15 meses depois
Eu não acho que a escuridão seja algo ruim, pelo contrário, a escuridão é um luxo que eu não poderia comprar e também é a minha fiel aliada. Quando eu entrei naquela sala, eu descobri que o mal existe em forma de gente e que não se importava com as dores das pessoas. Eu não fui a primeira e também não serei a última, mas fui a primeira sobrevivente. Eles me humilharam e me transformaram em um monstro sem alma e sem vida.
Eu aprendi a enxergar na escuridão, fui obrigada a enfrentar os meus pesadelos mais profundos e fui julgada da maneira mais terrível que alguém poderia imaginar. Eu não sou boa, mas também não sou mal e sei que ainda existe esperança nesse mundo.
Nem todos são ruins e eu posso salva-los!
Do um passo a frente e me olho no espelho. Eu não me reconheço mais, houve uma época que eu era uma jovem pura e inocente, cheia de vida e alegria. Quando a minha mãe morreu, fui obrigada a mudar drasticamente para sobreviver. Eu aprendi a arte da luta graças a um senhor que era ex militar. Ele me ensinou tudo o que eu sabia para poder sobreviver nas ruas de Londres e a ajudar as pessoas que não tinham proteção. Era o que eu fazia antes de vim parar nesse inferno chamado "Palácio real."
Hoje eu sou tudo aquilo que EU mais temia e odiava... um monstro parecido com os Troianos.
Eu observo o meu cabelo, ele não é mais preto e nem brilhoso, Malia me obrigou a pinta-lo quando eu me tornei a sua guarda costa e hoje eu enxergo a neve em mim. Ele é branco como os cabelos grisalhos de uma senhora e prata como as correntes que puseram em mim quando eu estava no laboratório. Minha pele não é mais dourada e lisa, agora ela é cheia de arranhões e marcas que eu ganhei com as horas de torturas que sofri. Não foi somente isso que mudou em mim, os meus olhos não são mais marrons e sim dourados, mais não em uma cor normal, eles são dourados vivos e intensos. As vezes eu me esqueço que são os meus olhos de verdade, e acho que estou usando lentes de contato.
Eu tive 3 meses de treinamento para me tornar uma guarda costa. Hoje em dia não existem mais muitos seguranças pessoais, mas o rei cumprio a sua palavra se eu sobrevivesse e pra minha sorte eu sobrevivi. Bom, eu ganhei mais força e forma física. Minhas habilidades de lutas melhoraram. Aprendi mais golpes e voltei a usar a minha arma favorita: o arco e a flecha.
Isso tudo aconteceu graças a doutora Aria. Ela fez os testes em mim e injetou o DNA em mim. -- Eu tenho sangue Troiano nas veias, o sangue geneticamente mudado graças a radiação que o planeta sofreu, eu pareço humana, mas lá no fundo eu sei que não sou mais.
"E a cada dia que passa eu acredito que a minha humanidade foi embora e um passo em falso e eu não vou mais saber explicar o que é ser um humano!"Eu olho para o relógio em cima do criado mudo ao meu lado e vejo que já estou muiro atrasada. Pego o vestido de cima da cama e o coloco no meu corpo. Ele é preto e de renda, mangas grandes e com uma abertura lateral direita rumo a minha perna, tem um alto decote na frente tampado com um pano transparente e pequenos cristais enfeitam a frente do vestido. Calço os saltos pretos que me deram e ponho a máscara estilo borboleta toda brilhante no rosto. Estou bonita!
Uma pessoa entra no quarto e me encara. Eu me viro e vejo James bastante estiloso com seu smoking preto. Ele é a única pessoa que foi gentil comigo durante esses meses, James se tornou um amigo e um companheiro, mas eu tenho medo até onde essa amizade durará. James é um soldado do novo presidente recém eleito pelo senado, para minha tristeza o tal presidente é também o seu pai e o ex primeiro ministro... a pessoa que me odeia com todas as suas forças pelo o que fiz ao seu filho.
James não sabe a verdade sobre a morte de seu irmão mais velho, eu penso, eu o matei!
