5

5 3 0
                                    

🍹5🍹

一Seria isso obra divina de Deus? - Escorada na varanda de casa, soltando fumaça com o cabelo preso e pijama, minha mãe sorria para mim. - Com nome, e sobrenome, eu suspeito. Voltou com aquele guria?

一Não! - Eu gritei de longe, pois estava no pátio botando alguns lençóis para secar e batendo a poeira do meu tapete de veludo cinza.

一É a tal de Maria Clara? - Mamãe estreitou os olhos de oceano dela, sem nenhum tipo de maquiagem porque ainda era de manhã. Sim, eu havia falado de Maria Clara pra ela, em uma conversa despretensiosa porque minha mãe era uma ótima amiga além de ótima mãe.

一Não! - Eu gritei de novo. - É Marta! Ela precisa estudar pra matemática, e vai colar aqui hoje.

一Vocês não estudam na escola?

一Nem sempre a gente tem tempo na aula! E ela tem muita dificuldade.

Não era porque ela era uma boa mãe e que a gente tinha conversas fáceis que eu não mentia pra ela de vez em quando. Quer dizer, eu não mentiria se ela não fosse tão dramática. Desde que a mãe de Nezumi arrancou metade do megahair dela e ganhou uma briga na base da unhada ela nem chegava perto da casa dos Nakamura, e não me deixava chegar perto também. Ela dizia que se sentia humilhada, o que fazia sentido porque eu também teria meu orgulho machucado se uma mulher de um metro e meio me fizesse sair correndo de um mercado sem um sapato sem parte do cabelo e todo arranhado. Mas ela era exagerada demais, quando descobriu que eu e Nezumi estudávamos na mesma escola ficou semanas braba comigo como se eu tivesse culpa. Imagina se ela soubesse que não bastava isso eu ainda ia pra praça ficar aos beijos com ele. Imagina se ela soubesse que não bastava isso, mas o motivo de meu quarto ser um poço de podridão e eu ser um viciado de 17 anos anêmico, depressivo e doente fosse porque eu me arrependia profundamente de ter escolhido outra pessoa no lugar dele. Não que ela gostasse de Marina, odiava ela também, mas não odiava a mãe de Marina (um pouco) e não se sentia humilhada ou nada do tipo.

Imagina se ela soubesse então que não era Marta, mas sim ele que iria pra casa aquela tarde.

一Entendi. - Ela apagou o cigarro no cinzeiro da janela e voltou para dentro.

Enquanto minha mãe se arrumava eu arredei minha cama, varri, passei pano, troquei os lençóis, peguei qualquer indício de ser um doente e joguei fora, escondi as garrafas, os cigarros e outras coisas. Limpei a mesa do computador, minha estante. Não me preocupei com meu guarda roupa porque não tinha quase nada nele. Lavei meu banheiro, tirei as manchas que um dia foram vermelhas da pia, do chão, do vaso, e do chuveiro. Passei desinfetante em tudo, bom ar, amaciante diluído em água e quando achei que parecia um quarto normal de uma pessoa normal, me senti satisfeito. Tomei banho depois, por um tempo considerável pra tirar todos os cheiros e sujeiras de mim, porque na última tarde, noite e madrugada em que eu tava surtando por causa que Nezumi ia lá em casa eu me afundei tanto, mas tanto que eu parecia um copo de whisky sujo de cinzas ambulante. Lavei o cabelo três vezes, me esfreguei e botei as roupas mais limpas que eu tinha, me arrumei na frente do espelho, passei desodorante, litros de perfume e escovei meu dente como se eu tivesse indo pro dentista. Saí do quarto e dei de cara com minha mãe na cozinha, vestido rosa de manga, lenço envolta do pescoço, meia calça cor de pele e uma bota de cano alto. O cabelo dela estava escovado, o loiro dourado amontoado em ondas no ombro, a maquiagem feita, batom vermelho, delineado, rímel, blush, iluminador. Ela parecia uma modelo de passarela, uma atriz, uma deusa.

一Uau. - A gente disse ao mesmo tempo.

Eu sempre dizia uau quando via minha mãe arrumada, mas ela não me dizia uau desde a formatura do nono ano.

Pink LimonadeWhere stories live. Discover now