(Camila)
— Que fique bem claro: a responsabilidade destes uniformes a partir deste momento é de vocês! Eu precisei subornar a diretora para conseguir verba, e aqui está o resultado. — dizia Sue com orgulho. Ela andava de um lado para o outro marchando enquanto o time se dividia em três fileiras, mãos para trás, postura reta, quase uma formação militar. — São novos, únicos, e diferenciados. Os estraguem e eu estrago a vida de vocês. Entendido?
— Sim, treinadora! — respondemos em uníssono.
Sue assentiu, folheando o livro que carregava em mãos por alguns instantes antes de voltar-se para nós.
— As Regionais serão daqui algumas semanas, eu quero que vocês malhem, treinem, deixem de viver para focar somente nisso. Não me importo com a vida pessoal de vocês, apenas tenham em mente: eu quero e vou vencer esse campeonato! — afirmou com tanta convicção, que por um instante senti confiança em suas palavras. — Eu encorajo vocês para serem campeãs. Vocês vão para faculdade? Eu não sei. Não me importo. Mas se quiserem ter reconhecimento e honra, dediquem-se fielmente ao que temos aqui!
E ela estava certa. A mudança de uniforme foi uma jogada e tanto para as Regionais, nenhuma outra escola jamais fugiu dos padrões de uniformes das cheerios, e arriscar essa mudança nos tornaria alvo das fofocas, sejam elas boas ou más. Nossas roupas agora eram na cor bordo com cinza, o que contrastava com o tom da minha pele e a blusa fora trocada por cropped de manga longa. Perfeito. Aquele uniforme definitivamente era o ponto x que faltava em nossa equipe.
— Cabello, eu quero que você supervisione as garotas em tempo integral! Faça algo útil nessa sua vida! — reclamou Sue e eu assenti. Algumas garotas do time estavam saindo da dieta, e paranoica da forma que era, a treinadora passou a pesar uma por uma pelo menos duas vezes na semana. — Estão dispensadas!
Suspirei pesadamente ao liberar meu corpo da postura rígida. Ouvi alguns murmúrios de alivio de algumas garotas, a atmosfera tensa da quadra sendo substituída pela leveza do término das aulas, e o sentimento de estar livre de Hitler. Ou Sue.
— Camila! — ouvi meu nome um pouco distante e girei o corpo encontrando Alycia, já com sua bolsa vermelha de lado e uma garrafa de água em mãos, pronta para ir embora. — Você já falou com a treinadora sobre as músicas?
Dei de ombros quando a pergunta de Alycia chamou atenção das outras garotas. Elas tinham deixado a responsabilidade de conversar sobre as músicas em minhas mãos, e sendo a capitã, nada seria mais justo. Seria uma pena se a treinadora nunca me ouvisse, determinada a colocar, pela quinta vez consecutiva, uma tracklist da Madonna.
— Eu já tentei inúmeras vezes, acredite. — respondi com indiferença. Tirei uma toalha de dentro da bolsa que estava sobre um banco de madeira e enxuguei meu rosto, pescoço e nuca. — Na última vez ela me mandou para um lugar não muito legal, então acho que é melhor tirarmos essa ideia da cabeça.
Alycia revirou os olhos em desdém, ela sempre fazia isso quando queria me chamar de incompetente.
— Não me surpreende que não tenha conseguido. — murmurou dando-me as costas. — Mal consegue manter a máscara perfeita, que dirá um diálogo com Sue sem colocar o rabinho entre as pernas.
Abri e fechei a boca, as outras garotas abaixando a cabeça ao ver a veia saltar no pescoço da capitã.
— Sua mãe não vai poder proteger você para sempre, Alycia! Guarde bem o que estou dizendo! — rosnei com os punhos cerrados.
A garota continuou seu caminho para fora da quadra sem alterar-se com o que eu havia dito. Era sempre assim, Alycia era imune ao meu status e se aproveitava disso, mas ela estava muito enganada se pensava que eu deixaria as coisas assim. Apenas eu sei que Lauren e ela estavam aos beijos por aí.
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Uncover
Romance"Minha inocência permitira naquele momento que eu ficasse petrificada por breves segundos, admirando as pedras preciosas que Lauren carregava em seus olhos. Foi o primeiro contato de nossos olhos, mas a pequena garota desastrada dentro de mim teve a...