Agora.

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 Um mês. Hoje faz um mês. Não sei se penso que já faz um mês, ou que só faz um mês. A tortura que é viver sem a Violet dia após dia faz parecer que cada dia são vários séculos; mas tudo ainda é tão vívido na minha memória que parece ter sido ontem.

 Hoje será meu primeiro dia na Ordem, e eu sinto como se minhas sessões de terapia não valessem mais nada. A atmosfera daqui faz com que tudo pareça ainda mais recente, e eu me sinto consumido.

 Estaciono minha BMW vermelha em frente ao "Bar Suvaco Seco" e desço adentrando o lugar com a cabeça baixa. Tudo parece vazio, eu entro pela passagem secreta atrás da geladeira e desço as escadas.

 Sinto olhares estranhos sobre mim. Alguns parecem ter pena, outros parecem estranhar ou se incomodar com a minha presença. Ouço perguntarem:

 _ O que você está fazendo aqui?

 E me sinto tragicamente rejeitado. Mas não ignoro, ViVi me ensinou a ser educado. Então respondo:

 _ Estou a procura do Celso. Meu pai. Você o viu?

 _ Não. Não vi, não.

 _ Tudo bem, obrigado.

 Continuo seguindo até que sou parado por um cara alto e meio gordo, porém forte também. Ele me abraça apertado e eu travo. Como deveria reagir?

 _ Bom dia!? Perdão, quem é você? - Pergunto.

 _ Eu sou o Mino... Eu conheci a sua irmã e... Eu sinto muito...

 _ Obrigado. Se você a conheceu imagino que também sinta falta dela.

 _ Muito.

 _ Você, ou vocês - Olho para o pessoal que o acompanhava na mesa. - ,viram o Celso? Eu preciso encontrar ele. - Digo sem prestar muita atenção no que vão me responder, não sei se já estou pronto mesmo.

 Mas mesmo assim escuto alguém dizer que ele deve estar na sala do Veríssimo. Então eu só agradeço e sigo reto. Eu devia lembrar do caminho, eu deveria saber onde estou indo, mas minha mente está um caos.

 Sei que passei por outros lugares, por outras pessoas, que também me perguntaram o que eu estava fazendo ali. Mas só "acordo" mesmo, quando estou em uma sala com vários itens que suponho serem amaldiçoados, com símbolos, sangue e etc. É a sala de ocultismo, é, eu estou mesmo na ordem. - "Acorda, Mike!" - Grito mentalmente.

 Converso com uma ocultista que parece ter aparecido do nada, ela fala de um jeito tão informal que chega a ser desconfortável pra mim; embora eu seja jovem e tenha convivência com muita gente que fala parecido. Ou tinha, nem sei mais.

 Ela me indica onde fica a sala do Veríssimo depois de me dar bronca por simplesmente sair abrindo várias portas e eu agradeço seguindo sua instrução.

 Eu entro na sala encontrando meu pai sentado no lugar do Veríssimo, e em uma das cadeiras em sua frente, está Ingrid, uma mulher loira que reconheço ser amiga da minha irmã.

 Fico em pé ao lado da cadeira até meu pai me mandar sentar. Quando ele o faz, eu desabo na cadeira. Ingrid também me pergunta o que estou fazendo ali, e sinceramente, nem sai o que sai pela minha boca. Mas sei que ela entende, e que não falo merda. E isso se faz suficiente para mim.

 Converso com Ingrid, com meu pai, me sinto um lixo e,  juntamente com Ingrid, saio para encontrar o restante do pessoal que nos ajudará na missão que nos foi designada. Ela me apresenta ao pessoal, que, eu descubro ser o mesmo pessoal que eu encontrei antes quando fui abraçado.

 Me sinto melhor sendo apresentado adequadamente, menos estranho e menos rejeitado. Na verdade, noto que o pessoal se esforça para me fazer sentir parte do grupo logo de cara. E até que eles conseguem mesmo.

☀︎︎ 𝐼𝑚𝑒𝑟𝑠𝑜 𝑒𝑚 𝑇𝑜𝑑𝑜 𝑜 𝐶𝑎𝑜𝑠 ⌫Where stories live. Discover now