EXTRA: Os dias em que revivo o passado.

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ATENÇÃO! Capítulo em primeira pessoa. Contém algumas memórias, então pra você não se confundir, tudo o que for memória está entre ASPAS.



JIMIN point of view.

Eu retoquei meu cabelo novamente, deixando-o num tom de rosa vivo próximo do fúscia. Acordei cinco e meia da manhã só pra isso, porque o rosa começava a desbotar, mas eu sabia que era questão de tempo até ter que descolorir e pintar tudo de novo. As mechas castanhas começavam a aparecer, e eu não podia deixá-las ali.

Isso me fez olhar no espelho e me ver. Não olhar como olho normalmente, mas ver Park Jimin como ele é. Me imaginar de cabelo castanho é doloroso e remete à lembranças que todos os dias eu evito pensar.

Não é que perceber que sou um Park seja tão horrível que nem quero lembrar, mas é que a vida me apunhalou, e eu tive que viver com o gancho do anzol nas costas. Pra ficar bem, eu preciso esquecer que ele está lá, machucando minha carne. Mas sempre tem o dia que a vida decide te pescar pra fora da sua rota, e você tem que lutar muito pra se sentir livre.

Eu sentia que hoje seria um desses dias, mesmo que nada tenha acontecido. É que lembrar do passado me arrastava de volta para ele, me arrastava para o 15 de Maio de 2011.

Recente. A ferida é nova.

Enquanto escovava os dentes, eu repassava a história mentalmente, me torturando com ela.

Então...

"Naquele dia eu tinha bebido. Eu não estava bêbado, estava um pouco lento. A grande ironia dessa história é que pela primeira vez eu voltava assim pra casa, porque quando mais jovem eu não era de beber. Hoje eu gosto. Enfim... Eu cheguei de uma festa do interior um pouco alto e fui pra cama. Eu não me troquei, eu não escovei os dentes, eu não tirei o sapato."

Cuspi a pasta de dente na pia, lavando a boca em seguida. Agora ia fazer o café, ainda repassando a minha história mentalmente.

"Acordei quinze minutos depois com alguns gritos. Minha mãe estava grávida, grávida aos trinta e nove, então o médico já havia nos avisado. Qualquer sinal de coisa esquisita e incomum, mamãe precisava ir ao hospital. Era uma gravidez de risco, afinal.

Levantei desorientado, mas nem tive tempo de calçar os chinelos e sair, porque minha mãe invadiu meu quarto pedindo ajuda. Ela estava com dores fortes e anormais, e precisava que fossemos ao pronto socorro.

Me lembro de ter perguntado sobre o papai.

— Mas e o papai?

Eu os chamava assim.

Ela disse que não sabia.

Eu não fiquei pensando sobre isso, embora tivesse achado estranho que meu pai ainda estivesse no churrasco do amigo dele. Além do mais, a recomendação era que mamãe sempre fosse acompanhada.

Peguei a chave do carro dela, coloquei um casaco de pano sobre seus ombros e nós saímos apressados. Ela chorava muito, então eu estava desesperado. Ela chorava de molhar toda a bochecha, de respingar na roupa, de emitir grunhidos de dor.

Eu me assustei com aquilo. Dirigi rápido.

Mas no interior nada é como na cidade. As pessoas dirigem bêbadas, elas saem com o carro pra zoar dentro dele e não respeitam muito a sinalização - quando tem uma, e eu bati o carro com o de um rapaz que cochilou no volante.

Pantera ▫ pjm+mygWo Geschichten leben. Entdecke jetzt