Leviatã parte 3

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Dar qualquer sinal de amor ou de medo do outro é honrar, porque tanto amar como temer implicam apreço. Suprimir o amor ou o medo, ou dar menos do que o outro espera, é desonrar, porque é subestimar. Louvar, exaltar ou felicitar é honrar, pois nada é mais prezado do que a bondade, o poder e a felicidade. Depreciar, troçar ou compadecer-se é desonrar. Falar ao outro com consideração, aparecer diante dele com decência e humildade, é honrá-lo, como sinal de receio de ofendê-lo. Falar-lh asperamente, comportar-se perante ele de maneira obscena, reprovável ou impudente é desonrá-lo. Acreditar, confiar, apoiar-se no outro é honrá-lo, como sinal de reconhecimento de sua virtude e poder. Desconfiar, ou não acreditar, é desonrar. Solicitar de um homem seu conselho, ou um discurso de qualquer tipo, é honrar, em sinal de que o consideramos sábio, ou eloquente, ou sagaz. Dormir, afastar-se ou falar quando ele fala é desonrá-lo. Fazer ao outro as coisas que ele considera sinais de honra, ou que assim o sejam pela lei ou pelo costume, é honrar, porque ao aprovar a honra feita por outros se reconhece o poder que os outros reconhecem. Recusar fazê-las é desonrar. Concordar com a opinião do outro é honrar, pois é sinal de aprovação de seu julgamento e sabedoria. Discordar é desonrar e acusar o outro de erre, e, se a discordância atinge muitas coisas, de insensatez. Imitar é honrar, pois equivale a uma veemente aprovação. Imitar o inimigo do outro é desonrar. Honrar aquele a quem outro honra é honrar este também, como sinal de aprovação de seu discernimento. Honrar seus inimigos é desonrá-lo.  Pedir conselho, ou colaboração em ações difíceis, é honrar, como sinal de apreço pela sabedoria, ou outro poder do outro. Recusar a colaboração dos que a oferecem é desonrar. Todas estas maneiras de honrar são naturais, tanto nos Estados como fora deles. Mas nos Estados, onde aquele ou aqueles que detêm a suprema autoridade podem instituir os sinais de honra que lhes aprouver, existem outras honras. Um soberano pode honrar um súdito com qualquer título, ou cargo, ou emprego, ou ação, que ele próprio haja estabelecido como sinal de sua vontade de honrá-lo. O rei da Pérsia honrou a Mordecai, quando decidiu que ele seria conduzido pelas ruas envergando as vestimentas reais, montado num dos cavalos do rei, com uma coroa na cabeça e um príncipe adiante dele, proclamando: Assim será feito àquele que o rei quiser honrar. E um outro rei da Pérsia, ou o mesmo em outra ocasião, a um súdito que pedia por qualquer grande serviço permissão para usar as roupas do rei, outorgou o que ele pedia, mas acrescentando que deveria usá- las como seu bobo, e neste caso era desonra. Portanto a fonte de toda honra civil reside na pessoa do Estado, e depende da vontade do soberano. Consequentemente é temporária, e chama-se honra civil. É o caso da magistratura, dos cargos públicos e dos títulos e, em alguns lugares, dos uniformes e emblemas. Os homens honram a quem os possui, porque são outros tantos sinais do favor do Estado; este favor é poder. Honrosa é qualquer espécie de posse, ação ou qualidade que constitui argumento e sinal de poder. Por conseguinte, ser honrado, amado ou temido por muitos é honroso, e prova de poder. Ser honrado por poucos ou nenhum é desonroso. O domínio e a vitória são honrosos, porque se adquirem pelo poder; a servidão,que vem da necessidade ou do medo, é desonrosa. A boa sorte (quando duradoura) é honrosa, como sinal do favor de Deus. A má sorte e a desgraça são desonrosas. A riqueza é honrosa, porque é poder. A pobreza é desonrosa. A magnanimidade, a liberalidade, a esperança, a coragem e a confiança são honrosas, porque derivam da consciência do poder. A pusilanimidade, a parcimônia, o medo e a desconfiança são desonrosos. A decisão ou resolução oportuna do que se precisa fazer é honrosa, pois implica desprezo pelas pequenas dificuldades e perigos. A irresolução é desonrosa, como sinal de excessiva valorização de pequenos impedimentos e pequenas vantagens. Porque quando um homem ponderou as coisas tanto quanto o tempo permite, e não se decidiu, a diferença de ponderação é ínfima, logo se ele não se decide é porque sobrevaloriza pequenas coisas, o que é pusilanimidade. Todas as ações e palavras que derivam, ou parecem derivar de muita experiência, ciência, discrição ou sagacidade são honrosas, pois todas estas últimas são poderes. As ações ou palavras que derivem do erro, da ignorância ou da insensatez são desonrosas. A gravidade, na medida em que pareça proceder de um espírito ocupado com outras coisas, é honrosa, porque a ocupação é sinal de poder. Mas se parecer que procede do propósito de aparentar gravidade é desonrosa. Porque a gravidade do primeiro é como a firmeza de um navio carregado de mercadoria, mas a do segundo é como a firmeza de um navio que leva um lastro de areia ou qualquer outra carga inútil. Ser ilustre, ou seja, ser conhecido pela riqueza, cargos, grandes ações ou qualquer bem eminente, é honroso, como sinal do poder que faz alguém ser ilustre. Pelo contrário, a obscuridade é desonrosa. Descender de pais ilustres é honroso, porque assim mais facilmente se conseguem a ajuda e os amigos dos antecessores. Pelo contrário, descender de pais obscuros é desonroso. As ações que derivam da equidade e são acompanhadas de perdas são honrosas, como sinais de magnanimidade; porque a magnanimidade é um sinal de poder. Pelo contrário, a astúcia, o uso de expedientes e a falta de equidade são desonrosos.

A verdade sobre SatanismoWhere stories live. Discover now