OO1 - Terça-feira

25 1 0
                                    

Seu estado era deplorável. Não comia nem dormia há dias. Suas olheiras, mais profundas do que o sono que lhe faltava, eram mais escuras que o quarto onde passava todas as noites. A pouca lucidez que lhe restava o levou à cozinha às quatro da manhã. Lá, uma faca grande, própria para carnes, era a amiga que viria a aliviar o seu sofrimento.

Com cortes rápidos, o cabo da faca dançava por entre os dedos, enquanto a lâmina rabiscava aquela frágil e lisa superfície.

Cada um dos pedaços que caía por cima da mesa gotejavam o seu líquido sobre a mesma. O mesmo também estava espalhado pela faca e pelos pedaços, tentando escorrer para fora deles.

Quando terminou de despedaçar a maçã, aquela mesma lâmina voltou a trabalhar: arranhava olhos e sorriso nos soltos pedaços da fruta. Os olhos eram furados pelo mesmo objeto que os criou. Já os sorrisos morriam conforme seus dentes davam fim aos pedaços de maçã.

Ao satisfazer sua insanidade de "matar" aqueles sorrisos, soltou uma gargalhada e voltou para a sua toca, de onde não deveria sair em ocasiões como essa.

Aquela faca repousou sobre mesa pelo resto da noite. Por mais inanimada que fosse, a faca havia consciência de que sua função fora cumprida, embora houvesse furado os olhos errados.

Se a barra é pesada, esses textos são maisWhere stories live. Discover now