Capítulo 9

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"Apenas você tem o dom de mudar meu destino. É só me tocar com seus olhos pareço um menino. Deitado em seu colo o mundo não me surpreende, sou homem maduro, mas na sua frente, não sou mais que um menino.

Você tem a luz que ilumina o nosso caminho, depois de você descobri que não sou mais sozinho. Você é o amor que a vida me deu de presente, sou homem maduro, mas na sua frente, não sou mais que eu menino.

Você me abraça e a tristeza vai embora, a dor que existe fica da porta pra fora. A gente briga, mas é coisa que acontece, logo o coração esquece porque a gente se adora."

Pareço um menino - Fábio Júnior

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- Eu me senti o mais feliz dos homens por tantas vezes lá dentro, eu tracei planos para nós em minha cabeça. Quando estávamos bem era perfeito, você me cuidava, me ouvia, era amiga, era parceira nas minhas loucuras. Ao seu lado eu podia voltar a ser menino, a brincar, a ser irresponsável, eu conseguia ser eu mesmo. Eu só queria te proteger, Emy. Podia não ser a forma que você queria, mas era a minha forma e, acredito que lá dentro eu tenha conseguido por um bom tempo. Faltou maturidade emocional para lidarmos com aquilo tudo, a gente tava no olho do furacão, eu achava que era mais forte que você para segurar aquilo tudo mas não era. Essa sua força, a sua determinação me deixavam encantado. Você foi uma guerreira, mesmo sob ataque de todos os lados, até meus às vezes, não se deixou abater, por mais que brigássemos, e brigávamos muito, você sempre voltava pra mim, isso me encantava. - Ele levantou o olhar pra ela, precisava olhá-la, precisava saber se ela estava entendendo aquilo tudo.

- Tu tá conseguindo me acompanhar? Me entender. - Ele perguntou franzindo as sobrancelhas.

- Tô! - A resposta dela veio num fio de voz.

- Eu me achava melhor que você....

- Marcos!!! - Dessa vez a voz dela foi bastante sonora.

- Calma, vou explicar melhor! - Ele levantou a mão em sinal de paz - Eu me achava mais vivido, imagina, eu já tinha passado por tanta coisa, tinha tido sete relacionamentos, estudei fora, viajei o mundo, tinha minha carreira consolidada e você...

- Era uma menina, tá, já entendi essa parte! - Ela falou virando os olhos e com tom de ironia.

- Não era isso que ia dizer. - Ele respondeu sério. - Você tava começando a viver, Emy. Eu tinha toda a minha experiência de vida para te oferecer, toda uma bagagem e achei que era isso que você precisava. Pode parecer esnobe da minha parte, mas não achei que você tinha algo pra me ensinar. Só que você tinha e eu não soube aprender com você. Você sabia viver, curtir a vida, aproveitar a mágica do momento, você sabia se entregar, sabia proteger, acolher, cuidar. Você sabia amar, Emy, amar de verdade, sem rótulos, sem meias palavras ou meias verdades, sem preconceitos, você se entregava sem medo, sem barreiras. Cara, eu não sabia ser assim, tu me assustava, a intensidade com que você demonstrava seus sentimentos, bons ou ruins, era enorme, eu admirava muito isso em você, mesmo que eu não dissesse, eu te admirava muito. Você brilhava! Quando você dizia isso eu chamava de deslumbre, egoísmo, mas tu tava certa, você brilhava e o seu brilho incomodava a todos, até a mim as vezes, por medo de não conseguir te acompanhar. Você sonhava alto e eu tentava te trazer pra realidade. Mas de verdade, lá no fundo o que eu queria era sonhar junto com você, fazer dos seus sonhos os meus sonhos, os nossos sonhos, mas eu não conseguia e fui me sentindo derrotado, perdido, eu não conseguia te acompanhar.

- Que pena, a gente teria conquistado o mundo sonhando juntos! - Ela falou com tristeza.

- Eu sei. Eu sei. - As mãos foram de novo para o rosto. Mais uma respiração funda. Ainda tinha um longo caminho pela frente.

- Você me deixava louco, em todos os sentidos. Eu me perdia em seu corpo, na sua voz, nas intimidades surradas embaixo do edredom. Eu nunca senti tanto tesão em alguém, era tão forte que mesmo brigado eu só queria estar em contato com você, era uma necessidade visceral de tocá-la, de transar, de beijar, de abraçar, de dar carinho. Era tudo misturado. Quando você chegava perto de mim o resto em volta sumia, eu precisava brigar comigo mesmo para manter o foco. Por isso eu brigava tanto pela minha liberdade de estar com os outros, eu precisava ficar longe, eu precisava manter o controle.

