Capítulo 2

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     Zack

Estava bom demais para ser verdade, eu tinha conseguido finalmente um espaço para trabalhar e uma casa perfeita, mas a vida já me mostrou diversas vezes que nada é como queremos, no meu caso então, é sempre ao contrário, aquela mulher no terraço que idealizei para horas de relaxamento e silêncio estragou tudo. Incansavelmente irritante e egocêntrica.

Ela é linda e assim que a vi com aquelas espadas formando um X nas costas, com aquele andar elegante, postura de rainha, queixo erguido, eu tenho que admitir que fiquei tonto, só queria amolar minha faca de estimação, pensar na vida e apreciar o silêncio e então surge aquela aparição que me fez pensar ter saído de um filme de ação desses de herói. Um instante e ela me tirou do sério, acabou com a minha paz.

O que ela estava pensando? Achou mesmo que podia me assustar só porque andava com aquelas espadas nas costas. Onde ela achou que estava?

Agora somos vizinhos, não. Somos muito mais do que isso, praticamente moramos juntos, parede com parede e dividindo a mesma área externa, o terraço e o pequeno espaço nos fundos, portas coladas.

Paul não me disse nada disso quando me alugou o espaço, disse apenas que sua academia de artes marciais funcionava ao lado, não sabia que tinha uma moradora no lugar, nunca teria fechado negócio se soubesse.

Mulher arrogante e estranha, muito estranha, no café descobri que ela frequenta o mesmo lugar que eu, o que não quer dizer muito em uma cidade tão pequena, a diferença é que faz isso há anos e não fala com ninguém. Mesmo eu que sempre fui fechado sei ao menos cumprimentar um ou outro vizinho, ser educado com a garçonete que me serve, ela parece uma pedra de gelo.

Chego em casa de noite e quando paro a moto na frente da loja ela está no meio da calçada, parece preocupada, fico pensando se está em apuros, se precisa de algo, enrolo um pouco para entrar me decidindo se enfrento a fera e ofereço ajuda ou se ignoro e deixo que se ferre como ela parece merecer.

Então um garotão chega correndo, tudo fica logo claro quando ele começa a se explicar, ela estava a espera do namorado e parecia algo entre brava e preocupada, acho que ela sempre vai parecer assim.

O garoto é muito mais novo que ela, deve até ser crime namorar alguém tão jovem, mas não é da minha conta.

Estava decidido a entrar e deixar o casalzinho em paz, mas o garoto puxa conversa, se apresenta, diz finalmente o nome dela. Abby Coleman, o nome me parece familiar, como se não fosse a primeira vez que ouço, ela segue para dentro e deixa o garoto muito disposto a conversar.

— Um dia posso vir assistir um pouco seu trabalho? – Ele me pergunta cheio da curiosidade adolescente.

— Pode. – Dou de ombros.

— Legal. E vai ser o vizinho da X.

— X?

— A Abby, é por causa das espadas em X, quando ela treina ela...

— Já vi. – Eu o corto impaciente. – Sua namorada e eu nos encontramos no telhado ontem.

— Sério? Ela não me disse... Ainda... Mas espere, ela não é minha namorada, somos amigos, a X é muito velha para mim, tenho dezoito anos, ela tem vinte e cinco. – Ele parece realmente chocado e ri da ideia.

Então não são namorados, não tenho nada com isso, ela pode fazer o que quiser, não me importo. Nunca vou me importar com aquela arrogante metida a dona do mundo, mas é bom saber que ao menos não está por aí seduzindo adolescentes.

Corações Quebrados DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now