ᨒ Capítulo 3

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             Sinto vontade de alterar a rota para casa, mas outra paranóia predomina por cima desta, a de que estou sendo monitorada. Checo outra vez o espelho retrovisor e novamente não percebo nenhum veículo suspeito. Se o doutor Lúcio quisesse me segurar no consultório, ele o teria feito quando me viu deixando o prédio. Será que ele sabe que eu o reconheci? Talvez tenha acreditado que realmente estou menstruada e que senti necessidade de retornar para casa.

Me prendo a essa ideia.

O gps me acompanha pelas ruas que já conheço de cor. Imagino que o dr. Lúcio está sentado na cadeira da dra. Russell acompanhando de alguma forma, apesar de que tal função não seria responsabilidade sua.

Sinto um grande alívio quando finalmente passo pelo portão de casa. Desligo o carro, ligo o alarme e entro.

— Rosa, acenda as luzes, por favor.

— Luzes acesas. Seja bem-vinda, senhorita, Hannah.

Tiro a roupa enquanto caminho até o banheiro. Olho-me no espelho e percebo o quão assustada pareço estar. Essa semana me deu pequenas olheiras e meu cabelo precisa ver um pente e shampoo urgentemente.

— Rosa? — Ligo a torneira da pia e lavo o rosto com sabão líquido, removendo o rímel, o corretivo e o gloss.

— Sim, senhorita. — A sua voz robótica e feminina tão normal quanto a minha humana ressoa no banheiro.

— Faça um resumo dos remetentes das minhas mensagens e e-mail, por favor.

— Certo, senhorita Hannah. Por ordem de chegada, há uma mensagem do conselho escolar enviado pela sua supervisora de estágio, uma mensagem da secretária da senhora Russell, um email do Oliver e três SMS dele.

Estou prestes a pedir que ela as leia para mim quando o celular toca. Tiro o resto do sabão do corpo e procuro o celular no bolso da calça. É a mãe de Alex. Em seguida uma mensagem de texto sem número surge na tela:

"Acho que tem alguém em minha casa.
- May. " | Criptografado

Visto a mesma calça e puxo a blusa de cima do sofá.

— Rosa, onde está a minha chave?

— No encosto do sofá, senhora.

Retorno para pegá-las e com as chaves em mãos parto com destino a casa da sra. May. Efetuou várias ligações durante o caminho e todas elas chamam até cair na caixa postal. Observo rapidamente o lado norte, meu bairro, com os seus predinhos ficarem para trás, e de cores distintas e modelos padronizados as casas do lado oeste surgem me abraçando à medida que entro cada vez mais no bairro.

Pego a rua paralela com a principal, as luzes brancas nos postes são acompanhadas por árvores a cada dois metros uma da outra. Já é noite e dirigindo o carro procuro algum sinal das pessoas, dos guardas ou de algum burburinho que a sra. May tenha causado por conta do invasor. Me pergunto se ele ainda está dentro de sua casa, se fez alguma coisa com ela e se eu deveria ter pedido por ajuda.

Manobro em frente a casa da sra. May fazendo os faróis atravessarem de um lado a outro da varanda. Antes que eu pudesse me recriminar por não tê-los apagado, vejo como um vulto, uma sombra se movendo com rapidez no telhado, então salta para o muro e com toda facilidade pula para o próximo telhado.

Após os segundos de estupor, com a arma empunhada, entro na casa. Chamo a sra. May, que surge descendo as escadas.

— Hannah!

— Senhora May, está tudo bem?

Ela corre para as janelas.

— Está tudo bem com a senhora? — pergunto novamente. — Viu se tinha mais alguém aqui?

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⏰ Last updated: Oct 25, 2023 ⏰

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