Capítulo 2 - Beco Diagonal

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"Tururu...Tururu...Tururu"
O despertador tocou as sete da manhã. Levantei depois de umas duas sonecas e escovei os dentes olhando pro meu cabelo todo amassado. Rapidamente fui no quarto de hóspedes acordar meu sobrinho. A casa ficou vazia depois que meus pais se mudaram para uma casa de praia na Dinamarca. Geralmente eu passo quase todas as férias da escola lá, mas esse ano eu vim pra cá pra receber o Jake. Victor ficou com a suíte dos meus pais, e eu com o quarto dele. Ou seja, o meu ficou sendo de hóspedes.

Victor e eu temos uma relação um porquinho complicada. Héctor sempre foi muito ocupado e centrado. Eu sou bem parecido com ele, digo, pela personalidade. Nós dois somos mais focados. Victor é o contrário, agitado e um pouco fora da curva. Acho que ele estava esperando um irmão mais parecido com ele. Dai eu vim, mas definitivamente não era o que ele esperava. A gente não é muito amigo.
- Hora de acordar Jake! - Entrei no quarto com meu rosto já lavado.
- Vamos Jake! - Bati palmas e ele se remexeu na cama.
- Jake! Rápido, eu ainda tenho que convencer o Victor a levar a gente no caldeirão furado. Ou você quer pegar o ônibus? Vai ter que andar uns cinco quarteirões.
- Ônibus não... - Ele disse baixinho e depois levantou.
- Vou terminar de arrumar algumas coisas e em quinze minutos volto aqui. Pode ser?
- Tá. - Ele disse esfregando os olhos.
Coloquei uma blusa normal, calça jeans e tênis. Separei o dinheiro do meu material, e o do Jackson. Minha varinha, que eu guardo dentro da calça, na lateral, e alguns galeões que eu tinha.
De repente Jake entra no meu quarto.
- Já tô pronto Tio Rick.
- Ok. E vamos de indo então né? Dia cheio hoje.
- Tio Rick, você tem uma varinha? - Ele perguntou.
- Sim, olha ela aqui. É feita de salgueiro, 28 centímetros, de fibra de coração de dragão.
Eu amo ela. Custou-me alguns galeões na época que comprei. Nunca falhou... Quer dizer... Ela é uma ótima varinha. Não tem cabo, mas é cheia de detalhezinhos. Tá vendo?
- Você pode fazer alguma mágica pra eu ver?
- Infelizmente não, fora de Hogwarts eu não posso fazer magia. Eu ainda não tenho idade...- Bom, até que eu podia. Essa lei nem funciona direito. Mas não queria estragar nenhuma supresa.
Ele me olhou com cara de desapontado e desceu as escadas indo para a sala me esperar.
Terminei de pegar algumas coisas, e desci correnso. Agora era a parte mais difícil, convencer o Victor a deixar a gente no Caldeirão Furado.
- Ei Victor. Bom dia.
- Bom dia. - Ele respondeu enquanto mexia no celular.
- Será que você poderia levar eu e o Jackson lá....
- Nossa, logo cedo assim? - Ele me interrompeu secamente.
- Por favor! - Falei.
- O que eu ganho com isso?
- Faz seu irmão e sobrinho felizes? 
- Só?
- Para de drama e leva a gente?. Eu te trago... Um rum de bruxo. Eu te garanto que cê vai gostar.
- Agora ficou interessante. Vamos logo, que eu não tenho o dia todo.
Chamei Jake e ele veio atrás de mim. Jackson tinha onze anos, mas agia como se tivesse menos.  Héctor o mimou muito. Jake talvez soubesse disso, no fundo, e agora está assustado com uma certa independência vindo aí.
O caminho até o caldeirão furado foi silencioso. Quando chegamos disse que Victor podia esperar lá dentro. Mas eu falei pra ele não falar com ninguém...
- Vamos Jake! Por alí.
Entro no velho bar e hosmadeira e passo despercebido ao longo de alguns bruxos e bruxas velhos sentados em baixas mesas de madeira.
- Por aqui. - Digo apontando para a escada.
- Não tem nada aqui Rick. - retrucou ele.
- Espere e verá. Eu só preciso pegar minha varinha e bater aqui e aqui....
- E aí?
- Pera, eu devo ter errado. É só bater aqui, e aqui e aqui.
- Acho que você endoidou tio.
- Precisa de ajuda? - Uma garota perguntou.
- Ah, eu não consigo lembrar de como abrir a passagem pro beco. Que vergonha. Todo ano eu faço isso...
- Eu posso ajudar. - A Garota tirou uma varinha e bateu em certos tijolos e abriu a passagem.
- Muito obrigado! Eu tava errando alí... Você é a...? -Perguntei
- Sou Jenny, mas todo mundo me chama de Jen.
Ela era alta, a pele preta retinta sem nenhuma espinha se quer, e tinha cabelos bem escuros, de tamanho médio com algumas ondulações.
- Eu sou Richard, e esse é meu sobrinho Jackson.
- Você também estuda em Hogwarts? - Perguntou Jake.
- Eu? Sim! Eu estou no sétimo ano. Vocês são de qual casa?
- Eu sou da Grifinória. O Jake ainda não tem casa, vai ser o primeiro ano dele na escola. - Respondi tentando disfarçar o mico de antes.
- Ah, que legal! Tomara que você venha para a Corvinal! É a melhor casa... Então, até mais! Foi um prazer conhecer vocês.
- Igualmente. Valeu de novo! - Respondi enquanto Jackson dava tchau.

