Capítulo 5

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Soubepor Emilly que Vicente conheceu MariaBettina em 45. Maria Bettina ainda era uma menina de catorze anos e ele seapaixonou, embora ainda fosse uma paixão suave e juvenil ele já pensava emdesposá-la, Vicente pensou em desposar Maria Bettina no momento em que a viupela primeira vez, ele estava necessitado de uma grande paixão impossível, paraser poeta em sua plenitude era preciso algo por que chorar, lamentar-se,desesperar-se, e cantar em versos prosa sua poesia fugitiva. Embalde, quantomais eu gastava dinheiro com roupas e mais roupas, flores de pano, sapatos,chapéus, mais eu me sentia ridícula e malvestida, mais distante das elegânciasde boudoir, os vestidos que dona Formosa costurava ficavam sem graça e nãoescondiam a minha verdade interior, meu passado, minha origem, a minhabiografia e a minha história, eu achava cintilante a vida de estufa daquelasmulheres que seus chapéus sugeriam jarrões de flores em ninhos de cegonhas, adorava as mulheres que eu via nos almanaques franceses embora tudo tivesse um vago ar de mentira, admirava aquelas mulheres estendidas dolentes num divã ouvindo os rapazes a contar suas últimas viagens a Paris, não queria ser uma delas mas ao menos ter seus encantos e desgarres, quem sabe assim conquistaria Vicente, quem sabe fora isso o que encantara Vicente ao ver Ana Amélia na casa de Alexandre Teófilo, eu imaginava Ana Amélia embrulhada em rendas dinamarquesas, coberta de plumas, babados, laços de fita, cascatas de drapeados, cabelos opulentos derramando-se pelos ombros alvos, o colo forrado de pedras preciosas de um colar pingentes nacarados sublinhandoas orelhas, portanto foi para mim uma surpresa quando retirei o papel de seda evi o retrato de Ana Amélia, ao lado de um piano de cauda, duas velas acesas.Nesse tempo —Vicente tinha vinte e três anos e eu, vinte e dois —o professorAdelino chegou a nossa casa com um livro na mão e disse que Vicente— que elechamava de "o Gonçalves" — havia dado à publicidade aquele volume intituladoPrimeiros cantos, e recebera bons comentários nas folhas fluminenses. O livrocomeçava pela "Canção do exílio", que me deixou na maior das felicidades, poismostrava o quanto Vicente tinha recordações de Caxias, uma saudade cheia delirismo. Achei, aqui dentro de mim, de meu coração, que Vicente tinha escrito a"Canção do exílio" para mim, porque eu sabia remedar igualzinho o gorjeio dosabiá, então quando ele dizia "as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá",para mim queria dizer que as mulheres do mundo não eram tão primores adesfrutar como as mulheres daqui,isso eu achava e acho ainda, e quanto ao sabiá, Vicente sabia que papai era umcolecionador de sabiás, que tinha os mais belos sabiás das matas. Vicente encontroua desventura, porque a mãe de Ana Amélia, dona Sônia, mesmo tratando o poetacom bastante consideração e condescendência, tinha desprezo pelos mestiçosbastardos, disse Emilly, como se não fosse dona Sônia mesma uma mestiça, pareceque Vicente não percebeu isso, apaixonado por Maria Bettina e estimulado porela decidiu pedir sua mão a dona Sônia que recusou.

Dias & Dias - ReleituraWhere stories live. Discover now