Os meus braços já doem por tirar e colocar tantas roupas. Eu estou experimentando todas que parecem servir e, se não ficarem muito ruins ou forem caras demais, Harry diz que levaremos. Eu sempre sonhei em ter mais roupas, mas essa situação está muito, muito estranha.
Em mais de uma hora, eu pensei em várias razões para ele estar fazendo isso, mas não cheguei em nenhuma conclusão. Quero perguntar o que está acontecendo, mas ele disse que é para me manter em silêncio quando houverem outras pessoas por perto — principalmente agora, com as atendentes da loja.
Saio do provador e olho para Harry, que está sentado mexendo em seu celular. Ele me olha e mantém o seu olhar grudado em mim. Parece pensar em mil coisas antes de se virar até a mulher que o encarava de lado sem muita descrição — bom, ele realmente é muito bonito.
— Vamos ficar com essa blusa também. — sorrio grande, é um moletom preto e comum que me esquentará bastante em dias frios. A mulher assente, ela veste o uniforme rosa da loja, tem cabelos pretos curtos e olhos castanhos.
Volto para o provador e tiro a blusa e o short jeans — que Harry disse que também levaria há alguns minutos —, pego a última peça que tenho para experimentar, é um vestido vinho.
O vestido é bonito. O seu tecido é grosso e quentinho, com um decote em U e mangas pequenas, o seu cumprimento vai até a metade das minhas coxas. Ele é grosso o suficiente para disfarçar a minha magreza, colado o suficiente para me deixar um pouco desconfortável, mas longo o bastante para que eu não sinta vergonha.
— Não me lembro de ter escolhido esse vestido. — murmuro ao sair do provador, nesse momento a atendente sorri de orelha a orelha.
— Eu quem escolhi, e acertei na escolha. Você está linda"
— Obrigada. — fico envergonhada e encaro Harry esperando a sua reação.
— Vamos levar esse. — ele diz. Tenho a impressão de ter visto um brilho estranho em seu olhar antes de voltar a agir de forma indiferente. — Vista as suas roupas e vamos embora. — faço o que ele diz e volto para o provador tropeçando nos meus chinelos.
Me olho no espelho uma última vez antes de e vestir e ir com a peça nos braços em direção ao caixa.
Vejo Harry parado em frente ao balcão conversando com uma mulher diferente da que nos atendeu. Essa é morena de cabelos curtos, tem marcas de expressão debaixo dos olhos e é baixa — e esteve nos observando desde o início.
— Vamos? — ele me chama, eu forço um sorriso para a funcionária da loja e ela olha no fundo dos meus olhos. Quando vou pegar uma sacola do balcão, rapidamente ela coloca um papel dobrado na minha mão.
Umedeço os lábios e olho para o homem que me espera do lado de fora. Ele segura as sacolas e está me olhando de forma desconfiada, o sigo sem olhar para a funcionária outra vez e logo estamos parados perto da sua moto.
— Como vamos levar tudo isso?
— Você leva metade aí atrás e eu metade aqui na frente. — franzo o cenho, achando isso complicado demais — Vou ir mais devagar, então não terá perigo.
— Está bem. Por que estamos comprando tudo isso?
— Te digo em casa.
— Está bem. — repito e sinto uma sensação estranha em minha barriga. Estou ansiosa e feliz por comprar as roupas, mas ao mesmo tempo com medo da mulher fazer algo e me perguntando porque ela desconfiou de alguma coisa.
Harry segura todas as sacolas até que eu me sente atrás dele na moto, então as dividimos e eu passo a segurá-las enquanto ainda tento me manter firme no banco.
Quando estamos a menos de cinco minutos de distância de casa, um leve chuvisco começa a nos molhar. Meu coração dispara e eu me sinto tão eufórica que quase me desequilibro.
— Está chovendo! — eu grito.
— Já estamos chegando. — ele diz como se a chuva fosse um problema. Eu gargalho quando desço da moto num pulo. Fecho os olhos e deixo os pingos finos me molharem. Sinto as sacolas serem retiradas das minhas mãos, mas não me importo — Que droga você está fazendo?
Abro os olhos e estou a ponto de responder Harry quando ouço risadas ao longe. Há um caminhão em frente à casa que acabou de ser vendida, homens estão rindo enquanto descansam sentados no meio-fio, provavelmente após carregar móveis e coisas do tipo. Quando sinto uma mão quente envolver o meu braço, finalmente me desperto e o olho.
— Está na hora de entrar. — ele diz baixo. Os seus olhos esverdeados estão assustadoramente escuros e eu não consigo fazer nada além de assentir e perder qualquer sentimento positivo que estivesse passando por mim.
Ando em passos desanimados até dentro de casa e engulo em seco. Provavelmente não é uma boa ideia falar com ele, mas a curiosidade está entalada em minha garganta.
— Agora pode me dizer? — tiro o cabelo molhado do meu rosto.
— Ahn? — ele pergunta enquanto tira a camisa molhada e a joga no chão perto da porta.
— Por que me comprou roupas novas?
— Uma família vai se mudar para a casa no fim da rua, para eles você é a minha irmã mais nova e mora comigo.
— Entendi. — digo um segundo antes de começar a tremer de frio. Ele sai para o seu quarto sem dizer mais nenhuma palavra.
Ensopada, eu ando até o meu quarto e tiro as minhas roupas molhadas. Pego uma toalha e me seco rápido antes de vestir um dos moletons que ganhei. Eu abro as sacolas uma por uma em cima da cama e todas as roupas caem sobre o colchão, na oitava, um papelzinho cai em cima de uma pequena pilha de shorts. Eu o pego sentindo o meu coração acelerado, e desdobro-o até que possa ler o que está... estava escrito ali.
DORA 67
Não consigo entender nada além do seu nome e os dois primeiros números do seu celular, o restante dos números está manchado e ilegível. O papel molhou por causa da chuva. Suspiro e sinto um aperto enorme no peito. Agradeço mentalmente à Dora por tentar me ajudar.
Volto para a sala e pego a camisa que Harry deixou jogada no chão. Depois que a coloco junto das minhas roupas na máquina de lavar, vou para a cozinha.
Estou preparando o jantar quando o meu olhar cai sobre a faca que está em cima da pia. Uma mistura de raiva, mágoa e tristeza me golpeiam.
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Valentine - Livro 1
Mystery / ThrillerQuando criança, Valentine diversas vezes fora alertada sobre não conversar com estranhos, não ir a lugar nenhum com quem não conhecia e todas essas coisas que pais sempre alertam aos seus filhos. O problema é que nada disso a impediu de seguir um jo...