OO2 - Penso, logo não existo

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Esses dias, fiz uma coisa que não fazia há semanas. Acontecimentos recentes me levaram a pensar, e repensar, e rerepensar, até a hora em que eu cansei de pensar. Pensei, pensei, pensei, mas não pensei. Pensei na hipótese de não ser uma pessoa quebrada: gostariam do meu inteiro? Pensei na hipótese de não ser gordo: gostariam da minha magreza? Pensei na hipótese de não saber que o "porquê" junto e acentuado age como substantivo: gostariam da minha ignorância? Pensei na hipótese de não ser sentimental: gostariam da minha frieza? Pensei na hipótese de não saber escrever nem o pouco que eu sei: gostariam do meu mural vazio? Pensei ainda na hipótese de nunca ter nascido: gostariam da minha ausência. Não, não errei. Isso não foi uma pergunta, mas uma afirmação. Existências problemáticas não deixam dúvidas das indiferenças que deixariam para trás caso não existissem. Pensar faz isso comigo. Faz rever erros, procurar explicação de acertos e, acima de tudo, tentar entender porque tá tudo mal.

A frase é "Penso, logo existo". Duvidar da própria existência e confirma-la no ato de duvidar da mesma. Mas em se tratando do eu lírico, a frase correta é "Penso, logo não quero existir". Não busco fundamentar a minha existência, muito menos entrar em conflito com o seu Descartes. Só que da mesma forma que ele pensa em coisas para existir, eu penso em tudo que me faz querer o contrário. Só que da mesma forma que ele pensa em coisas para validar sua existência, eu penso em maneiras de finalizar a minha.

Se a barra é pesada, esses textos são maisWhere stories live. Discover now