With his songs

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A primeira noite de julho começou tipicamente quente em Nova Orleans. A movimentação constante da cidade deixava tudo com ar ainda mais festivo, mesmo que o 4 de julho ainda fosse demorar alguns dias. Mesmo assim, nos clubes de jazz, a festa nunca acabava e eles não precisavam de data alguma para fazer com que cada noite fosse tão especial quanto o possível.

Não muito longe do centro, o Jazz Club 45, era um dos mais requisitados. Como seu nome sugere, fora inaugurado anos antes, em 1945, quando a guerra tivera finalmente um fim. Agora, em 1947, ele gozava de uma reputação invejável entre os amantes de jazz e da diversidade. Ali, todos aqueles que quisessem cantar e tocar eram bem-vindos, não havia distinção alguma, bem como a clientela se dividia entre moças rebeldes da alta sociedade, operários alegres, porém cansados, e, muitas vezes, membros de pequenas gangues que se espalhavam pela cidade.

Independente disso, não havia perigo ou intimidação, o que acontecia fora do clube não era problema quando estavam todos no salão, servidos de boa bebida, fumando charutos e cigarrilhas, ouvindo uma voz melodiosa ou forte acompanhada de uma banda impecável. Eram noites para se perder num sonho em que a realidade era boa demais para ser misturada ao que havia lá fora.

Naquela noite específica, a voz viria de um rapaz de elegância exímia, rosto de traços fortes, lábios pomposos e coloridos e convidativos. Os cabelos negros caiam sobre a testa e contrastavam com o traje branco que gostava de usar quando se apresentava. As mangas da camisa eram sempre dobradas, o suspensório combinava com o cinto e os sapatos. Era o preferido das moças, mesmo que ele, particularmente, não tivesse interesse nelas.

Perto das oito da noite, a banda se preparou para que o show começasse, e o vocalista, cujo nome era Taehyung, filho de coreanos imigrantes, já se encontrava de voz aquecida por uma dose de whisky. O salão estava cheio e era possível sentir o ar ainda mais quente. As pessoas estavam prontas para dançar, beber ainda mais, rir e desligar totalmente o interruptor da realidade.

Quando a melodia começou, alguns gritos de entusiasmo foram ouvidos e então a voz aveludada de Taehyung acompanhou a banda em sua primeira canção. A noite estava iniciada, e em pouco tempo a temperatura aumentaria um pouco mais.

[...]

A pista já estava cheia e animada quando Kim Seokjin finalmente resolveu entrar, depois de muitos minutos em frente ao local, fumando um cigarro atrás do outro. Seu paletó claro estava alinhado e impecável, os cabelos bem penteados e a colônia fresca o deixava parecendo ainda mais o homem perfeito. Aquele por quem as meninas sempre suspiravam e sonhavam ter.

Naquela noite não foi diferente, os olhares se voltaram aos poucos para ele, conforme caminhava por entre as pessoas. Cochichos começaram e inclusive Maddy, a mulher por quem muitos homens da cidade matariam e morreriam para ter, se iluminou ao ver Seokjin, com a esperança renovada de que o jornalista ainda daria atenção a si.

Mas os olhos dele tinham ponto fixo, e mesmo quando se sentou no bar e pediu um copo de bebida, nada o desviava do palco. Mesmo que lutasse contra si mesmo, ainda permanecia hipnotizado pelo modo como a voz de Taehyung soava pelo ambiente, pela forma como os lábios se moviam e como a mão cheia de anéis segurava o microfone.

Taehyung era a personificação da presença de palco, e ele não precisava fazer muito, pelo menos não para Seokjin. Cujo coração batia acelerado a cada estrofe da música, a cada vibração do saxofone. A temperatura do ambiente era alta e ele sabia que sufocaria antes que a apresentação acabasse. Mas e daí? Ele pensava. Já estava mesmo no inferno, por que não abraçar o diabo?

Quando a segunda música começou, Seokjin soube o que viria. Os acordes eram conhecidos e ele, talvez, soubesse a letra como ninguém. Por ter ido muitas vezes àquele bar, ou porque ela foi declamada em seu ouvido vezes demais.

Killing me softly | TAEJINWhere stories live. Discover now