Blue | Matt Smith

ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ 2

Quando o relógio bate às cinco da manhã, Blue salta para fora da cama. Ela caminha até o banheiro onde escova seus dentes e toma um banho, molha o cabelo ficando ali debaixo da água fria por longos minutos. Depois ela enrola o cabelo loiro em uma toalha e sai. Ela observa seu closet, suspirando e pegando suas usuais roupas que se resumem a um jeans preto, um top preto e uma jaqueta jeans, completa a roupa com um tênis branco e senta-se na penteadeira. Vendo o reflexo de seu rosto no espelho, inchado graças às horas que passou chorando, ela suspira e pega sua bolsa de maquiagem, tentando disfarçar as olheiras e passando um pouco de blush nas bochechas. Ela dá de ombros vendo que aquilo seria o melhor que conseguiria fazer e sai do closet, pegando sua mochila e indo para a área externa da casa.

Uma Mercedes preta está estacionada e um homem de terno abre a porta para que ela entre no banco de trás. O motorista parte imediatamente e para em frente a escola cerca de uma hora depois. O mesmo homem abre a porta e Blue repara nos olhares em sua direção, desejando poder enfiar sua cabeça dentro da terra.

Blue não é popular, não é a garota mais cobiçada da escola e também não é líder de torcida, mas também não é nenhuma nerd excluída. Ela é sim cobiçada por vários garotos, ninguém neste universo poderia falar que Blue é feia. A garota é dona de um cabelo platinado ondulado que vai até abaixo de seus ombros, tinha algumas sardas espalhadas pelo nariz, lábios carnudos e olhos azuis, daí a origem de seu nome. Blue sabe que chama a atenção, mas gosta de evitar, ainda mais depois da morte de sua mãe, quando seu pai começou a beber com mais frequência. Agora todos a conheciam graças aos tumultos que seu pai causava, portanto Blue, que já gostava de evitar ser o centro das atenções, se viu cada vez mais desejando não ter os olhares sobre si o tempo inteiro.

Ela caminha envergonhada até a quadra da escola, já que teria algum tempo até as aulas começarem. Ela vê que um homem a segue e conclui que aquele seria seu segurança particular. A garota suspira irritada vendo seus amigos a aguardando. Blue tem um pequeno círculo de amigos que se resume a três pessoas, são elas Amélia, Adam e Thomas, mas ele só estava ali porque era o namorado do Adam. Eles são boas pessoas, ajudavam Blue com qualquer coisa que a loira precisasse e a qualquer momento, eles são os melhores amigos que ela poderia ter e os únicos que sabem a respeito do seu casamento. Blue é recepcionada por um forte abraço de Amélia ao chegar.

Estar rodeada daqueles três é o lugar de paz para a loira. Ali ela sente-se como uma garota normal de dezoito anos, livre das obrigações com seu pai, livre da tristeza que está impregnada nas paredes de sua casa, da humilhação de precisar ir buscar seu pai em casas de apostas, de ouvir os insultos que ele falava quando estava bêbado. Ali ela pode rir, chorar, brincar ou simplesmente ficar calada. Eles são a família dela, mesmo que eles não tenham ciência disso, todos os dias eles a salvam de alguma forma diferente e Blue talvez nunca fosse capaz de encontrar um meio de agradecer a eles por aquilo.

— Como você está? — Amélia pergunta.

Amélia é um ano mais velha, havia reprovado alguns anos. Ela é ruiva e tem um rosto redondo com sardas, olhos verdes e é alta, bem mais alta que todos ali. Ela é a pessoa que Blue mais ama em toda a sua vida. A garota já havia feito por Blue muito mais que qualquer outra pessoa e Blue sabe que ela faria muito mais.

— Estou bem — Blue responde, abraçando a amiga novamente.

— Ele fez alguma coisa com você? — Amélia pergunta, Blue nega com a cabeça.

Amélia a solta e Blue é cercada pelos outros garotos. Ela senta-se no banco onde eles estão e despeja os acontecimentos da noite anterior. Surpreende-se por não chorar enquanto relata a cerimônia de casamento, os seguranças armados, a casa fora da cidade, mas conta que está aliviada por seu marido, aquela palavra ainda era estranha de ser dita em voz alta, não ter trocado nenhuma palavra com ela em nenhum momento. Todos concordam.