#Capítulo 01

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"Glioblastoma Multiforme: inoperável". Aquelas palavras ecoavam em sua mente e pareciam estampadas em seus olhos, o que o fazia enxerga-las mesmo quando os fechava.
Christopher Marsen estava irado.
Irado com o médico que lhe dera aquela notícia, irado com os exames, irado com o mundo.
- Tem de haver alguma maneira! - Lembrou-se de exclamar para o médico num misto de desespero e raiva, a segunda que apenas aumentou com o baixar de olhar e o balançar negativo da cabeça do Dr. Flanagan. - Você é o médico, tem que fazer alguma coisa! - Tornou a exclamar com a raiva esvaindo-se em lágrimas.
- Eu sinto muito, senhor Marsen... - Flanagan murmurou hesitante. - Tumores como o seu, nesta localização, são impossíveis de operar. Sinto muito mesmo. - O senhor de meia idade murmurou dando tapinhas no ombro de Christopher que tentava segurar as lágrimas. - Podemos marcar as sessões de rádio o quanto antes e...
- Se não há cura, por que faria rádio? - Chris perguntou ficando sério.
- Ela tornará tudo menos difícil.
- Menos difícil. Claro... - Chris levantou-se e caminhou em direção à porta. - Minha secretária entrará em contato para agendar o que quer que seja. - Disse o homem saindo do consultório com a típica expressão fechada dos Marsen.

Agora, lá estava ele, sentado ao volante de seu carro, com raiva do mundo por tê-lo escolhido para ter aquele maldito Glioblastoma. As lágrimas não mais se continham. Estava tudo perdido para Christopher Marsen, logo naquele momento de sua vida em que aparentemente tudo estava em perfeita harmonia. Um emprego de alto cargo na multinacional da família, uma fortuna para desfrutar como bem entendesse, uma mansão para a qual voltar, e o mais importante, uma esposa que o estaria esperando ao final de cada dia sufocante no escritório. Amelia... Ah, como faria para contar aquilo à Amelia? Amy sofreria tanto...

Chris respirou fundo enquanto limpava os vestígios de lágrimas pelo rosto e olhou-se no espelho antes de ligar o carro novamente e dar a partida. Ele precisava estar como em qualquer outro dia para Amy. Ainda não estava pronto para contar sua dolorosa verdade para a esposa. Não podia simplesmente acabar com a vida pela qual tanto esperara em tão pouco tempo. Não, não contaria nada naquele dia.

Era pouco mais de sete horas da noite quando Christopher estacionou o carro na garagem e com certa relutância saiu do mesmo, respirando fundo e tentando deixar para trás qualquer vestígio do dia ruim que tivera até ali. Pegou sua pasta e caminhou firme e confiante como sempre fazia, abriu a porta da frente e a primeira coisa que ouviu fora o barulho vindo da cozinha. Amy estava cozinhando novamente...

- Chris! - A moça de grandes olhos cor de oliva e cabelos negros ondulados - no momento amarrados por um elástico - exclamou se virando para o recém-chegado que a abraçou por trás. - Chegou cedo, aconteceu alguma coisa? - Questionou virando-se na direção do homem. Geralmente o rapaz só chegava depois das oito por conta de reuniões e papeladas a serem acertadas. Sete horas era um tempo recorde.
Christopher hesitara por um instante com aquela pergunta, mas logo respirou fundo lembrando-se da regra da noite: Deixar aquilo para trás por mais um dia.
- Nada, só a conhecida e velha dor de cabeça. - Ele murmurou voltando a puxar a esposa para si, tentando extrair o máximo de conforto que podia.
- Devia procurar um médico. - Amelia murmurou fazendo careta. - Faz um bom tempo que você está reclamando de dor e elas são constantes, pode ser mau sinal. - Continuou apontando o dedo para Chris, que riu. Mal sabia ela... - Se quiser, posso agendar um dia para você... - Ela disse num tom mais baixo, preocupado.
- Não, tudo bem, peço para Antonieta verificar isso para mim. - Christopher sorriu dando um beijo leve na testa da esposa. - O que você está fazendo aí? - Perguntou mudando de assunto e encarando a panela ao fogo.
- Alguma coisa com leite condensado, limão e creme de leite. - Amy deu de ombros quando viu Chris erguer a sobrancelha. - Quer um pouco? Você está com uma cara horrível, e doce ajuda a combater caras horríveis. - Ela estendeu a colher com a qual mexia a mistura na panela.
- Hmm... Não, obrigado. - Chris fez careta ao recusar. - Eu só quero deitar e ficar abraçado com você o resto da noite, que tal?
Amelia ficara em silêncio por alguns instantes e então sorrira largamente, da forma que Christopher mais adorava.
- Acho a ideia ótima. - Disse dando um beijo na ponta do nariz do marido.

Os dois acabaram adormecendo no quarto. Ao menos Amelia adormecera, já que Christopher não conseguira fechar os olhos por mais de alguns minutos. Encarava o perfil da esposa que agora dormia mais profundamente, a respiração leve e ritmada dela o fazia se acalmar um pouco.

Ele não podia fazê-la sofrer, não podia fazê-la passar por todas as dificuldades e sofrimentos que aquele câncer o submeteria. Não, aquela luta era sua e de mais ninguém. Precisava pensar em alguma maneira...

E às quatro da manhã, depois de horas sem dormir e fingindo que dormia para Amelia não desconfiar de nada, uma ideia finalmente iluminara sua mente. E ele a poria em prática imediatamente.

Marsen [Degustação]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon