Capítulo 1 - Lembrança

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Meu irmão entrou trazendo meu sobrinho, Jackson.
- E ai Jake! Beleza? - Falei abaixando para dar-lhe um abraço. Ele era um garoto baixinho pra idade dele. Ainda não tinha tido o surto de crescimento.
- Você vai mesmo cuidar dele? Eu já te avisei que se acontecer alguma coisa....
- Fica tranquilo Héctor! Hogwarts é seguro. Nunca aconteceu nada comigo (Ele não precisa saber sobre os acontecimentos passados, claro.) Eu vou estar lá se ele precisar. Mas com certeza ele vai se enturmar rapidinho. Se ele ficar na Grifinória ainda vai poder ficar no mesmo salão comunal como eu.
- Como assim se ele ficar?
- Bem, eu te expliquei como funciona o....
- Tá, tá... Acho que é melhor eu nem pensar nisso. Aqui está o dinheiro para todo o material que ele vai precisar. De acordo com os dados da conversão que você me falou... - Hector disse me entregando um envelope gordo.
- Tem certeza que você e a Helena não querem ir junto?
- Nem mencione a Helena Rick! Ela ainda não... Ela ainda não. Cê sabe né? Ela surtou. Ela acha que nosso filho é... Sei lá cara... Algo demoníaco. Mas como eu já tinha alguém assim na familia, você, eu já tinha passado por tudo isso...
- Eu sei...

Eu sou filho de trouxas. O único bruxo da minha familia, até mês e meio atrás... Mudou quando meu sobrinho recebeu a carta de Hogwarts. Ele nunca tinha mostrado nenhum sinal de que fosse bruxo. Pelo que eu fiquei sabendo foi um escândalo total na casa deles. Helena, a esposa do meu irmão, pirou toda. Ela é muito religiosa e é capaz dela ter achado que o filho dela era o anticristo no corpo de uma criança de onze anos. Eu me ofereci para conversar, tentar tranquiliza-la de alguma forma, depois da visita do funcionário de Hogwarts mas o Héctor me proibiu de falar com ela, pelo menos por enquanto. Ela também não sabia sobre eu ser um bruxo, e provavelmente acha que eu sou um desses jovens desviados. Bem....
- Então, você vai com ele até a escola e tal né Richard? - Héctor perguntou pra mim.
- Até chegarmos ao fim da linha do trem sim. Mas os alunos do primeiro ano vão seperados do resto.
- Mas é de boa?
- É tranquilo demais! Eu te falei...

Eu me lembro muito bem de quando eu recebi minha carta, e de tudo mais. Meus pais haviam viajado para a casa de Héctor, visistar o neto, Jackson, que havia feito sete anos semana passada. Meu irmão do meio, Victor, estava fazendo uma festinha lá em casa. Ele tinha vinte anos na época, reprovou dois anos no colégio. Isso, estranhamente,fez ele muito popular na escola. Eu me lembro muito bem dele dizendo com um hálito de cerveja na minha cara:
- Richard, você vai ficar aqui no quarto belê? Tem salgadinho alí e água. Eu vou trancar a porta e amanhã quando eu acordar eu abro... Só colabora e depois eu compro seu video-game tá?
- E se eu quiser ir no banheiro? - Eu perguntei sem perceber que ele não tava nem aí.
- Se vira muleque. - Ele saiu e me deixou lá dentro trancado. Eu só ouvia o som alto e de vez em quando alguém tentava abrir a porta e fazia uns sons frustrados já que tava trancado.

