Parado frente ao prédio de Aretha olho a janela do seu apartamento, o carro dela está aqui. Provavelmente o excomungado está na cama dela, suado, beijando uma boca que deveria ser eu a beijar. Desço da moto e me afasto bastante, não quero que ela me veja.
Duas horas depois descem os dois. Enquanto estavam lá em cima eu poderia fingir que estavam sentados falando coisas de médico, mas agora não há como negar. No rosto dele reside a expressão genuína de felicidade, e como seria diferente? Ele estava nos braços da mulher perfeita.
Ela o abraça, os dois balançam sorridentes, nunca vi Aretha assim, tão relaxada, o franzido da testa não está mais lá, seu rosto mais parece leve, os lábios macios sorriem enquanto trocam mais palavras, se beijam e abraçam.
Ele embarca no carro e ela se inclina na janela, as pernas nuas na camiseta grande me dão ainda mais vontade matá-lo. Ela sobe e ele dá a partida, coloco o capacete, subo na moto e vou atrás, menos de meia hora depois estamos no deserto estacionamento do Sarah Kubitschek do Lago Norte.
Desço da moto antes que alguém aparece e entro no seu carro, de viseira baixa ele não consegue distinguir quem sou eu no capacete, melhor assim. Retiro a arma das costas e o cara entra em pânico, ele pega o celular dizendo que transfere dinheiro para mim, mas que por favor não o machuque.
Está para se borrar. Pode ser médico e ter algum dinheiro, mas não está a altura da Aretha. Um homem bom o suficiente pra ela não teria medo, mas arrancaria a arma de mim, isso sim.
Meu silêncio parece mais ameaçador do que se eu estivesse gritando, tenta então abrir a porta e escapar, mas o seguro pelo pescoço e bato sua cabeça contra o volante.
Quero mandar que nunca mais se aproxime dela, mas encontro minha voz embargada, quero gritar, mas dizer o quê? Pressiono a arma contra sua cabeça e o homem começa a chorar com a testa no volante.
Droga! Posso ouvir a voz do Fred me chamando de covarde!
Não estou com uma garota que eu gosto por medo do pai dela, mas ameaço o cara que tem coragem de fazer o que eu não fiz? Saio do carro e enfurecido subo na moto.
Merda de garoto loiro dono da verdade. Ao invés de ouvir Deus ou meus pais o desgraçado do Fred virou minha consciência. Rumo para o pontão do Lago Norte e desço da moto para me acalmar, casais de mãos dadas passeiam no deque de madeira e outros no pedalinhos. Vou ficar aqui até conseguir respirar.
- Mais alunas? – pergunto para Lulu que ajuda Frederico com os tatames.
Lulu é um viado amigo do Fred, o jovem de cabelo rosa e rosto levemente maquiado me olha de cima embaixo, eu não sou machista nem nada, mas não dou para ele as liberdades que tem com o Frederico.
- Não, mas o Fred está sem camisa, elas basicamente nos seguiram. - Lulu responde revirando os olhos.
- Não temos horários para mais alunas.
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Fred 2.0
RomanceDepois de sobreviver a um atentado e descobrir desagradáveis verdades sobre a Família Frederico tenta se ajustar na companhia da irmã Aretha e um novo amigo. Multiplos pontos de vista narrativo, todos em primeira pessoa. O texto possui conteúdo adu...