Prólogo

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''Oi amor, tudo bem?

Se você está lendo essa carta antes do seu aniversario provavelmente estava mexendo nas minhas coisas, - Vamos conversar sobre mexer nas gavetas sem a permissão mais tarde. Seria seu presente, o último da noite. Me lembro bem da pequena Aly, a briguenta da casa da frente, você quase quebrou meu braço por causa da sua boneca de pano, amor, se lembra? Eu me lembro bem. Adorava te ver brava – não mudou muita coisa-, na verdade adorava te ver brava comigo era o único momento que eu sabia que tinha todos seus sentimentos, por mais maldosos que fossem, diretamente para mim.

A menina mais linda que vi em toda minha vida, já disse que eu amo seu sorriso mais do que qualquer coisa no mundo? Lembro desse sorriso sapeca depois de você me beijar no jardim da minha casa enquanto nós brincávamos de lutinha. Eu me senti o garoto de treze anos mais feliz do mundo por saber que você também me queria e foi mais corajosa do que eu para tomar uma iniciativa sobre os seus sentimentos. Sempre bem resolvida. As confusões que me meti por sua culpa resultaram em boas risadas, as janelas do seu quarto sempre quebradas pelas tentativas de ser romântico e às vezes que segurei sua mão, minha Aly, tudo valeu a pena.

Crescer do seu lado e ver você se tornar essa mulher forte, linda e incrível me deixa tão feliz e saber que você me escolheu para acompanhar todo esse processo, dobra minha felicidade. Espero estar do seu lado até esses vinte e quatro anos virarem setenta ou oitenta, e você ser a idosa com alma de menina e que tem medo de palhaços.

Te desejo todo amor do mundo, principalmente o meu e quero que saiba que vou estar na primeira fileira da sua formatura te aplaudindo e sentindo pena dos criminosos porque eu sei que você vai ser a melhor, mais sexy e mais linda detetive de toda cidade, estou ansioso por você, querida. Eu te amo e sei que você já deve ter achado o presente, mas ainda sim preciso de uma resposta. Quer se casar comigo?''

Uma lágrima molhou o papel pardo de caligrafia impecável, deveria ser a centésima vez que ela relia aquela carta. Apertava a pequena caixa na mão direita e com o antebraço esquerdo cobria os olhos, sabia que ele odiava vê-la chorar. Mas, ele não estava mais lá. Seus joelhos cederam e foram ao chão.

Ela se permitiu chorar alto. Sentia-se estúpida, por algum motivo, e nem era culpa dela. O ar faltava e a dor corria entre suas veias, seu corpo gritava implorando por ele e tudo que encontrava era o vazio de um quarto frio com o cheiro do perfume marcante que ele usava. Abraçou o próprio tronco buscando um refúgio.

Não o veria mais, e sua mente era ocupada pelo som da risada contagiante e do olhar amoroso que ele sempre a lançava. Sua boca seca repetia ''eu aceito'' como um mantra entre os soluços incontroláveis. Segurou a respiração por alguns segundos quando a imagem dele jogado ao chão com a camisa molhada de sangue a atingiu como uma lâmina. Eles não precisaram de um voto diante da igreja e do juiz para que a morte os separasse.


7 de CopasWhere stories live. Discover now