Michael Wheeler|Point of view.
Hawkins, Indiana.
─ Obrigado, On. -Agradeci e deitei minha cabeça no ombro dela, voltando à olhar outra vez para a televisão.
─ Não me agradeça, Mike. ‐Respondeu quase que de imediato e eu olhei para ela. ─ Isso não é sobre mim, não poderia ter outra reação. -Sorriu mínimo.
─ Você teria direito de ficar brava, de dizer alguma coisa ruim... mas não fez. -Peguei na mão dela. ─ Estou te agradecendo por ser uma ótima amiga. -Sorri.
Ela sorriu de volta e desviou o olhar.
─ Sempre. -Murmurou e eu sorri ainda mais, assentindo. ─ Mas você não falou muito sobre... -Me olhou outra vez.
Mordi o interior da minha bochecha e desviei o olhar.
─ Eu ainda não sei direito o que sou. -Fui sincero. ─ Eu tô processando todos esses sentimentos ainda, é bem confuso... -Suspirei.
─ Não posso imaginar como deve ser. -Acariciou minha mão com o polegar. ─ Mas você tem meu apoio independente de qualquer coisa, Mike. -Sorriu.
─ Eu sei. -Sorri de volta e ela quem deitou a cabeça em meu ombro dessa vez.
─ O que você pretende fazer agora? -Perguntou, o que me fez franzir levemente o cenho em confusão.
─ Como assim? -Indaguei confuso.
─ Mike, como eu disse... eu já havia reparado há um tempo, só queria saber por você primeiro. -Me olhou sem tirar a cabeça do meu ombro. ─ O que você pretende fazer em relação ao Will, eu quis dizer.
Senti minhas bochechas ganharem um forte tom rosado no mesmo instante, desviei o olhar e cocei a nuca com a mão livre.
Havia sido pego no flagra.
─ Ah... -Limpei a garganta. ─ Você percebeu algo? -Franzi levemente o cenho.
─ Eu não sei bem dizer... -Ela começou. ─ Você parece diferente toda vez que o Will chega perto, você tem um cuidado a mais com ele que não tem com os seus outros amigos. -Explicou. ─ Eu pensei em te perguntar, mas sabia que você não faria nada pra me magoar... -Foi sincera e desviou o olhar. ─ E você parecia nem perceber.
─ Eu não sei como me sinto em relação à ele, pra ser bem sincero... -Suspirei. ─ Eu me senti... estranho? -Fiz uma pausa e franzi o cenho. ─ Estranho. Enfim, ontem. -Expliquei. ─ E logo vim conversar com você, não achei certo. -Desviei o olhar.
Olhei para nossas mãos entrelaçadas e as separei, logo usei minhas duas mãos para brincar com seus dedos como forma de distração.
─ Como você se sentiu? -Perguntou curiosa.
─ Diferente... -Passei uma mão pelo meu cabelo e bufei. ─ Eu não sei, eu só me sinto bem. -Olhei para ela. ─ Eu sinto algo bom quando fico perto dele... -Franzi levemente o cenho, ainda era estranho dizer algo assim.
─ Você se sente ansioso? Frio na barriga? -Me encarou.
─ Não, não... definitivamente não. -Levantei as sobrancelhas. ─ É uma calmaria sem fim. -Tentei explicar. ─ É só... muito bom. -Suspirei, desistindo de tentar explicar.
Era difícil colocar em palavras como eu me sentia, era algo único que não parecia poder ser descrevido com qualquer palavra que eu dissesse.
─ Entendi. -Sorriu mínimo. ─ Você vai falar com ele?
─ O que? Não! -A encarei com os olhos arregalados mas aos poucos minha expressão foi relaxando. ─ Quer dizer... não sei... eu acho que não. -Respirei fundo.
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─ E por quê? -Franziu o cenho. ─ Você deveria. -Deu de ombros.
─ Você acha? -Franzi o cenho e a encarei. ─ Eu ainda nem sei direito o que sinto...
─ Olha, Mike. -Começou e se sentou direito no sofá, logo se sentando de lado por cima de suas próprias pernas. ─ Acho que de certa forma você sabe sim. -Levantou as sobrancelhas. ─ Você sente vontade de beijar ele?
A pergunta foi tão direta que me fez engasgar com o nada, meus olhos arregalados a encarando em descrença.
─ Eu... não sei...? -Falei atordoado, imaginando.
Beijar o Will? Acho que eu não tinha pensado nisso ainda.
Beijar o Will?
Beijar o Will...
Beijar outro garoto?
─ Certo, entendi. -Ela disse, me tirando dos meus próprios pensamentos antes que eu acabasse surtando outra vez. ─ Você não precisa fazer isso ainda se não se sente pronto. -Ela explicou e pegou na minha mão. ─ Mas você tem que saber que é livre, Mike... que você pode, pode se assim quiser. -Sorriu.
Livre...
Eu era livre para beijar outro garoto?
Era livre para Beijar Will?
Sorri e senti minhas bochechas esquentarem outra vez, desviei o olhar, tentando disfarçar um pouco o sorriso que só queria crescer cada vez mais em meus lábios.
─ Eu sei... -Murmurei baixinho e mordi o lábio inferior.
Por alguma razão, depois de ouvi-la eu me sentia tão eufórico.
─ Ótimo. -Deu um aperto leve em minha mão antes de solta-lá. ─ Mas agora... -Levantou do sofá. ─ Você passou o dia todo aqui e já está escurecendo. -Andou até a janela da casa e puxou a cortina, olhando para a rua. ─ Na verdade já escureceu. -Levantou as sobrancelhas.
Levantei do sofá também e andei até o seu lado, olhando também.
─ Nem percebi que fiquei tanto tempo aqui. -Franzi levemente o cenho.
─ Nem eu. -Ela riu. ─ Não sabia que conseguia falar por tanto tempo. -Brincou e eu soltei uma risada nasal. ─ Melhor você ir, meu pai já deve estar chegando. -Me olhou. ─ Se ele chega aqui e te vê, sua liberdade vai pro ralo.
Dei risada, negando com a cabeça.
─ Eu realmente não quero pagar pra ver. -Falei e andei até a porta, ela foi também e abriu a mesma. ─ Obrigado de novo, On. -Sorri.
─ Já falei pra não me agradecer. -Sorriu de volta e se aproximou, me abraçando.
Senti algo no peito, mas era uma sensação muito boa.
Passei meus braços em volta do seu corpo e a puxei mais para perto, a abraçando de volta. Fechei meus olhos e descansei o queixo em seu ombro.
─ Você é minha família. -Sussurrei baixinho.
─ Você também é minha família, Mike. -Sussurrou de volta e senti ela acariciar os fios da minha nuca.
Sorri abertamente e a abracei mais apertado.
De repente um barulho de carro fez presença por perto, fazendo com que nos afastassemos no mesmo segundo pelo susto.
─ Vai, antes que meu pai te veja. -Ela falou baixinho e praticamente me empurrou pra fora da casa. ─ Até depois, Mike! -Disse e fechou a porta, não me dando nem tempo de raciocinar.
