Conto: Dia dos Namorados

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n/a: Pessoal, escrevi esse mini-conto só pra comemorar a data relembrando esse casal mais lindo <3 Espero que gostem!


Eu estava tão, tão cansada. O final do semestre estava exigindo tudo de mim, entre trabalhos infinitos, artigos extensos e reunião atrás de reunião com o patrocinador do meu blog sobre uma eventual publicação.

Eu não sabia se tinha espaço em mim, em meio a todo o cansaço, para ficar feliz com aquilo.

Ter um livro publicado seria um sonho, é claro... Mas também significaria viajar todo o país para uma série de eventos e feiras que eu... Eu não podia lidar no momento.

Minha irmã mais velha, Sarah, tinha acabado de dar à luz ao meu lindo sobrinho, Thiago. Minha mãe tinha arranjado um novo namorado em crise de meia idade, que insistia em levá-la para passeios em motos gigantescas que não pareciam nada seguras. E Theo estava cada dia mais rabugento, dizendo que eu não estava dando atenção a ele ou ao Whisky como deveria.

Sair da cidade era definitivamente a única coisa que eu não ia poder fazer no momento.

E eu também nem tinha tempo para me preocupar com aquilo. Tinha tanta coisa pra fazer que nem sabia que dia do mês era. Qual era o meu nome. Onde eu morava.

Tudo bem, eu tenho uma veia de Drama Queen ou duas.

Ainda bem que finalmente era sexta-feira e um bom banho quente ia me fazer relaxar um pouco que fosse.

Juntei todas as minhas coisas que estavam espalhadas na mesa da biblioteca e tomei meu rumo para a saída do prédio, sonhando com uma roupa quente, uma caneca de cappuccino e um bom livro.

-         Psiu. - já estava no final da tarde e nenhum dos alunos ficava na faculdade até aquele horário em véspera de final de semana, o que só podia significar que era comigo. Virei a cabeça e encontrei um bonito rapaz de um metro e noventa, cabelos castanhos bagunçados e expressivos olhos amendoados. Seu sorriso era tão branco e tão sincero que as minhas pernas amoleceram sem permissão.

Senhoras e senhores: Meu namorado, Theo Versolati.

-         O que você tá fazendo aqui a essa hora?

-         Eu vim te buscar, anjo. Não é óbvio? - acho que fiz minha cara de perdida que ele insistia em dizer que me fazia parecer um filhote de coala, pois Theo me puxou para seu abraço quente e aconchegante como se precisasse daquilo. - Eu tenho uma surpresa pra você.

-         Amor, será que a gente não pode só ficar quietinhos hoje? Eu to muito cansada, de verdade.

-         Ah, então é melhor deixar pra lá... - ele olhou pra baixo em um tom tão desesperadamente falso de tristeza que eu ri por dentro, pegando-o na mentira.

-         Onde você queria ir?

-         Um lugar aí...

-         Theo... Três anos juntos. - constatei, ressaltando que ele não me enganava. - O que você tá aprontando?

-         Vai calar essa boca gigante de curiosa e me deixar fazer o que eu quero? - suspirei, revirando os olhos.

-         Vou.

-         Então tá. - ele se abaixou muito rapidamente para que eu pudesse ter qualquer reflexo e me pegou no colo. Dei uma esperneada básica, apenas porque senão não seria eu, e ele caminhou comigo igual noiva pelo quarteirão que nos separava de seu apartamento. Subiu o elevador me fazendo cócegas suaves com as pontas dos dedos e eu me contorcia, sem saber onde ele queria chegar.

Até que ele abriu a porta.

O lugar estava coberto de velas. Eram muitas delas, espalhadas por todos os cantos. No centro da sala, sob o tapete felpudo, estavam duas taças de vinho branco e uma travessa cheia de torradas com tomate, manjericão e azeite, do jeitinho que eu gostava de comer.

Uma música suave tocava nos amplificadores do Home Theater e eu me virei pra ele com a testa enrugada e o coração na mão.