Algum tempo depois meu irmão abre a porta furioso e me pega pelo braço. Foi andando comigo e perguntando:
- Pra quem você ligou em seu Rick? Meu deus, que bosta. Vai se ferrar!
- Eu não sei de nada. Eu não fiz nada! - Falei assustado.
- Então como você explica esse cara aquí perguntando por Richard Merne Lunes?
- Eu... Eu sei lá! Eu juro Victor. - Eu já comecei a chorar pensando que meu videogame não ia mais existir.
Me lembro de estar na porta de cara com um homem vestido com um terno cinza bem bonito, porém um pouco antiquado, quase meio empoeirado. Ele estendeu a mão para mim e disse com uma voz rouca:
- Boa tarde Sr. Lunes. Seus pais estão em casa no momento? - Meu irmão me olhou com uma cara de que ia me bater dependendo da resposta.
- Hãm.... Não. - Eu falei dando uma fungada no meu nariz que ficou entupido de engolir o choro.
- Tudo bem. Voltarei amanhã, no mesmo horário. Meu nome é Marvio Alexis, sou funcionário de Hogwarts. Tem algum responsável por você aí?
- Hó o que? - Meu irmão falou quase cuspindo bebida na cara do sujeito.
- Ah! Esta carta, para adiantar o assunto, para você. - Ele disse tirando um envelope mediano, de cor amarelada de dentro do seu blaser. Ele estendeu a carta em minha direção.
- Me dê isso. - Victor puxou da mão do moço e deu uma lida com os olhos. Sua cara mudou de raiva para algo não identificado.
- O que tem ai? Perguntei.
- Vai pro quarto idiota! Agora! - Ele apontou pra escada e eu subi correndo. Eu consegui ouvir ele falando pro moço na porta:
- Cê tá chapado cara?

Só no dia seguinte que o mesmo homem veio e explicou tudinho. Victor ouviu de penetra, e ele ficou mexido. Não falou comigo por uns seis meses. Héctor veio de outro estado quando ficou sabendo. Ele não me olhava com bons olhos. Desde que ele casou, a esposa o tornou bem religioso.

Já minha mãe reagiu normalmente. Achou incrível esse "negócio de magia". Meu pai achou incrível até de mais, ele fazia mil perguntas das quais eu não tinha nenhuma resposta. Achou que eu poderia fazer ele ganhar na loteria ou algo do tipo. A frase final do funcionário, foi parecida com a que eu disse para Héctor antes dele ir embora e deixar Jake aqui comigo.
- Então, agora é só esperar 1° de setembro. - Falei.
- Fique bem, filho. Tio Rick vai cuidar de você.
- Você vai mesmo me deixar aqui pai? - Ele respondeu.
- Mas foi você que quis.
- Eu não tenho certeza....
- Agora não vai mudar de ideia. Vai dar tudo certo. - Héctor saiu e fechou a porta.
- E então Jake, pronto pra virar um bruxo?
- Eu... Sei lá. É estranho.
- Eu concordo garoto, é super estranho. - diz Victor, descendo as escadas com uma garrafa de cerveja na mão e se intrometendo, como sempre.
- Não liga pra ele Jake. Você quer ser igual ao Tio Victor, um cara super comum, que trabalha com uma coisa super comum e vive uma vida super comum ou, bem, um bruxo?
- Ei, eu não sou tão comum assim. - Disse Victor da cozinha.
- Sim, você é. - Brinquei. - Não tem nada de errado nisso Victor... Só tem coisas melhores...
    Pra mim é estranho ser tio. Eu tenho quinze anos e já sou tio. É estranho, eu devia ter tios, não ser um. A maioria já esta no caixão. Meu pais resolveram ter outro filho muito tarde. Ou seja, meus pais são idosos, meus tios estão mortos, e meus primos tem o triplo ou mais da minha idade. Ser tio é engraçado, é como ficar de babá sem receber. Você não precisa de curso, você simplesmente cuida. É complicado, mas é legal.
- Vai arrumar suas coisas lá em cima no meu quarto Jake. Amanhã eu vou te levar em um lugar super divertido e doido.
- Onde?
- O Beco Diagonal. Nós vamos comprar o seu material. E o meu também. Eu amo essa parte... Você não tem noção!
- Eu sei o que eles vendem nesse beco aí hein... - Disse Victor lá de trás.
- Cala boca Victor! Não liga pra ele Jake, vamos. - Peguei na mão dele e subi as escadas.
Ia ser meio chato bancar a babá esse ano em Hogwarts. Vou para o sexto ano e tenho muita coisa pra estudar. Fiz o NOMs, Níveis Ordinários de Magia e parece que vou estudar o dobro agora.
Vai ser difícil conciliar estudo, sobrinho, amizades e tudo mais. Mas eu acho que... Acho consigo, sempre consigo. Se eu não conseguir o surto vem. Mas vai dar certo.

Sapo de ChocolateWhere stories live. Discover now