Capítulo 1 - Meu Problema Com o Mundo

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Olá, tudo bom? Estou escrevendo aqui para desabafar, pois não tenho ninguém que confio o suficiente para falar sobre o que penso, o que me incomoda, o que me faz feliz etc.
Na verdade, nem se eu confiasse em alguém eu diria algo, pois detesto incomodar alguém com qualquer coisa, ainda mais algo superficial como problemas pessoais. Todos possuem seus respectivos problemas e eu não quero atrapalhar ninguém


Desde que nasci e adquiri consciência eu já sabia que era diferente da minha família.
Tudo sempre pareceu estranho para mim, eu me sentia diferente na maneira como me tratavam, como me olhavam.


Tenho três irmãos atualmente, mas há alguns anos eram apenas dois. E esses dois sempre se deram bem entre si, sempre pareciam se entender. Enquanto eu, era considerado o diferente. Meus responsáveis não gostavam muito de mim, e como toda criança, fazia algumas besteiras e levava alguns tapas, mas no meu caso parecia uma tortura, uma verdadeira surra por qualquer coisa. Os outros dois também levavam umas bolachas, mas não era comparado ao que acontecia á mim.


Foi assim durante toda a minha vida, até os meus 18 anos, quando descobri que na verdade eu não era filho do mesmo pai dos meus dois irmãos. Quem me contou isso? Uma pessoa á quem agradeço muito, mas não citarei nada sobre ele(a) porque não quero que descubra quem eu sou. Este mundo é muito pequeno e não quero arriscar.


Após ter descoberto isto, meu mundo parou... eu tinha vários flashbacks, um atrás do outro, não parava de lembrar de tudo que acontecera na minha vida até o momento.
Acontece que a parte da família que fui criado não gostava nem um pouco do meu verdadeiro pai, nem da minha avó paterna. Então me tratavam mal porque eu lembrava este rapaz, esta mulher... até hoje não consigo digerir isso. Por conta disso eu tive sérios problemas psicológicos que carrego até hoje. Sabe? Sentir que é um problema para o mundo, que todos que lhe olham parecem não gostar de você. Sei que é paranoia da minha cabeça, mas isto meio que me traumatizou. Isto acarreta em eu não conseguir andar na rua sem me sentir deslocado. Eu sempre acho que o mundo tem um problema comigo.


Desde muito novo sempre pensei em fugir de casa ou me suicidar, mas eu fugiria para aonde? E sempre fui muito covarde para cometer um suicídio á sangue frio. Hoje em dia eu conheço métodos indolores, mas deixa isso para depois.
Eu já cheguei até á conversar com um colega de escola sobre fugir de casa e morar com ele e seus avós. O que me surpreende é que ele estava concordado e já até decidira onde eu dormiria na casa dele. Aquilo me dava um pouco de esperança, mas não aconteceu. Crianças são estranhas, não? Nunca sabemos o que se passa na cabeça delas, se estão bem, se estão felizes... Após ter passado por tudo isso durante a minha infância, noto que os adultos exploram pouco a cabeça de seus filhos, sobrinhos e primos. Enfim, qualquer tipo de criança com alguma consciência.


Além da terrível vida que eu tinha dentro de casa, ainda tinha que enfrentar o pior lugar do mundo, a escola e suas crianças sem noção.
Tudo sempre correu bem quando eu estava no C.A(era como nós falávamos na época, eu devia ter uns 6 ou 7 anos).
Nesta escola tudo era divertido. Quem zoava os outros recebia de volta e era sem rancor. Aconteciam brigas, mas como toda criança, faziam as pazes depois. Era mais tranquilo.
Tudo começou quando eu fui transferido para esta escola nova, quando tinha 8 anos

(segunda série). Até então eu não tinha maldade nenhuma na cabeça, só queria saber de me divertir e fazer os deveres escolares.


Assim que cheguei na sala de aula, alguns alunos começaram á me zoar. Normal, não é? A gente zoa de volta. Mas não era assim que a banda tocava neste local... Pela primeira vez eu havia descoberto o que era lidar com pessoas querendo lhe machucar tanto física quanto emocionalmente. Não acho que as crianças sabiam o quão errado era aquilo, elas só estavam fazendo o que achavam normal. Enfim.
Essas crianças costumavam puxar meu cabelo, usar meu nome de maneira pejorativa, usar e abusar da brincadeira do pescotapa(se não souber o que é, é quando alguém lhe dá um tapa no seu pescoço, mas MUITO forte). Era terrível. Eu nunca entendi o porquê daquilo.


Hoje em dia eu sei e não tenho certeza, mas fica á seu critério se estou certo ou não.
Eu era... como posso dizer? Era bem bonito. Era o que minha família dizia e qualquer pessoa que se aproximava de mim. Eu ficava lisonjeado, mas já havia me acostumado com estes comentários, então não dava muita bola e apenas agradecia. Acredito que isto deve ter despertado um sentimento de inveja nessas crianças, pois elas não eram nem um pouco bonitas. Mas normal, qualquer criança tem o seu tempo de crescer e ficar bonita do seu jeito.
Acontece que a menina mais bonita da sala estava me dando muita atenção e os garotos não gostaram nada disso. A coisa ficou tão fora de controle que fizeram uma roda no pátio e empurraram um menino para brigar comigo. Eu tentei me defender, mas logo ele me pegou no mata-leão e eu desmaiei. Acordei sem meu sapato e todos ao meu redor rindo de mim. Foi horrível.


Após isto eu passei á informar a minha família sobre o que estava acontecendo, e não conseguia parar de chorar enquanto falava para eles sobre a situação. Eles davam algumas gargalhadas e diziam que o meu responsável iria na escola comigo no dia seguinte para ver o que acontecia. 
Devo dizer que nunca adiantou? Pois é, ás coisas nunca deram certo para mim nesta época.
A perseguição continuava, apanhava mais vezes, desmaiava outras e não conseguia entender o porquê daquilo continuar acontecendo comigo. Eu só queria ficar em paz, só queria ser uma criança comum, só queria... eu só queria viver.
De um lado em casa a minha família parecia ter algum problema comigo, de outro, a escola.


E isso é só o começo do meu problema com o mundo.


Meu Problema Com o MundoWhere stories live. Discover now