-         Xiu. - ele advertiu, antes que eu abrisse a boca. - Eu ainda não permiti o monstrinho das perguntas incessantes dar as caras. - sorri quieta e acenei.

Ele me conduziu pela mão até a comida e me colocou sentada como uma boneca. Estendeu uma taça a mim e pegou com os dedos uma das bruschetas para me dar na boca. Mordi com gosto, sentindo o molho ameaçar escorrer pelo canto do meu lábio.

Mas Theo rapidamente beijou a região, impedindo a gotinha danada de se aventurar pelo meu queixo. Deixou mais alguns beijos pelo meu maxilar e pescoço e eu já sentia todo o meu corpo ceder aos seus encantos naturais enquanto terminava de mastigar.

Virei-me para beijá-lo e ele se afastou com cara de quem ainda não acabou de aprontar. Ia abrir a boca de novo pra questionar quais eram os planos e ele gesticulou que continuava não sendo a hora.

Puxou uma pasta grossa que eu não tinha percebido estar na estante e a segurou entre as mãos fortes me olhando em expectativa. Tenho certeza que implorei com o olhar que ele me dissesse o que tinha ali, mas ele apenas sorriu de canto e a estendeu para mim.

Abri o elástico tão rápido quanto minhas mãos de passarinho permitiam.

A primeira coisa que me chamou atenção foi o título de um maço de papeis grampeados. Dizia "Contrato de Cessão de Direitos Autorais" com o logo da editora do meu patrocinador em cima. Eu sabia o que aquilo significava.

-         Meu livro vai ser publicado? - perguntei, afobada. Ele fez cara de desagrado por eu ter falado, sendo apenas implicante, mas acenou em concordância. Sorri bem aberto, em dando conta de que sim, aquilo tinha me deixado muito feliz.

Continuei minha investigação achando um outro envelopinho fechado. Ele era vermelho e retangular e eu logo puxei ele dali para saber o que tinha dentro.

Eram passagens de avião. Duas, para ser mais exata. Para o Rio de Janeiro em Setembro.

-         Theo...?

-         A Bienal esse ano é lá. Eu vou com você. - arregalei os olhos, emocionada. Como assim...? - Já conversei com a sua mãe e com a Sarah e elas vão se comportar enquanto estivermos lá. Vão cuidar do Whisky também, ou ele delas, como quiser. - eu não tinha palavras. Então resolvi ver o que mais tinha na pasta.

Achei um saquinho escondido no canto. Ele era preto, de veludo, e estava amarrado por uma bonita fita vermelha. Não era maior do que a palma da minha mão.

Desfiz o laço sem muita delicadeza e virei o conteúdo dele no tapete.

Duas alianças prateadas reluziram a luz das velas. Uma grande e a outra bem pequena. Gravadas com o meu nome e o dele, respectivamente. E a data... Era 23 de Setembro.

-         É um anel de compromisso. Pro mundo saber que você é minha... Meu anjo. - ele explicou e agora sim eu sentia as lágrimas virem muito rapidamente ocupar meus olhos.

-         Theo...! - eu me lancei em cima dele, derrubando o vinho no processo. Não interessava. Minha vontade e beijá-lo naquele momento era muito maior do que tudo ao meu redor.

Ele tinha um gosto familiar e maravilhoso que eu não trocaria nem pelo mais divino dos chocolates. Movia seus lábios contra os meus daquele jeito perfeito que tirava meus pés do chão e desanuviava qualquer pensamento.

Ele se afastou apenas o suficiente para pegar a minha mão e passar o anel pelo dedo certo, fazendo o mesmo consigo. Sorriu terno e beijou as minhas lágrimas, sussurrando contra o meu ouvido:

-         Feliz dia dos namorados, meu amor. Eu vou te amar para sempre.

Não preciso dizer que era recíproco, mesmo que eu não tivesse me dado conta da data.

E nem que ele cumpriu aquela promessa.

Todos os dias das nossas vidas.

[Degustação] 10 Aulas de SeduçãoWhere stories live. Discover now