Cinco

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Vandami subia os trechos íngremes do terreno o mais rápido que podia. Tentava acelerar o passo sem balançar Aurora em seu colo. A menina choramingava baixinho, ainda assustada. Ele a pressionava com cuidado contra o peito e tentava esconder os olhinhos brilhantes e inquietos em seu pescoço. 

O estampido do tiro fez com que parasse de repente. Respirava ofegante. Pensou em voltar, mas logo desistiu. Sabia o que Oto desejaria. Jamais o perdoaria se retornasse com Aurora. Precisava continuar. 

***

Um paramédico do resort tentava fazer Brisa voltar à consciência. Guerra se comunicava com as equipes de segurança para tentar descobrir o que estava acontecendo. 

Martina andava de uma ponta a outra do corredor. Afastou-se da entrada principal. Encostada em uma das pilastras de um mezanino, ocultava-se da vista da pequena aglomeração. Fechou os olhos e respirou fundo. Sentia um nó na garganta. Pela segunda vez. 

Sua mão tremia ao verificar quem ligava para seu celular. Atílio. 

Não teve coragem de atender. Teria que contar do tiro e da incerteza. 

Chiara segurava a mão fria da irmã ainda pálida e zonza. Brisa se esforçava para ajeitar a postura sobre o poltrona. Sentia os músculos do ombro pesarem mais do que todo o resto do corpo. As lágrimas corriam pesadas em seu rosto. 

Pôs-se de pé em um movimento brusco ao avistar Vandami entrando no saguão com Aurora nos braços.

- Minha filha! Aurora! 

Vandami entregou Aurora para a mãe sem coragem de encarar Brisa nos olhos. Temia enfim saber o que tinha acontecido após o tiro que ouviu.

- Ela tá bem, Brisa. Não tá machucada.

- E Oto, Vandami?! Cadê o Oto? Cadê ele?

Vandami levantou os olhos. Encararam-se com um temor compartilhado no olhar.

- Eu não sei, Brisa. Eu ouvi o tiro, mas já estava longe com ela. O Oto pulou sobre o Ari quando ele deu um vacilo, para que eu pudesse pegar a Aurora. Os dois caíram no chão em confronto. Mas depois eu saí. Não sei... - hesitou.

Brisa apoiou a mão no ombro do amigo. Seus olhos tremiam cheios d'água. Apertava forte a filha em seu braço. Sentia a força voltar a faltar em suas pernas. Deslizou ao chão.

Vandami tentou ampará-la. Abaixou junto a ela. Ajoelhada no chão, ela tentava respirar com o choro preso na garganta. 

- Eu quero o Oto, Vandami! Ele não pode...não pode... Alguém traz meu amor de volta!!! - sua voz se elevava sufocada.  Sentia a necessidade de gritar para retomar suas forças, mas ao mesmo tempo tentava aconchegar a filha em seus braços. 

- Calma, minha amiga. Foi um tiro, a gente não sabe o que aconteceu. Eu sinto que ele vem. Eu confio nisso. 

- Oto...Eu não posso, Vandami... eu não sei ficar sem ele. Não sei. Não sei... - as palavras saíam tremulantes e murmuradas. 

Guerra tentava levantar a filha do chão. Brisa sequer respondia ao que ele dizia a ela. Seus olhos se arregalavam preenchidos de lágrimas densas, fixados na direção da porta. 

Chiara fez menção de pegar Aurora, mas Brisa segurou a filha apertado entre os braços, instintivamente. 

- Oto, meu amor... - dizia para si mesma, baixinho. - Aparece. Volta...pra mim.

Apertava os lábios na vã tentativa de segurar as lágrimas que caíam como estilhaços sobre as costas de Aurora. Seus olhos tremulavam vidrados na porta vazia. 

Dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora