Capítulo 31

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Não havia ninguém no Sunset Club.

Quando entramos, encontrei os móveis no mesmo lugar em que estavam na primeira vez em que lá entrei. A diferença era que agora não havia luzes, música ou pessoas dançando para cá e para lá. Um ar fantasmagórico pairava entre nós.

- Agora basta esperar. – Marcelo me disse.

Um pouco depois das duas da manhã, o primeiro casal apareceu. A mulher, assim como eu usava uma máscara e uma capa, o homem, de rosto nu, usava terno. Marcelo foi até os fundos do clube e abriu um alçapão no chão. Não nos dirigiram a palavra. Só fizeram uma leve reverência com a cabeça e se dirigiram para o subsolo. O casal desceu e lá ficou. Em seguida, vários casais apareceram e fizeram o mesmo. Todos em silêncio. Às duas e meia da manhã, Marcelo me disse:

- É nossa vez.

De súbito, meu coração palpitou e minhas mãos tremeram.

Marcelo me ofereceu a mão e me conduziu através do Sunset e pelas escadas rumo ao subsolo.

Em comparação ao subsolo, o Sunset Club passaria facilmente por um local pobre. As paredes do subsolo eram douradas e brilhantes com cortinas vermelhas, como os ambientes das realezas antigas. Os casais estavam sentados como um semicírculo em cadeiras entalhadas. Marcelo me levou pela mão ao local onde eu deveria sentar junto a ele.

Do outro lado do semicírculo, um homem grisalho e musculoso se levantou e tirou do paletó algo parecido com um sino. Um simples toque do sino e todos se levantaram. Outro toque do sino e todas as mulheres tiraram suas capas. Precisei de mais tempo que as outras para entender isso.

Todas estávamos nuas, os rostos ocultos sob as máscaras.

Só aí eu percebi que havia, no centro do salão, um triskellion igual ao que Marcelo usava no braço.

- O que vai acontecer agora?... – sussurrei a ele.

- O que você quiser.

Foi então que o homem grisalho tocou o sino com força por longos segundos. Ao ouvir aquilo, as pessoas no salão pareceram enlouquecer. Se atirando sobre as outras, transavam com força animal. Chicotes estalavam, gritos ecoavam... Por um segundo, não me movi.

- Mas... Mas o quê? – perguntei a Marcelo.

- Essa é a minha igreja – ele me sussurrou. – Uma vez por semana venho aqui me sujar e me purificar. Se não quiser, basta não fazer. Quando vi o quão bem me fazia, trouxe o grupo para o Sunset.

Eu estava muito chocada com tudo aquilo. Olhei de relance para aquele mar de braços e pernas se contorcendo e jurei reconhecer o taxista que havia me levado do consultório do Dr. Macedo para o Sunset Club pela primeira vez.

- Quero ir embora. – disse para Marcelo.

- Tem certeza?...

- Agora! – gritei mais alto do que eu pretendia, chamando a atenção de alguns casais mais perto de nós.

- Tudo bem. – Marcelo me respondeu. Vamos.

Subimos as escadas e voltamos à madrugada de Salvador. As lágrimas começaram a sair de meus olhos quando eu finalmente percebi que havia sido conduzida para momento como um animal estúpido é conduzido toda sua vida até o abate.

Meu Mestre Cheio de Segredos (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora