Prólogo

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Não conseguia respirar direito, a dor que inundava meu corpo era tão intensa que ficava difícil puxar qualquer partícula de oxigênio para dentro do meu peito. Minha cabeça estava pesada, mal conseguia manter os olhos abertos, eles estavam começando a se fechar sozinhos, mas precisava me manter firme. Levantei-me meio cambaleante e dei de cara com aquela criatura que parecia ter saído do pesadelo de criança, ela era horrenda. Seus olhos eram pretos como o vazio, sua boca tinha mais dentes do que poderiam caber e eram tão afiados que me cortavam só de olhar , não podia deixar de falar que seu rosto lembrava uva passa apodrecida, de tão enrugado que era, suas garras estavam cobertas do meu sangue, o estrago que elas causaram no meu abdômen foi tão profundo que pude sentir meus poderes serem sugados do meu corpo como se fossem água, mas precisava salvar meu pai, eu deveria continuar firme, só mais um pouco. Investi com tudo na criatura, usei toda a mana, que era basicamente a fonte dos meus poderes, que ainda percorria meu corpo, minha espada atravessou aquele corpo apodrecido com toda voracidade que uma menina de 13 anos podia ter. Quando a criatura caiu, eu corri imediatamente para salvar meu pai.

Mas já era tarde demais, seu corpo frio já não emitia nenhum sinal de vida, seus olhos estavam arregalados e assustados, sua mão protegendo o peito como se pudesse impedir as garras do monstro de rasgarem o seu corpo. Me senti pesada, eu já não tinha mais vontade de viver. Minha mãe havia sido morta na minha frente, queimada viva, meu irmão saiu de casa sem mais nem menos, o único que após a morte da minha mãe se dignava a me ensinar alguns golpes de espada e luta corporal. Sobrou somente eu e meu pai, não que nossa relação fosse ruim, mas também não era das melhores, ele me via somente como uma garota que deveria atender as demandas de uma boa dona de casa e uma boa esposa. Antes que eu me entregasse completamente para aquela sensação de paz, eu pude ver de longe com um grande sorriso no rosto meu amigo Ethan, como se toda aquela cena fosse a maior diversão da sua vida. Pior do que a sensação da morte me chamando, foi a de me sentir traída, meu único amigo que eu confiava a vida, tinha claramente visto o que aconteceu e não mexeu um musculo para tentar nos ajudar e o pior, estava se divertindo nitidamente com aquilo. Não sei de onde nem como reuni forças para me mexer, antes que pudesse se quer entender o que esteva acontecendo minha espada já havia perfurado o estomago de Ethan. Mesmo sendo apunhalado, o seu sorriso não saiu, aquele sorriso de quem está adorando aquilo tudo, enfiei mais a fundo a espada em seu estomago, mas para o meu azar eu não havia acertado nenhum ponto vital, ele simplesmente retirou a espada, olhou no fundo dos meus olhos, pude notar que aqueles olhos azuis não emitiam mais luz, eram o puro e amargo vazio, levantou o canto de seus lábios em um meio sorriso e saiu correndo. Cai no chão sem poder me mexer mais, meu corpo já não me respondia mais, a espada caiu de minha mão parecia que pesava uma tonelada, a única coisa que queria fazer era chorar, mas o ar já não entrava mais em meu peito. Desmaiei.

Acordei com minha tia me encarando como se tivesse encontrado um objeto perdido. Ela me deu um largo sorriso.

-Minha sobrinha querida, a partir de hoje você estará sob os meus cuidados- Disse ela com os olhos mais brilhantes que um diamante.  

Blood Hand: A Dark pastWhere stories live. Discover now