Ele via em câmera lenta a cabeça de Diego se virar em sua direção, a expressão irritada que tanto conhecia, o cenho franzido e o bufar de impaciência. Quando os olhos dourados finalmente encontraram os seus, o mundo de Amaury parou.
Eles se encararam por alguns segundos, minutos, horas. Nenhum dos dois saberia dizer, se alguém os perguntasse. Nem Diego e nem Amaury conseguiam se mover naquela fração de tempo em que tomavam conhecimento da presença um do outro. Imagens e lembranças invadiam a mente de ambos, os impedindo de mover um musculo sequer.
Os grandes olhos dourados se arregalaram em choque, ainda eram tão brilhantes quanto Amaury lembrava. E tão expressivos também. Ele poderia enxergar tudo o que o ruivo sentia através da íris cor de fogo. E seus sentimentos gritavam.
- Oi – Amaury foi o primeiro a conseguir sair do transe. O oxigênio parecia ter perdido o caminho para seus pulmões, era difícil respirar e pensar ao mesmo tempo. Suas mãos suavam e não tinha certeza se conseguia realmente sentir suas pernas.
Diego ainda o encarava com surpresa, só ao ouvir a voz grave que teve, finalmente, certeza absoluta de que não estava alucinando.
- Oi – respondeu com a voz fraca e rouca. Se dando conta, só ali, de que ainda não tinha falado uma única palavra naquele dia.
Nenhum dos dois sabia o que fazer. Um aperto de mão? Um abraço? Só um aceno e cada um seguir seu caminho?
Diego queria fugir. Amaury queria desmaiar.
Ambos queriam se abraçar.
Diego inspirou mais uma vez, o cheiro do outro entrando mais forte que nunca, se embrenhando, se assentando, tomando conta de seu corpo e sua mente. Fechou os olhos ao sentir aquele perfume misturado com algo único. Fazia tanto tempo.
Amaury observava o ruivo fechar os olhos e respirar fundo. Viu uma sombra passar por aquele rosto bonito, algo que não conseguiu identificar. Uma mistura de sentimentos. Ele deu um passo para mais perto do ruivo, quando um barulho de vidro quebrando arrancou os dois daquele torpor.
A mesa ao lado havia quebrado um copo e a atendente já corria para limpar tudo. Ela passou apressada por Amaury, que teve que dar três passos para dar passagem para a moça.
Os três passos que faltavam para quebrar a distância entre ele e Diego.
O ruivo continuava sentado, com o celular na mão, observando toda a movimentação que se desenrolava a sua frente. Tudo parecia um sonho. Viu o homem alto se aproximar e encostar o quadril em sua mesa. Estava tão perto, era só esticar a mão que o tocaria. Sua mão formigava, ansiando pelo contato, parecia que sua pele era atraída pela pele negra.
Mas se conteve, respirando fundo mais uma vez e voltando a encarar os olhos escuros quando estes voltaram a fita-lo.
- Quer sentar? – Soltou em uma lufada de ar, antes que perdesse a coragem e saísse correndo pela porta aberta.
Amaury assentiu e puxou a cadeira rapidamente, temendo que o menor mudasse de ideia. Sentou-se em frente ao outro, tomando cuidado para não encostar seus joelhos. Por mais que quisesse sentir a pele dele, por menor que fosse o toque, não queria ultrapassar nenhum limite, mesmo não tendo ideia de quais eram eles.
Diego via os olhos de Amaury varrer seu rosto, do mesmo jeito que ele mesmo fazia. Não conseguia evitar de olhar cada mínimo detalhe daquele rosto tão bonito. Estava mais fino e sua barba mais cheia. Seus dedos formigaram de novo, a lembrança de enfia-los naquela barba, fazendo carinho e puxando-o para si.
- Ta em São Paulo a muito tempo? – Quebrou o silencio para afastar as lembranças de sua mente.
- Não, cheguei hoje de manhã para dar uma palestra – Pigarreou antes de responder. Teve que recolher as mãos para elas não ganharem vida própria e não se aproximarem da pequena mão que repousava na mesa a poucos centímetros. – Seu cabelo ta maior.
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Saudade
RomanceCinco anos sem se ver, um cheiro de bolo e um dia estranho. Como um encontro inesperado pode mudar o dia (e a vida) de Amaury e Diego.