CAPÍTULO VINTE E DOIS

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Pov: Yoko Lertprasert

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Dia 05 de Março de 2006, minha primeira apresentação da escola para o dia das mães. A escola pediu para que fossemos vestidos com roupas pretas e um grande coração feito de tnt vermelho com glitter, em tese, feito pelo aluno e a mãe. Lembro-me de chegar em casa muito animada com o papel de tecido e um pote pequeno, cheio de minúsculos pontinhos brilhantes. Meu sorriso morreu quando minha mãe apenas mandou-me não sujar a casa antes de fechar a porta do quanto em minha face. 

View chegou horas depois de sua aula de francês, me encontrou na sala sozinha, tentando cortar o formato de coração que a professora havia desenhado previamente, coisa que ela havia feito somente para mim. Ela sabia que eu era uma criança de 5 anos sem apoio da própria mãe e que, dificilmente, conseguiria fazer o coração padronizado da forma que nos foi solicitado. 

Porém, eu tinha uma irmã mais velha. View sentou-se ao meu lado, mesmo cheia de deveres de casa para fazer, retirou o tnt de minhas mãos e até mesmo repreendeu-me por ter pego uma tesoura de ponta antes de concentrar-se no corte do coração, me ensinando também como usar a tesoura. Fui uma tarde divertida, minha irmã mais velha cobriu o tapete com uma lona azul e me permitiu encher o coração de glitter enquanto gargalhava. 

No dia da apresentação, minha mãe não apareceu. Nos primeiros minutos de coreografia, eu não dancei para ninguém. Todos os meus colegas sorriam ao olhar para suas mães, que choravam de emoção por receberem a primeira homenagem de dia das mães . 

View tinha uma apresentação de violino bem importante nesse dia, a qual ela desistiu quando percebeu que minha mãe apenas havia me deixado na escola sem fazer questão de ficar. View pegou um ônibus sozinha até o meu colégio e chegou ofegante nas arquibancadas, e com a sua pequena câmera digital, fotografou-me como uma irmã mais velha orgulhosa. 

Ela tinha apenas onze anos, e aquela seria apenas a primeira vez que ela perderia um compromisso importante apenas para fazer-se presente no lugar dos nossos pais.

Foi ela que esteve comigo na minha primeira queda de bicicleta, a qual ela mesma me comprou com o dinheiro do seu primeiro trabalho na padaria do nosso bairro, com treze anos. View afagou meus cabelos e limpou minhas lágrimas no meu primeiro coração partido, primeira nota baixa na escola, perdendo inclusive uma noite de sonho para revisar toda a minha matéria, apenas para ajudar-me a entendê-la, perdendo depois uma tarde apenas para explicar-me. Minha primeira menstruação, primeira briga feia com o nosso pai e foi ela a primeira a saber que eu gostava de mulheres também. 

E assim como ela fez comigo, também fez com Marissa, mesmo que eu também estivesse ali. View estava no meio de uma semana de provas na faculdade quando nossa mais nova sofreu bullying pela primeira vez. Ela fez questão de largar tudo para vir acalentá-la. View deixou de se divertir em festar universitárias para ajudar tanto a mim como Marissa. Ela não queria que eu me sobrecarregasse com a responsabilidade de cuidar de Marissa, então, assim como fizera comigo, tornou-se uma mãe e pai para a pequena. Desistindo até mesmo do seu maior sonho, que era morar na França.

Eu não conseguia imaginar minha vida sem View, assim como Marissa também não. Ela cometeu muitos erros, e eu não a julgaria por isso nunca. Com apenas 28 anos, View havia cuidado de duas vidas além da sua. Ela nunca teve alguém para cuidá-la como cuidou de nós. Ela nunca namorou, se apaixonou por curtos períodos da vida, mas sempre dizia que seu foco deveria estar "100% em nós". View abriu mão de sua própria vida para que a nossa fluísse normalmente. 

Café, Amor e BúziosWhere stories live. Discover now