PRIMEIRO CAPÍTULO

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Eu sempre gostei de contos de fadas.

O meu filme favorito quando pequena era Cinderela. Eu costumava assisti-lo uma vez ao dia, às vezes até duas, até enlouquecer a minha mãe com a minha cantoria alucinada e desafinada – deve ser por isso que, um belo dia, a fita resolveu "não rodar mais". A minha mãe disse que eu a tinha assistido demais e o filme havia estragado, mas eu nunca vou esquecer os cantos queimados do rolo quando resolvi jogar os restos mortais da minha obsessão no lixo.

Naquela época, eu acreditava que, quando crescesse o suficiente para ser imune aos germes dos garotos, um lindo príncipe encaixaria um sapato de cristal no meu pé e nós viveríamos felizes para sempre em um castelo encantado.

E então eu cresci. E descobri que o príncipe está mais para um garoto arrogante, babaca e que não está muito por dentro da regra ortográfica. E não é exatamente um sapato que ele quer encaixar em você.

Na pré-escola, os garotos me chamavam de "Mônica", porque a minha mãe costumava ser bastante generosa quando o assunto era alimentação, e também porque os meus dentes da frente eram do tamanho de dois absorventes internos. No ensino fundamental, porém, eu tive o estirão do crescimento e perdi o peso sobressalente, mas, em compensação, ganhei muitos centímetros, e o meu apelido carinhosamente se transformou em "girafona" – pelo menos os meus dentes cresceram no mesmo ritmo, e logo todos eram do mesmo tamanho e proporcionais ao resto do meu rosto. Já no Ensino Médio, eu passava a maior parte do meu tempo livre escondida na biblioteca, lendo romances e clássicos, já que a vida real não havia se mostrado o filme de comédia pastelão do Adam Sandler que eu achei que fosse ser.

Apesar dos traumas e dos buracos na minha autoestima, eu ainda acreditava que o príncipe encantado apareceria – ele talvez demorasse um pouco porque havia pego trânsito na Rebouças, ou talvez estivesse perdendo o tempo dele com a duquesa (e não princesa) errada. Achei até que esse príncipe pudesse ser o meu primeiro namorado, com os seus lindos olhos claros e o máximo de lábia que um garoto de 16 anos é capaz de ter, com pérolas como "e aí, gatinha, eu posso colocar a mão embaixo da sua blusa hoje?"

Aconteceu – como era óbvio que aconteceria, já que adolescentes possuem a profundidade emocional de um cotonete – que outras três meninas também acreditaram que ele era o príncipe encantado delas, e haviam recebido as mesmas promessas apaixonadas e os mesmos amassos descoordenados e completamente nojentos atrás do ginásio da escola. Quando eu finalmente fiquei sabendo daquela traição, o meu coração se estilhaçou em mil pedaços, com a força que só o primeiro amor poderia ter. A minha mãe tentava me consolar com filmes de comédia romântica e chocolates caros, mas tudo o que eu queria era agir como uma maluca sem qualquer orgulho ou amor próprio, ligar para ele e convencê-lo de que eu era a melhor dentre as quatro pretendentes. No final, nem eu e nem as outras garotas precisamos passar pela humilhação, já que ele acabou escolhendo, dentre todas as princesas, um príncipe mais velho e instrutor de academia.

Dois anos e alguns quase-príncipes depois, eu conheci o Lucas. Havia acabado de completar 16 anos, e ele apareceu na minha vida como um dia chuvoso no meio do verão – inesperado, mas muito bem-vindo. Nos conhecemos em um churrasco de aniversário, e a nossa conexão foi imediata. Apesar da diferença de 4 anos de idade, ele parecia encantado pelos nossos gostos em comum e a minha facilidade em conversar sobre música e jogos de videogame, mesmo que eu só o estivesse fazendo para impressioná-lo. Ficamos horas e horas conversando e, naquela noite, ele me deu uma carona para casa e me beijou na porta de entrada, digno de um filme romântico de baixo orçamento. Alguns meses depois, estávamos oficialmente namorando – claro que só se tornou oficial quando colocamos "em um relacionamento sério" no Orkut e eu pude, enfim, aceitar todos aqueles depoimentos parados na minha caixa de entrada.

Os 12 Signos de ValentinaWhere stories live. Discover now