- Por quê? Pra provar que era mais maduro, mais adulto?

- Não, talvez até por isso também, mas não, eu não cofiava em mim com você, eu fui...

- Programado pra desconfiar! - Ela revirou os olhos ao mesmo tempo em que deu um leve sorriso.

- Eu não sabia o que iria acontecer depois, eu não tinha como saber, cada vez que você cobrava uma posição sobre nós fora da casa, que pedia elogios, declarações e gentilezas eu ia me fechando mais, eu tinha as respostas, eu só não confiava em mim para expô-las. Eu sabia que seria difícil, a distância, minha família e amigos eu tinha certeza que seriam contra, eu sabia que ia precisar brigar por nós se ficássemos juntos fora da casa. Eu queria ficar junto, eu sei que eu te disse isso e sei quando. Mas tu não me entendia e me cobrava de novo, e eu me fechava novamente. Diversas vezes quando estávamos só os dois no nosso mundo eu não conseguia controlar o meus sentimentos, nessas horas eu me tornava transparente, mais sincero, mais real, mais feliz. E era nessas horas também que eu mais te provocava, era uma forma de defesa, eu queria sua atenção só pra mim, queria que fosse só eu e você lá. Eu sabia como te provocar e usava isso pra me defender. - Ele sorriu um sorriso amarelo pra ela, ela não sorriu de volta. Ele continuou.

- Você planejava seus sonhos e eu sentia ciúmes das possibilidades que você tinha para viver ainda. Não porque eu não achasse que você tinha que vivê-las, mas porque eu não me via incluído neles. Eu sentia ciúme porque você ouvia os outros e não a mim. Eu quase morri de ciúmes naquela festa que o músico piscou pra você, eu fiquei louco, não porque ele estivesse te olhando, você é linda, é claro que vão olhar pra você e eu me sentiria orgulhoso de olharem, eu fiquei louco porque você gostou. Eu sei que você falou pra me provocar, mas não me fazia a menor diferença naquele momento. E é claro, que na primeira oportunidade eu provoquei de volta, era tão fácil te provocar. - Ele riu, ela não. - Não era por maldade, Emy, é e sempre foi o meu jeito. É só perguntar a minha irmã o quanto eu infernizei ela e ainda o faço. Às vezes eu passo do limite, com certeza, e me desculpo com você agora pelas vezes que passei do limite, sei que não faz mais diferença, mas mesmo assim me desculpo. - Os olhos se encontraram; os deles baixos; os dela cheios de ternura.

- Faz diferença sim, Marcos! Faz muita diferença!

- Que bom! - Ele realmente ficara feliz com a resposta dela.

- Naquele último paredão eu tinha certeza que iria embora, a nossa discussão no dia anterior foi muito feia, foi horrível. Eu levei quase um ano pra ter coragem de assistir as imagens daquele dia...

- Eu nunca assisti!

- Não?

- Não, seria doído demais! - afirmou Emilly, com os olhos já marejados.

- Foi doído. Tudo que senti, que você me fez sentir e o que fiz você sentir, toda a dor daquele momento, eu fiquei destruído vendo. Chorei quase o tempo todo. Eu tentei parar algumas vezes de ver mas não conseguia, eu precisava ver até o final, era como um exorcismo pra mim. – Seus olhos estavam marejados, agora era ele que estava quase perdendo o controle.

- Naquele paredão eu não fui embora, eu não fui e foi um dos momentos mais felizes com você. – seu peito saltava a cada soluço que ameaçava escapar de sua boca. – Eu não fui, Emy. Eu sei que disse naquela maldita carta que tu mudou naquele dia, que me viu como um possível ganhador e por isso havia me traído. Mas hoje eu sei que não foi verdade, que você não mudou. Eu ouvi tanto quando saí da casa, eu já estava fragilizado, destruído pela expulsão, por ouvir que tu tinha pedido pra eu sair ... – Ele fez uma pausa achando que ela iria negar mais uma vez, mas ela não o interrompeu. – O vídeo de nós comemorando na piscina é lindo! Eu chorei tanto vendo ele, quase tanto quanto o do briga, mas por razões completamente diferentes. Eu vi amor naquele vídeo, amor que eu não teria mais, que eu tinha perdido. - As lágrimas vieram aos seus olhos de uma forma que ele não conseguiu mais controlar, na verdade ele nem tentou, não tinha porque se esconder mais. 

Cosmo - Eu nunca te esqueci!Onde histórias criam vida. Descubra agora