Prelúdio a Destruição - O sussurro de Tuane

O ódio se alastra novamente

A terra vivia um momento de prosperidade. Os novos habitantes, que nasceram a partir de um evento onde um monolito alienígena transformou toda a terra a nível molecular, eram organizados, bondosos e se importavam com a natureza, o seu meio e o próximo. Porém, qualquer evolução, necessita de uma organização. Para que isso acontecesse, foi criado um conselho, onde os representantes de cada raça faziam parte. A cada povo, era atribuído uma tarefa, e essa tarefa, era essencial para que a roda da evolução continuasse girando. Cada raça cumpria o seu papel com esmero. Esse conselho ficou conhecido como o Igualitário. O nome veio, pelo simples fato de que nenhum ser possuía um rei, rainha, presidente, ministro ou coisa do tipo. Democraticamente, eles votavam e escolhiam alguém para representar sua raça no conselho. Esse ser escolhido, tinha o papel de tomar decisões pela sua raça e repassar a informação a todos de seu respectivo povo.

Antes do cataclisma, os ciborgues, que deram vida aos novos seres, possuíam uma IA que inter-conectava cada cada um deles. A partir do momento em que o meteoro explodiu, criando um novo mundo, esse link foi quebrado, tornando cada ser individual e livre de pensamentos coletivos.

A criadora desse conselho, foi Liane, a representante das fadas. Com o intuito de fazer o mundo prosperar, ela foi em cada região conversar com os diversas raças existente na terra, buscando alguma forma de prosperar através da coletividade. E conseguiu.

Os novos habitantes são descendentes diretos dos Deuses das Cinzas, porém, não possuem a sua imortalidade. E eles são felizes por isso, sabem que fazem parte de um ciclo que tem começo, meio e fim. Liane faz parte da segunda geração do povo fada, tendo em vista que esse povo tem uma expectativa de vida de 150 anos. Sua mãe, foi escolhida como líder do povo fada por ter sido a primeira a perceber o potencial que o meteoro, dado como morto, tinha em relação a evolução da terra. Dele, ela conseguiu extrair diversos conhecimentos que ajudaram no progresso da população, assim como também a recriação dos cristais que servem como uma fonte de energia infinita. Os alimentos era mais deliciosos, a água era como um elixir da vida, o solo era macio como toneladas de plumas. Para o povo fada, ela era tida a evolução de seu povo, e todos tinham nela uma figura a ser seguida.

Essa evolução toda não foi da noite para o dia, levou cerca de 300 anos. E nesses 300 anos, questionamentos começaram a surgir. A natureza humana, entrou em conflito com a natureza bondosa criada pelo meteoro, começou a realizar questionamentos internos, que muitos dos novos habitantes não tinham a resposta. Lapsos de sentimentos sem controle, como ódio, paixão, inveja. Como se alguma epidemia maléfica tivesse sido espalhada pelo ar novamente. Até que aconteceu algo até então, inesperado nesse novo mundo. Um assassinato. Um filho dos dragões matou uma fada. Segundo o jovem dragão, a fada não queria se relacionar com ele, pelo fato de que ela não possuía vínculo afetivo com ele. Não o amava. Banhado por uma fúria sem controle, o jovem dragão estraçalhou a jovem fada ao ter o seu amor negado. Ao sair do frenesi, o dragão entrou em estado catatônico e então, começou a chorar de desespero. Seu choro pode ser ouvido por seres que estavam na redondeza. Logo, todos foram ver o que tinha acontecido.

Chegando lá, todos os seres presentes naquele fatídico momento, entraram em desespero, por nunca terem visto ser algum morrer daquela forma. Alguns desmaiaram, outros correram dali, outros tiveram reação pior, também foram consumidos pelo ódio, e a única coisa que iria sanar aquele sentimento ruim, seria a morte do jovem dragão. Os que se permaneceram sãos impediram tal acontecimento. Afastaram os seres mais consumidos pelo ódio e acalmaram os mais racionais perante ao evento.

Em decisão conjunta, todos os seres dali, levaram o dragão para o conselho Igualitário. Já os restos da jovem fada, foram juntados, e levados a sua família.

Logo essa notícia se espalhou pelo mundo todo. Tão rápido quanto um sussurro despercebido. A partir desse evento, os novos habitantes começaram a pôr seus sentimentos em cheque, mais questionamentos sobre a verdadeira natureza deles começaram a aparecer.

No conselho Igualitário, que até então foi usado apenas para decisões sobre prosperidade, o jovem dragão iria ser a primeira criatura a ser julgada em corte, após 300 anos de prosperidade. Baseado na natureza racional dos novos seres, logo o conselho já tinha ciência de que um dia tal evento poderia acontecer. Mas mesmo assim, como líder do conselho, Liane, a representante das fadas tinha um enorme fardo em seus ombros, dúvidas constantes permeiam sua mente, em busca da ação certa a ser realizada.

O julgamento foi era aberto e também foi mostrado em todos os meios de comunicação existente no planeta. Era um evento primário, novo e sem precedentes.

Após uma longa conversa entre o jovem dragão e o conselho. Aconteceu uma pausa, para que os representantes tomassem uma decisão sobre o caso. O mundo todo ficou apreensivo sobre a decisão a ser tomada.

Após meia hora de discussão entre os membros do conselho, o veredicto final foi tomado. E para a surpresa do mundo, o jovem dragão foi condenado a morte. Ao ouvir isso, a criatura entra em desespero total. Não consegue se controlar e começa a atacar todos em sua volta, chegando a matar alguns. Até que chegou um certo momento em que ele alçou voou, um pouco acima da bancada do conselho e começou a girar em círculos, em um certo momento desse trajeto, ele morde a sua própria cauda. A velocidade com que ele circulava o próprio eixo era incrível. Os seres que assistam tal evento, ficaram totalmente abismados com a reação da criatura.

Atônitos, os representantes pensaram que o jovem dragão tinha entrado em colapso, porém, estavam totalmente enganados. A cada giro em seu próprio eixo, fazia com que uma luz vermelha começasse a emanar de seu corpo. Essa luz começou bem fraca, até se tornar tão forte, que ninguém conseguia enxergar mais nada. Até que em certo momento, os telespectadores perderam o sinal de transmissão. Eles ficaram sem saber o que fazer, paralisados pela histeria, medo, ódio. Foram segundos insanos na nova história da terra.

No local onde ficava o conselho, agora uma enorme cratera enfeitava o terreno. O jovem dragão se auto-destruiu, causando uma enorme explosão e matando todos que foram alcançados pela a catástrofe. Os donos do mundo, ao escravizar os voluntários para a guerra, colocaram dispositivos que seriam ativados caso eles perdessem a batalha. Tal dispositivo causa uma enorme explosão, que dizima qualquer coisa que toque. O ódio, medo, e desespero do jovem dragão, ativou instintivamente essa habilidade latente que lhe foi concedido, a muitos séculos atrás.

O mundo entrou em colapso após saber o que tinha acontecido ali. Os seres, antes racionais e bondosos, começaram a duvidar de sua própria natureza, começaram a questionar a forma como a vida deles estava sendo guiada nesse novo mundo. Ao verem a atitude do jovem dragão, foram infectados pelos mesmos sentimentos que percorria na mente da criatura. A era de paz e prosperidade, começou a se romper.