s e v e n t e e n

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Evan

Você recebeu a minha carta antes da minha chegada a sua casa. Será que você conseguiu digerir a verdade e acreditar na minha versão dos fatos? com esse oi, sem sentimento algum carregado, é impossível saber.

estava perdido nos meus próprios pensamentos quando você simplesmente me perguntou:
—Quem é você, Evan?

—Como assim? —perguntei, sem entender o motivo de tal pergunta.

—Quem é você, Evan? Como e porque acreditar em você? Te olho e não te enxergo como antes.

e então, enchi meu pulmão de ar e minha mente de coragem pra falar:
—Eu sou o menino que namorou com você. mas também sou o homem que me tornei depois de você, após sua ida repentina. Eu sou o menino que gostou de você desde o momento que te viu, desde a primeira patada que você me deu. Mas também sou o homem que entendeu que gostar não era o bastante, o bastante é o amor que existe agora. Sou o menino que tentou te conquistar, mas também sou o homem que enxergou que antes tentou conquistar tudo, menos a sua confiança. Eu também fui o menino que tive capacidade de não te tratar como deveria, de viver com você um relacionamento tóxico, mas também, ainda menino, tive capacidade de muitas coisas, mas não te trair. nunca. Quem sou eu? alguém que te ama pra porra, mesmo repleto de erros.

você tentou falar algo, com lágrimas nos olhos, mas eu continuei.

—me escute. preste atenção, assim como você presta atenção em todas as músicas daquela banda que você tanto escuta. eu nunca seria capaz de tocar um corpo que não fosse o seu. você é única.

—Evan, eu não sei como lidar com tudo isso. eu não sei se tenho psicológico pra voltarmos com nosso relacionamento. —você disse.

—eu não te disse pra voltarmos. minha querida, você se acha tanto. —eu falei, tentando quebrar o clima.

você sorriu por poucos segundos, foi o bastante pra saudade bater mais forte do que os tambores do olodum no carnaval de salvador. foi o bastante pra insanidade bater e me fazer sair correndo, sem explicação nenhuma e voltar quinze minutos depois com um microfone comprado no primeiro mercadinho que vi pela frente. quando voltei você ainda estava parada em frente à porta, atordoada.

então, comecei a imitar uma cena do seu filme favorito —10 coisas que eu odeio em você— no meio da rua, de forma improvisada.

Pardon the way that I stare
There's nothing else to compare
The thought of you leaves me weak
There are no words left to speak
But if you feel like I feel
please let me know that it's real
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you

ainda estava terminando de cantar quando você se aproximou e me abraçou, e então, renovei minha coragem pra te dizer tudo aquilo que queria enquanto estava enlaçado ao seu corpo.

—eu não vim te pedir perdão pela traição que não cometi, também não vim te perdoar por acreditar nela. vim te pedir perdão por não ter conseguido fazer com que déssemos certo, por não te fazer feliz o bastante.

Noora

Meu batimento cardíaco acelerou mais do que tudo.

Eu sempre planejei minha vida inteira, mas você bagunçou tudo quando entrou nela, Evan.
me tornou alguém que toma decisões aleatórias. estava pensando nisso, lá então respirei fundo e pensei de outra forma:  não são decisões aleatórias. são decisões urgentes do meu coração.

e então, lhe falei:
—eu acredito em você, mas não me arrependo de ter ido embora e é preciso que você saiba disso, Evan. Eu precisei sair da sua vida pra passar a entender como seguir a minha.

Respirei fundo e continuei:
—E tá tudo bem. Dessa vez, vamos com calma, vamos sem pressa e sem idealizações. A gente correu por tanto tempo até finalmente eu passar a entender que podemos ir devagar e chegar na linha de chegada mesmo assim. mesmo atrasadinhos.

você assentiu e me abraçou mais forte do que nunca. Essa é a sensação de ter o mundo nos braços: ter você entre eles.

—Quer entrar? —te perguntei depois do longo abraço entre nós, me referindo a minha casa enquanto segurava sua mão pra te guiar até ela.

você disse que sim, e então entrou na minha casa —e no meu coração, onde sempre habitou— e dessa vez nós não corremos pra beijar ou atribuir o momento ao amor romântico.

nós apenas conversamos sobre os cosmos, a crise e a fome e os desastres ambientais, sobre os amores além dos românticos, sobre a vida e sobre tudo aquilo que nos rodeia e não consegue afetar o nosso nós e os nós que nos ligam e não podem se romper. apenas se enroscar e enroscar e quem sabe um dia voltar pro lugar.

e foi assim que quebrei mais uma vez a regra da Dua Lipa.

te deixei entrar.
não só na minha casa, mas na minha vida e no meu coração.
e quem sabe no que vai dar?

Quem é você, Evan? Where stories live. Discover now