- Lari, eu sei que não podia ter feito isso, mas eu precisava, ok? Não me pergunte o porquê, eu não sei. – Ele segurou as mãos da amiga e olhou fundo em seus olhos tentando passar o máximo de sinceridade possível. – Eu só precisava usar esse body e ele combina com todo o resto, foi a única mudança, está tudo bem.

E realmente estava, ela estava perfeita como sempre. Quem a via por fora, também não imaginava todos os sentimentos e pensamentos que rondavam aquela cabeça linda.

Será que ele iria? E se ele fosse, o que isso queria dizer? Nada além de um convite aceito, obvio. Será que era só isso mesmo?

Mas Diego tinha certeza de que o cacheado não iria. O convite fora feito, mas não seria aceito e finalmente ele poderia seguir em frente.

Com esse pensamento em mente, a drag se levantou e parou em frente aos amigos com um sorriso no rosto.

- Vamos?

Xxxxxxxxxx

Amaury tinha acabado de passar pela entrada do lugar e caminhava apressado para a parte de dentro, segundo o que Lennon tinha dito, faltavam apenas cinco minutos para Diego entrar no palco.

Tudo passou como um borrão, não via nada e nem ninguém, só queria chegar logo ao lugar que ficaria para assisti-la cantar. Perguntou para um segurança por onde teria que ir para chegar aos camarotes e foi levado até lá. Em poucos segundos já se via no primeiro camarote, o mais próximo do palco.

Nem viu quem estava ali e se assustou quando uma mão apertou seu braço. Virou-se assustado e quase caiu no choro ao encontrar o sorriso amoroso de dona Bahia.

- Oi, meu filho – ela não esperou resposta e o puxou para um abraço.

Ali Amaury viu que era realmente forte, pois conseguiu se manter em pé sem desabar no abraço da mulher que sempre o tratou como um filho e que ele amava tanto e sentia tanta falta. Ele retribuiu o abraço apertado e não conseguiu dizer nenhuma palavra, tinha medo de chorar se tentasse.

Ele se afastou e ela lhe sorriu novamente, fazendo carinho em seu rosto. Amaury ia tentar dizer algo quando ouviu a voz de Lennon anunciar a Diego e se virou rapidamente, esquecendo tudo.

O mundo parou quando ela entrou no palco. Não existia ninguém além dela, o lugar era só dela, o mundo foi feito para que ela existisse. Sua pele reluzia, seu rosto era perfeito, o cabelo loiro esvoaçava conforme os movimentos da música. A saia de couro deixava pouco para a imaginação, mesmo com a bota até metade das coxas. Ele conhecia a parte de cima da roupa, era o body de oncinha que ela usou na primeira vez que se beijaram de verdade em um show. Seu peito, mais uma vez, apertou em saudade.

A voz dela era uma potência e seu domínio de palco era quase magico. Amaury tinha uma mínima noção de que haviam dançarinos com ela, mas não podia e nem queria tirar os olhos de Diego. Ela roubava toda a atenção do lugar, independente do que significava para ele, mesmo que não a conhecesse, mesmo que fosse a primeira vez que a via, ele sabia que seria da mesma forma. Não tinha para onde olhar, para onde focar, além dela. Ela era uma força da natureza.

Ele mal respirava durante o show inteiro, Erika permaneceu ao seu lado o tempo todo e vez ou outra segurava sua mão. Era incrível como seu lado materno sempre sabia quando ele precisava mais de apoio. Ele não queria nem pensar em como estava parecendo. Não importava, nada importava além dela.

Diego cantava e interagia com o publico. Sua risada e animação era tão contagiante, seu brilho parecia invadir o coração de todos. Amaury tinha vontade de estar ali colado na grade ao lado dos fãs que se esgoelavam e choravam diante dela. Ele também queria se esgoelar e gritar para ela.

Então o show chegou ao fim, era a ultima musica, Diego estava prestes a se despedir quando parou olhando para tras, em direção a Lennon e fez um sinal.

- Não está no planejamento e provavelmente hoje serei responsável por alguma veia explodindo na cabeça da Larissa – ela fez uma careta se desculpando, arrancando risadas de todos – Mas quero cantar mais uma, essa ninguém conhece ainda.

Amaury estava de mãos dadas com Erika quando um estrumental baixinho começou e ele viu Diego parando no centro do palco com os olhos fechados. Ela girou o pescoço para se alongar, respirou fundo e começou a cantar.


E hoje que eu sonhei com você

Parece que não dá pra te esquecer

No sonho eu te beijava até o amanhecer

Até o amanhecer


Ela abriu os olhos e deu um meio sorriso ao cantar. Sua voz era grave e suave ao mesmo tempo, carregava todo um coração naqueles versos.


Quando eu acordei eu me senti sozinho

O meu coração virou quarto vazio

Ai ai ai

Eu penso em você demais ai ai

Do inicio do dia até o fim

Conto as horas para você olhar pra mim

Ai ai ai


Então ela olhou para cima e seus olhos se encontraram. Ela continuou cantando sem desviar o olhar em momento algum. Amaury não respirava naquele momento. Ele se sentia cair em um buraco sem fundo, uma queda infinita. Ao mesmo tempo que estava seguro por um fio e o fio era a voz dela.


E pra você tanto faz

Você nem chegou e foi embora

Se for voltar só não demora


Ela estava falando dele? Era para ele aquela letra? Diego ainda o prendia pelo olhar, mesmo separados por uns quinze metros, Amaury estava ali, preso pelo brilho dourado, não conseguia nem piscar. Seu coração batia completamente errado e fora do tom.


E hoje eu nem escondo mais

Eu quero estar onde cê está

Eu não me canso de esperar.

SaudadeOnde histórias criam vida. Descubra agora