Anthony acordara bufando com o barulho de seu celular, era pouco mais de quatro da manhã e o aparelho tocava insistentemente. O rapaz encarou o número no visor e decidiu ignorá-lo naquele instante, mandando a ligação direto para a caixa de mensagens. Só uma pessoa egocêntrica ou muito desesperada faria o favor de ligar às quatro da manhã para alguém, e ele não conhecia ninguém em nenhuma das situações. Ao menos não se lembrava de conhecer e, todavia, a pessoa não ligara outra vez insistindo, deveria ser apenas um engano como sempre era aquela hora da madrugada. Anthony rolara de volta na cama e adormecera novamente em poucos instantes.
"Tony, sou eu, precisamos conversar. Amanhã às onze." Fora tudo o que dissera na mensagem que deixara para Anthony às quatro da manhã. Ele não pudera esperar até o dia amanhecer, precisava fazer alguma coisa imediatamente, antes que a coragem lhe faltasse e fosse substituída pela depressão que ameaçava surgir a qualquer momento.
Chris sabia que não era preciso dizer mais nada para que quem recebera o recado entendesse quem estava falando e onde deveriam se encontrar. Não se falavam muitas vezes, mas havia um único lugar em que os dois se encontravam nas raras vezes que se viam. E Christopher sabia que Anthony iria. Ele nunca deixava de ir.Dois minutos para as onze da manhã. Christopher se encontrava sentado numa das mesas mais afastadas do Café Di Marie, era a mesma mesa que sempre utilizavam nos encontros esporádicos que tinham. Não queriam chamar a atenção de ninguém e aquele ponto era discreto o bastante para fornecer anonimato e deixá-los invisíveis aos olhos de qualquer curioso. Chris olhara para seu relógio de pulso - seu favorito - e logo depois encarou a entrada do Di Marie, sorrindo satisfeito. Se havia uma coisa que devia se orgulhar de Anthony era sua pontualidade.
Onze horas e lá estava Anthony se encaminhando para a mesa rotineira "deles". Com um acenar de cabeça ele puxou a cadeira logo a frente de Chris e se largou sobre a mesma, sem muita cerimônia.
Christopher encarou Anthony Peregrin e o que viu o deixou satisfeito. Tony tinha os cabelos castanhos quase louros um tanto compridos, a barba rala estava por fazer, o mesmo rosto angular que Christopher via todos os dias no espelho se refletiam a sua frente agora. Anthony era sua cópia perfeita. Haviam algumas pequenas diferenças que nem mesmo quem os conhecessem perfeitamente perceberiam se ambos não estivessem lado a lado para serem comparados. Anthony tinha o nariz um pouco mais protuberante do que Chris, resultado das várias brigas que tivera durante a época do colégio. E Christopher era um centímetro mais baixo do que Tony. Mas nada daquilo era perceptível. E perceber aquilo naquele instante fizera Christopher sentir-se aliviado.- E então, o que tem para falar comigo? - O recém-chegado murmurou afundando-se ainda mais na cadeira enquanto passava as mãos pelo rosto, sua expressão era cansada.
- Como vai, irmão? - Christopher murmurou com um pequeno sorriso nos lábios.
- Sem enrolação, Marsen. Diz logo o que quer de mim. - Anthony resmungou com ar entediado.
- Me chama de Marsen como se você não fosse um também. - Chris sibilou com desdém.
- Sabe que deixei de ser um há anos. - Anthony resmunga revirando os olhos como se aquilo fosse óbvio. Após ter saído da casa dos pais, Ant adotara o sobrenome materno. - Dá pra ir direto ao ponto? Preciso estar em outro lugar daqui meia hora.Christopher suspira ouvindo o irmão falar naquele tom grosseiro. Na infância costumavam ser o melhor amigo um do outro. Quando foi que isso havia se perdido? Ele não se lembrava.
- Por que acha que quero alguma coisa de você? - Questionou soando um pouco magoado.