Ele está usando um terno azul escuro e a sua máscara esta em cima da sua cabeça. O seu cabelo marrom está mais curto e os seus olhos azuis brilham. James me entrega luvas de seda preta e eu as coloco. O meu cabelo está caindo em cachos comportados do meu lado direito. Tive que corta-lo, estava batendo na bunda e hoje ele bate a dois dedos abaixo do ombro. Lentamente caminhando até mim, James pega um fio de cabelo branco e o prende na presilha que está segurando boa parte do meu cabelo.
— Vamos?! — James pergunta e estendo o braço.
— Claro. — Digo colocando a mão em volta do seu braço.
Seguimos para fora do quarto e descemos as escadas. A música enche os meus ouvidos e as vozes das pessoas faz-me ficar em alerta. Todos estão usando ternos, vestidos e máscaras. A alta sociedade de toda Inglaterra está aqui, é um baile de máscaras e estão comemorando a reeleição do rei Thomas e a do novo presidente, o antigo primeiro ministro Jacob Ryes e é o pai do James.
Chegamos no salão principal e James se separa de mim. Eu começo a andar e vejo alguns soldados disfarçados de convidados para não chamar muita atenção. Eles me olham quando eu passo por eles e voltam a atenção para as mesas que estão sentados. Apesar de tudo, eu consigo passar uma desconfiança neles e todos não gostam da maneira que o rei confia em mim... alguns convidados me cumprimentam e eu faço o mesmo tentando ser o mais simpática o possível. Estou usando uma gargantilha que me dá choques se eu tentar fazer algumas gracinhas e nesses momentos eu sou obrigada a ser gentil com todos.
Encontro Malia no canto norte conversando com algumas meninas, ela está no segundo salão principal e como sempre Malia está muito bem vestida. As amigas dela estão de pé ao seu lado e rindo muito, reviro os olhos. Malia tem a minha idade, 20 anos, mas diferente de mim, ela não é monstro e sim uma jovem normal. Malia me vê e faz sinal para eu andar, e rapidamente começo a caminhar. Odeio quando ela me dá ordens, mas eu sou obrigada e não posso fazer muitas coisas para impedir. Olho para muitas pessoas e pego uma taça de champanhe. Observo tudo e todos. Nenhum sinal de alerta ou de flanadores escondidos.
Deixo a taça em cima de uma mesa de vidro e volto a andar. Eu caminho até o rei Thomas e ele faz sinal para eu me aproximar mais. A cada passada minha é um pensamento de como posso matar esse homem lenta e dolorosamente. Sou seu brinquedo preferido e eu não gosto desse cargo, apesar de muitos se matarem para estar no meu lugar... eu o vejo conversando com mais dois homens e ao parar do seu lado, os três param de conversar.
— Senhor! — Eu digo.
— Celina, esses são Maicon e Victor, novos colaboradores para os projetos inacabados do DNA X. — Thomas diz e eu os olhos.
Os dois parecem ter as mesmas idades e me olham com luxuria. Tenho vontade de vomitar, mas eu levanto a cabeça e forço um sorriso. Colaboradores – significa mais dinheiro, muitas maneiras de tentarem fazer o que fizeram comigo com outras pessoas e tecnicamente muitas mais pessoas que não aprovam o que eu rei esta fazendo para eu torturar ou matar.
— Vai ser um prazer fazer negócios com o senhor meu rei. — O homem chamado Maicon diz. — Ela realmente é muito bonita e os seus olhos são magníficos.
— Agora volte a andar. — O rei manda e eu ranjo os dentes diante dele.
— Sim senhor! — Digo forçada e eu começo caminhar novamente.
DESGRAÇADO! – Ele me quer, quer que eu os mate para ele continuar sendo rei e eu o odeio com toda a minha alma.
Olho para o canto que Malia estava e não a vejo. O meu coração começa a bater mais forte, se algo acontecer a essa menina, eles vão me torturar e também torturaram os empregados inocentes. Começo a caminhar mais rápido para o outro salão e vejo Malia sentada ao lado de duas mesas com alguns amigos. Ela está rindo e bebendo como se nada estivesse acontecendo, como se o que o pai dela faz, seja uma coisa normal e meu Deus eles são inacreditáveis. Eu reviro os meus olhos e antes de me virar alguém segura o meu braço com força e me faz ficar aonde eu estou.