Fomos batendo perna pelo beco diagonal. Jackson parecia fantasiado com tudo aquilo que estava ao seu redor, até que ele me para e pergunta.
- Tio!
- O que?
- O que é Corvinal? - Eu dei uma risada interna pelo delay da pergunta.
- É uma das quatro casas de Hogwarts. Tipo, a minha é a Grifinória, e tem a Corvinal, Sonserina e Lufa Lufa. É como se fossem "quatro times", bem mais ou menos. Me entendeu?
- Entendi. Mas eu posso escolher? Como que faz?
- Bem, não. A chapéu seletor que escolhe isso. Ele é um chapéu falante que lê sua mente.
- Lê minha mente?
- Tipo isso. Mas uma vez li um depoimento de um bruxo bem famoso que disse que se você quiser realmente ir para uma das casas, você já estará nela.
- Ahhhh, tá. - Ele respondeu mas com certeza não havia entendido nada.
Fomos em direção a Gringotes, o grande banco dos bruxos. Onde íamos converter o dinheiro trouxa para o dinheiro bruxo.
Trocamos o equivalente a sessenta e três galeões (mais ou menos R$1220,00 no dinheiro trouxa em real). Jackson ficou encarando os duendes lá dentro mas até que se comportou bem.
Primeiro passamos na Olivaras, que por sinal estava reformada e com novos funcionários.
A loja estava com as paredes pintadas de branco e sem poeira. Um pequeno sino soou com a nossa entrada.
- Uauu! - Jackson disse olhando todas aquelas caixas de varinhas.
- Posso ajudar? - Um senhor de aparência desgastada nos atendeu.
- Meu sobrinho veio comprar a varinha dele. O que você indica?
- Oh, teste algumas! - O senhor respondeu pegando algumas caixas. Típico da loja. As fofocas dizem que eles oferecem as mais caras por último.
- Nossa, gostei dessa tio. - Ele disse me cutucando e apontando para uma varinha de cor avermelhada com um cabo exagerado.
- Sério? - Eu achei horrorosa. - Hm, testa ai.
- Testar como?
- Tenta fazer alguma coisa, a primeira varinha que responder a gente leva.
- Ta.
Jackson começou a balançar a varinha e falar esteriótipos trouxas como Abracadabra ou Alakazan. Nada aconteceu.
- Acho que não é essa. - Falei comemorando internamente, pois a varinha era podre de feia.
Jackson testou varias até que pegou uma de 25cm, Azevinho com pelo de calda de unicórnio. Nove galeões.
- Veja! - Ele apontou para a ponta da varinha.
Havia uma pequenina esfera de luz.
- Vamos levar!

Depois disso compramos as vestes básicas de Jackson e ajustamos as minhas. Comprei um cachecol extra pra mim. Disseram que esse ano vai fazer muito frio. Compramos também alguns outros materiais, caldeirão, frascos e outras coisas.
- Já estamos acabando? - Jackson perguntou.
- Só faltam os livros. Por que? Já tá muito cansado?
- Não. É porque eu não quero ir embora.
Eu soltei uma gargalhada e esfreguei o cabelo dele e ele respondeu com um sorriso.
Fomos para a Floreios e Borrões comprarmos os livros.
- Hogwarts? Que ano? - O vendedor bruxo já nos abordou na porta.
- Sexto e Primeiro.
- Só um minutinho. - Ele foi nos fundos pegar tudo.
- Jackson, espere aqui, vou alí pegar cerveja amanteigada pra gente.
- Cerveja?
- Calma, você vai ver. Não tem nada haver com a cerveja trouxa tirando a aparência, é muito bom.
Fui até o outro lado da Rua e peguei três copos.
- Aqui o seu. - Eu disse ja tomando e ficando com um bigode de espuma.
Ele exitou em tomar mas pareceu amar depois do primeiro gole.
- Prontinho. - O vendedor disse trazendo uma grande pilha de livros.
Pagamos e fomos para o caldeirão furado novamente. Me dei de cara com Victor discutindo com um senhor na mesa.
- Vamos embora Victor!
- Eu ainda te encontro! - Ele gritou para o senhor.
Entramos no carro e fomos seguindo para casa.
No meio do caminho Jake solta uma:
- Tio Victor. Eu e o tio Rick tomamos cerveja hoje sabia? É super bom.
- O que?! - Ele deu um grito e eu olhei nervoso para Jackson.
- E não trouxeram pra mim? - Victor completou rindo.
- Sim, eu trouxe. - Falei entregando o copo fechado para ele.
- Até que você é inteligente Richard. - Ela abriu com uma das mãos e deu um gole.
- Argh! O que é isso? Milkshake?
- Você realmente achou que nós tomariamos cerveja trouxa?
- Ué, é tão bom. Por que não?
- Você é inacreditável Victor. Inacreditável...

Sapo de ChocolateWhere stories live. Discover now