- Chris... - Anthony começara a dizer, mas fora interrompido.
- Estou morrendo, Tony. - Christopher murmurou deixando um sorriso triste estampar seus lábios.Um minuto inteiro de silêncio se passou. Anthony encarava seu irmão mais velho - por apenas alguns minutos de diferença - de forma perplexa, vasculhando a expressão de Chris em busca de algum sinal, qualquer coisa que indicasse que aquilo era apenas uma brincadeira. Doentia e de mau gosto, mas apenas uma brincadeira. Mas nada, nada no rosto triste e abatido do irmão parecia negar o que ele havia acabado de dizer.
- Você não pode estar falando sério... - Ant conseguiu murmurar por fim, ainda descrente.
Christopher apenas deslizou uma folha de papel dobrada que estava sobre a mesa, sob suas mãos, na direção do irmão mais novo. O resultado dos exames que fizera e que trouxera o maior pesadelo para sua vida no dia anterior.
- Mas o que...
- Câncer. No cérebro. - Chris adiantou-se em explicar.
- Mas você...
- Inoperável. - Adiantou-se mais uma vez.Anthony voltara a ficar em silêncio, os olhos de repente distantes e vagos, encarando o nada. Então era isso, seu irmão que por anos não vira, agora estava morrendo...
- Tenho apenas alguns meses. - Chris decidira quebrar o silêncio incômodo. - O médico quer que eu faça rádio. Para tornar as coisas menos difíceis. - Disse a ultima parte com certo desprezo.
- Christopher, eu...
- É por isso que preciso de você. - O mais velho interrompera qualquer coisa que o irmão quisesse lhe dizer. - Preciso que você tome meu lugar. Preciso que se torne Christopher Marsen.O silêncio que caiu sobre aquela mesa ao fundo do Café Di Marie fora desconcertante. Chris encarava o irmão com expressão séria, esperando alguma reação. Os olhos claros de Anthony pareceram ficar num tom escuro e nebuloso enquanto ele absorvia todas as informações que lhe foram jogadas de surpresa. E então ele soltou uma gargalhada breve e se endireitou em sua cadeira de madeira estofada.
- Você só pode estar brincando! - Exclamou em meio a risos que foram cessando a medida em que o rapaz percebia que o homem a sua frente não o acompanhava ou admitia que era apenas uma peça sendo pregada. - Está falando sério?
- Não posso deixar as empresas Marsen neste momento. E não posso deixar minha esposa desamparada. - Disse simplesmente, como se aqueles argumentos fossem o bastante para que qualquer loucura fosse cometida.
- Você enlouqueceu. - Tony concluiu preparando-se para se levantar.
- Eu amo Amelia, Anthony. - Chris sibilou fazendo o irmão parar onde estava para escutar. - Eu a amo tanto que não serei capaz de dizer a verdade e deixa-la infeliz para o resto da minha vida. Eu simplesmente não posso deixar que ela saiba das minhas condições e sofra por isso! - Ele quase gritara a ultima parte, chamando a atenção de alguns clientes do café a sua volta. - Por favor, Tony...O mais novo dos Marsen voltou seu olhar duro e sério para o irmão a sua frente. Anthony se lembrava de Chris ser cheio de vida e entusiasmo, mas agora boa parte disso estava desaparecendo. O Christopher que estava naquele momento a sua frente estava cansado, desesperado... Derrotado.
- Nós não podemos fazer todos felizes a todo momento, Chris. Você devia saber disso... - Murmurou se levantando. - Boa sorte com tudo isso. - Disse por fim e encaminhou-se para a saída do Café.
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Marsen [Degustação]
RomanceLeia o restante em: bit.ly/MarsenAmazon Christopher Marsen tem uma vida perfeita. A empresa multinacional milionária que herdou de sua família está indo de vento à popa e seu casamento com uma esposa perfeita faz com que não deseje nada a mais em su...