — Você é uma guarda?

— Não. Me colocaram aqui dentro porque eu sou imperfeita, impura... sei lá. Sinceramente, se eu fosse um guarda, já teria mandado este garoto para a câmara de incêndio apenas por estar cambaleando com a primeira sensação de dor.

Me sinto ofendido e grato em simultâneo.

Alan aperta os olhos, analisando Maya de cima a baixo. Consigo ver os seus olhos tomarem uma tonalidade mais escura, como se todo o sangue de seu corpo estivesse focando em seus olhos. Está tentando detectar mentiras.

Os agentes mais habilidosos da Fulehart tem essa habilidade, de focar todo o seu MAO em seus olhos e tentar analisar feições do rosto e batimentos cardíacos apenas com o olhar. Claramente não funciona totalmente, mas já é uma ajuda.

— Está limpa. — Solto a respiração que nem percebi que estava prendendo. — Não pouparam nem você?

— Não, mas minha irmã disse que eu vou sair daqui quando ela puder me retirar! Só que vai demorar um pouco.

— Compreendi. — Com certeza ele não compreendeu. Seus braços continuam tensos e seu olhar não voltou a ser o calmo e engraçado de sempre. — Vamos à fábrica, tenho certeza de que vamos sair daqui mais rápido do que parece.

— Sério? — Ela abre um pequeno sorriso, e seu cabelo, que agora tenho certeza de que é ruivo, tapa os seus olhos azuis. — Estou ansiosa para os próximos dias.

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now