A Cidade dos Dutos, um gigante de metal e neon, se erguia como uma colmeia vertical onde o tempo parecia se dobrar. Os níveis inferiores, onde a luz do sol nunca alcançava, eram uma prisão de vapor, fuligem e trabalho incessante. E lá, no coração de uma rotina opressiva, o Refúgio do Aço era um refúgio de esquecimento.
Velma, a dona do bar, tinha o olhar de quem já tinha visto demais. Seus olhos observavam o movimento no bar como um diretor que analisa seu set de filmagem, calculando cada cena antes que ela se desenrolasse. Para os anões modificados que frequentavam o lugar, Velma era mais do que uma simples proprietária; ela era uma confidente silenciosa, uma espécie de terapeuta involuntária. Ela entendia que o que eles precisavam não era apenas uma bebida, mas um espaço para recuperar o que restava de sua humanidade. Velma conhecia o bar e cada frequentador com um detalhismo clínico – talvez uma necessidade inconsciente de ter controle sobre algo em uma cidade que tirava tudo.
Grak, com suas próteses de aço, era o centro do grupo de anões que se reunia todas as sextas-feiras após o expediente. Ele sempre tinha uma piada na ponta da língua, um sorriso pronto para aliviar a tensão que pairava no ar pesado do bar.
— Está achando que essa sua máquina ainda aguenta mais uma rodada? — perguntou Grak, apontando para a velha máquina de realidade virtual que Velma mantinha no canto. A máquina era uma relíquia do passado, um fliperama que transportava seus usuários para mundos digitais cheios de aventuras. Ela sentiu uma fisgada de arrependimento quando ele colocou o visor, mas já era tarde demais, e um som agudo cortou o ambiente.
Velma olhou para ele com uma sobrancelha arqueada. Sabia que o fliperama estava ficando imprevisível, mas não tinha tempo nem dinheiro para trocá-lo.
— Se ela quebrar, você vai ser o responsável por consertar — brincou, o sorriso forçado escondendo uma preocupação que ela não podia ignorar.
Grak colocou o visor com sua habitual confiança, e o bar continuou a murmurar ao redor. Os outros anões estavam ocupados em suas próprias conversas, tentando se distanciar mentalmente da semana brutal que haviam enfrentado nas minas de sucata tecnológica.
Mas então, aconteceu. Um estalo agudo. A tela piscou de forma irregular. Grak, ainda com o visor, começou a se contorcer.
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O Caso do Fliperama Fatal
Mistério / SuspenseNa Cidade dos Dutos, onde o neon ilumina sombras de segredos inconfessáveis, o fliperama do Refúgio do Aço era apenas um resquício de diversão. Mas quando Grak, um trabalhador modificado, morre ao usar a máquina, Velma e Brock mergulham em um mistér...