Capítulo 2

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O avião pousou em Salvador às 13h38. Tinha o prazo de uma hora e vinte e dois minutos para chegar à casa do Rio Vermelho, residência do maior escritor brasileiro de todos os tempos.

Logo que saí do terminal não foi difícil encontrar um táxi. São muitos, da empresa "Coometas".

_Boa tarde.

_Tem bagagem? Perguntou o taxista de pele morena, fino bigode, mascando um palito.

Avisei que não tinha bagagem, apenas a pasta.

_Tiro curto, senhor?

_Volto ainda hoje.

_Vamos pra onde?

_Rua Alagoinhas, 33. No Rio Vermelho.

_Vai ver Seu Jorge.

Sim, estava realmente em Salvador. O taxista já sabia que iria até a casa de Jorge Amado.

_Seu nome? Perguntei, tentando conversar e distrair um pouco.

_Francisco, respondeu rapidamente, esboçando um sorriso.

_Vai me dizer que te chamam de Francisco? Brinquei, demonstrando amabilidade.

_É Chico – disse agora com sorriso franco e aberto. Chico da Boa Viagem.

_Pernambucano?

_Baiano. Da gema, como vocês dizem no Sul. Observador, o Chico.

_Mas e o "Boa Viagem"? Perguntei.

_Não, não é da praia não. É que o senhor vai ter uma boa viagem, entendeu? É Chico e o senhor terá uma boa viagem.

Agora sim. E foi realmente uma boa viagem, mas a primeira impressão foi estranha e ele mesmo antecipou-se.

_Já sei, esperava encontrar coqueiros, disse brincando.

Na saída do aeroporto a imagem era realmente inesperada. A avenida Frederico Gustavo dos Santos é totalmente fechada por... bambus! Não dá para ver o céu. Bonito, mas inesperado.

Logo entramos pela avenida Luis Viana, pistas largas, margeadas por moradias simples.

_É muita pobreza, senhor, comentou.

_E pensar que estamos numa cidade que é destino dos turistas de todo o mundo.

_A cidade de Jorge Amado!

Perspicaz o Chico da Boa Viagem.

Com o tempo a cidade aparece. Prédios residenciais, prédios comerciais, shopping, estádio de Pituaçu.

_Meu Baêa jogou aqui enquanto a Fonte (Nova) estava sendo reformada para a Copa.

_Acompanha sempre?

_É a diversão do povo, senhor.

A cidade toma forma. Ainda não é a Salvador de Jorge Amado, mas a capital de 2018, que sofre com o transporte público, que tem um trânsito pesado em muitos momentos, mas que não deixa de parecer hospitaleira. Olhando do táxi o povo parece ser trabalhador, simples e humilde. Se a cidade já não é aquela de Jorge Amado, a impressão primeira é que o povo ainda mantém a essência retratada pelo romancista.

Chegamos ao bairro do Rio Vermelho. Entramos pela rua Alagoinha, cheia de curvas.

_É logo ali, informou Chico, que faz o passageiro sentir-se bem, o que é facilitado pela atenção que oferece e a maneira segura que conduz seu veículo pintado de branco, mas com duas faixas laterais em azul e vermelho.

Sonhei, Entrevistei, Escrevi...Where stories live. Discover now